Seguem-se sete textos relativos à investigação, constantes do novo site dedicado à Liberação: http://www.air-celebration.org/.
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TEM MEDITAÇÕES NOVAS LÁ NO SITE, DE AGOSTO DE 2014.
1- Investigação de 17 de fevereiro de 2014
O corpo.
Vamos começar a investigação.
Então, o posicionamento, ao nível da investigação é,
ao mesmo tempo, ser o mais leve possível e, ao mesmo tempo, estar bastante
afiado ao nível das ferramentas do mental, para não se deixar adormecer em face
da investigação.
O que é a investigação?
A investigação começa no momento em que se reconhece a
própria ignorância, no momento em que se sabe que «eu nada sei».
Naquele momento, está-se pronto para começar a ir
explorar e a ir para o conhecimento.
Portanto, a investigação é um processo que leva a
passar desse estado de ignorância sobre «quem sou eu», ao conhecimento e à
vivência de «quem sou eu».
Então, vamos proceder, durante a investigação, indo
ver um pouco os preconceitos que se pode ter, as crenças que se tem, nossas
certezas.
Em resumo, quanto mais nossas certezas são fortes,
mais há matéria para a investigação.
O fato de fazer isso em um espaço de meditação é,
principalmente, porque a meditação é focar nossa atenção em um objeto.
Então, há meditações nas quais o objeto está no
exterior, nas quais o objeto é a respiração.
Aí, vamos colocar nossa atenção em um tema de reflexão
e ver o que se abre.
Então, lembre-se disso: a meditação é puxar sua
atenção sobre o objeto da meditação.
E se, a um dado momento, há pensamentos parasitas, se
há uma dor em algum lugar, com suavidade, sem dizer-se «ah, bem, preciso
treinar mais», etc.
Não, deixa-se passar e volta-se no Amor, na suavidade,
sobre o tema da meditação que está aí, a investigação.
Eu esclareço que a investigação faz-se no Amor, no
Amor consigo mesmo, no Amor com tudo o que é observado, ou seja, em momento
algum se vai observar algo, dizendo «eu sei que tal aspecto é o tema de meus
sofrimentos, então, devo suprimi-lo».
Naquele momento, não há investigação, há apenas a
crença de que isso é ruim, portanto, não se pode, mesmo, ir observá-lo.
Portanto, vamos tudo acolher com Amor: tudo o que está
aí, está aí, e tudo o que você é, de toda a Eternidade, está aí.
Portanto, acolhendo tudo o que está aí, forçosamente,
você se acolhe.
Então, vamos começar por algo, por um tema mais
simples, em todo caso, para aqueles que já começaram a procurar quem eles eram.
Mas é preciso um ponto de partida, e qual é a partida
de minha identidade atual, se eu creio que estou colocado nesse corpo, se eu
creio que sou uma pessoa?
O que eu lhes proponho é partir do que nossa sociedade
define como nossa identidade.
A identidade, por definição do dicionário, é o caráter
permanente e fundamental de alguém.
Então, houve pesquisas importantes, em nossa
sociedade, que levaram a definir a identidade de uma pessoa, e isso se chama
uma carteira de identidade.
Nessa carteira de identidade encontra-se o nome.
E pode-se rir disso, mas a primeira coisa que se faz
quando se conhece alguém é: «eu sou David», «eu sou Michel».
Portanto, a cada vez que se faz isso, adere-se,
forçosamente, ao fato de que eu sou esse nome.
Na carteira de identidade há, igualmente, nossa data
de nascimento, se se é do sexo masculino e feminino...
E há a nacionalidade e o tamanho, igualmente.
Então, eu lhes proponho começar pela nacionalidade.
Por quê?
Porque, forçosamente, há uma parte de nós, quando já
se viveu certo número de realizações, que sabe que não se é francês, que não se
é espanhol, que não se é europeu.
E, no entanto, há uma parte de nós que continua a
aderir a isso.
Se eu continuo a aderir à existência de alguém no
interior do corpo, se eu continuo a aderir, de certa maneira, à sociedade na
qual eu vivo, então, eu adiro, de certa maneira, à nacionalidade.
Ainda que fosse apenas o fato de sentir-se mais
concernido pelas atualidades de seu país, por exemplo, o fato de sentir-se mais
concernido quando acontece um drama, por exemplo, um acidente de avião, se há
apenas habitantes do outro extremo do globo, eu não me sinto concernido da
mesma maneira do que se há apenas franceses, espanhóis...
Então, tente ver, em si, em qual lugar você adere à
nacionalidade.
Ainda que apenas o fato de ir a um país estrangeiro.
Quando se vai a um país estrangeiro e que se
apresenta, frequentemente, acrescenta-se: «eu me chamo David, eu sou francês».
É uma das primeiras coisas que é acrescentada.
Portanto, pode-se, já, observar algo: é que, se você
encontrou o lugar onde se sente concernido pelo fato de ser francês, ou
qualquer que seja sua nacionalidade, quando você é concernido por sua
nacionalidade, e se você encontra outro lugar no qual você se diz: «Eu sei
muito bem que não sou francês», então, você observa uma das primeiras
características do mental: é que o mental é capaz de aceitar tudo e seu
contrário, quase ao mesmo tempo.
E isso é algo de muito, muito importante, porque é aí
que se apoia a personalidade, para afastá-lo do tema da investigação.
Ser capaz da maior incoerência, como crer-se de um
país e, no minuto seguinte, dizer: «Eu sei que nada tenho a ver com esse país».
Então, pode-se, agora, ir um pouco mais profundamente
nessa questão: «Eu sou de uma nacionalidade?».
E, aí, é preciso observar o que faz com que se defina
uma nacionalidade.
Há uma grande quantidade de elementos históricos que
definiram fronteiras em um lugar.
Por vezes, eu sou de uma nacionalidade, enquanto,
cinquenta anos antes, tendo nascido nas mesmas condições, eu teria sido de
outra nacionalidade.
Por vezes, posso ter nascido em um país, por exemplo,
na França, ser de nacionalidade francesa; os pais mudaram-se para outro país,
em outra região do mundo, e vou passar minha infância na Ásia, na África, e eu
me sinto, naquele momento, por exemplo, mais ligado à África.
Então se vê, efetivamente, que a nacionalidade, o
pertencimento a um país depende, ao mesmo tempo, da história da região na qual
eu nasci e, também, da história familiar, ou seja, que eu posso ter nascido em
um país que não é o país de origem de meus pais, e eu me encontro, por exemplo,
com dupla nacionalidade.
Então, aí, dá-se conta, também, de que a nacionalidade
vem, simplesmente, tentar definir-me a partir de uma zona geográfica, mas com
critérios que são extremamente vagos, porque eu não sei se sou dessa nação,
porque nasci nesse solo, ou porque meus pais são dessa nacionalidade, ou porque
eu deixei meu país e obtive uma nova nacionalidade.
Em suma, a nacionalidade pertence à construção
cultural desse mundo.
E, finalmente, observando atentamente, não se consegue
encontrar-se em lugar algum.
Então, esse é um exemplo bastante simples.
Vamos, agora, passar a outro elemento da carteira de
identidade, que é a data de nascimento: «Eu nasci em tal dia, em tal lugar».
É uma noção fundamental, porque isso significa que, se
nasci em tal dia, eu nasci.
Se eu nasci, isso significa, primeiro, que,
forçosamente, eu vou morrer, porque o que nasceu, ou seja, esse corpo, tem uma
saída perfeitamente conhecida, que se chama a morte.
E aí se vê, também, uma incoerência bastante
frequente, que é: eu sei que nasci, eu vivo como se tivesse nascido, como se eu
fosse esse corpo, ainda que apenas querendo mantê-lo em segurança e, ao mesmo
tempo, eu creio, por exemplo, que vou continuar a viver após a morte, ou eu
creio na reencarnação.
Então, aí, vê-se como nosso mental, eu repito, é capaz
de uma incoerência enorme.
Ao mesmo tempo, fazer-nos aderir ao fato de que somos
esse corpo, ao mesmo tempo, fazer-nos aderir ao fato de que somos outra coisa
que não esse corpo.
E isso é realizado há anos, diante de nossos olhos,
sem que se tenha podido dizer, a um dado momento, ao nosso mental: «Aí, há algo
que não vai, há algo que não é lógico».
Ora, vocês todos sabem que o mental ama a lógica.
Então, eu sou esse corpo?
Se eu sou esse corpo estou, forçosamente, colocado
dentro, ou na superfície, enfim, em algum lugar nesse corpo.
E aí, pode-se Investigar de diferentes maneiras.
Primeiro, olhando: eu estou, por exemplo, em algum
lugar nas pernas, nos pés?
E aí, vamos dizer: obviamente que não!
Quando uma pessoa perde um membro, seja uma perna, um
braço, diz-se: «ela perdeu um braço», não se diz «ela se perdeu» ou «ela não
está mais».
E, no interior, a pessoa que vive a perda de um membro
tem a sensação de que lhe falta um membro, mas não tem a sensação que se tenha
tocado em sua essência.
E é a mesma coisa ao nível de cada órgão do corpo
porque, hoje, a medicina é capaz de trocar não importa qual órgão, sem que a
pessoa que sofre essa operação tenha o sentimento de não mais ser a mesma.
E isso é, igualmente, verdadeiro ao nível do cérebro
no qual, em alguns momentos, pode-se intervir no cérebro devido a um tumor.
Portanto, se se olha – tendo observado tudo isso – no
interior desse corpo, você não pode ver, em um único lugar, a presença do que
você é.
Absolutamente, nada há...
Eu os deixo saborear um pouco esse vazio no
interior...
Poder-se-ia dizer que é um momento de repouso na investigação,
um momento no qual se pode colocar, antes de reiniciar.
É uma noção fundamental, na investigação: saber
respirar durante a investigação, saber, também, parar a investigação durante um
momento, quando se é mais capaz de manter a atenção.
E eu lhes proponho, igualmente, olhar o corpo sob
outro ângulo.
Se o que eu sou (vimos que eu não era esse corpo, mas
retornemos à hipótese, novamente, de que, talvez, eu tenha perdido algo ao
nível da pesquisa, e retornemos a visitar de outro modo), se eu sou esse corpo,
então, o que é que eu posso fazer, o que é que acontece quando, por exemplo, eu
como uma maçã?
Uma vez que, aí, quando eu olho, antes de comer, eu
sou esse corpo, nessa integralidade, eu acrescento um alimento no interior, que
integra o corpo.
Será que esse alimento mudou minha natureza profunda?
Porque esse alimento vai espalhar-se no conjunto do corpo,
de diferentes maneiras...
Será que minha natureza profunda muda, a cada ingestão
de alimento?
Será que eu perco uma parte de minha natureza
profunda, a cada vez que eu vou ao banheiro?
O que era uma parte do corpo, a um dado momento, não
faz mais parte dele.
Será que isso mudou algo?
O ar que eu inspiro e o ar que eu expiro mudam minha
natureza?
Porque o ar que eu inspiro passa, igualmente, no
conjunto de células, e integra o corpo.
Pode-se olhar as coisas ao nível da pele.
A pele é o que define o limite de meu corpo.
Ora, a cada instante, uma parte da pele, na
superfície, morre e desprende-se do corpo.
Quando eu me lavo, eu faço sair esses elementos de
pele.
Então, o que definia o limite do corpo na véspera, não
faz mais parte do corpo.
E vocês sabem que é assim para o conjunto de células: tudo
se regenera, permanentemente, no corpo; os órgãos, tal como eles são, hoje, são
renovados, a cada instante, até não mais serem compostos das mesmas células –
em função de cada membro – que há uma semana, vários meses, vários anos.
No entanto, algo, o que eu sou, não muda.
Aí também, o que eu sou mostra que não pode ser
colocado em qualquer parte do corpo que seja, pois cada parte do corpo
desaparece, regularmente.
Agora que isso é observado, em função de sua vivência,
aparece a certeza, ou não, de que você não é esse corpo.
Seja o que for, assim que você esteja na vivência de
que você não é esse corpo, ou que você esteja, ainda, na interrogação, reproduza,
agora, onde você está nisso: eu não sou esse corpo, ou eu parei isso em tal
lugar da investigação, ou eu não sei mais, verdadeiramente, onde eu estou nisso.
E, agora, interrompemos a investigação.
Agora, saímos, simplesmente, desse espaço, com a
vivência do que ali aconteceu, e tudo volta à vida.
Não se permanece na questão, de maneira superficial.
Se, a um dado momento, você quiser voltar a essa
questão, por si mesmo, tome um tempo sozinho, onde quer que você encontre o
tempo para continuar a investigação.
Guiado por Air
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2- Investigação de 18 de fevereiro de 2014
Os sonhos, a consciência.
Antes de continuar a investigação, vamos, já,
colocar-nos no interior do corpo, por exemplo, ao nível do Coração.
Vamos tomar um pequeno tempo para observar um pouco o
que está vivo no corpo.
Então, ontem, pudemos investigar acerca da questão: «Eu
estou nesse corpo? Eu sou esse corpo?».
Hoje, vamos investigar, partindo dos sonhos.
Se se toma um sonho, não importa qual, apercebe-se de
que há, sempre, um cenário, quer continuemos nesse sonho sob uma forma ou sob
outra forma; que há, sempre, outros nesse sonho, e que tudo isso interage de
maneira, eu diria, bastante comum, uma vez que, de fato, os outros podem ou
estar em uma relação suave conosco, ou em uma relação violenta.
Acontece mesmo que, em alguns sonhos, possa-se dizer
que algumas reações dos atores do sonho eram, verdadeiramente, insuportáveis e
muito, muito distantes de nossos valores.
Exceto que, se se olha, atentamente, o conjunto do
sonho: o corpo, os corpos dos outros, as ações dos outros, as palavras dos
outros, tudo isso sai e emerge apenas de nós mesmos.
Então, aí, vamos tomar um tempo para, verdadeiramente,
acolher isso.
Em um sonho, eu crio corpos, eu crio outros, eu crio
interações entre os outros, eu crio interações entre os outros e o que eu me
criei como veículo, como corpo.
Eu crio cenários, eu crio, mesmo, sensações dolorosas.
Em suma, eu sou capaz de criar um mundo no qual eu
vivo, e tudo isso, unicamente, no que eu sou.
Agora, quando eu saio do sonho, quando saio do sono,
há meu corpo, há o corpo dos outros, há os cenários, há interações entre os
outros, interações entre eu e os outros...
Então, se o olhamos com honestidade, sem procurar
tirar uma conclusão precipitada, pode-se apenas constatar que tudo o que é criado
no que se chama a realidade, eu posso criá-lo no que eu sou, uma vez que eu
posso criá-lo em um sonho.
Isso nos leva não a dizer que eu estou em um sonho,
mas, ao menos, a reconhecer que eu não sei se tudo o que é criado sob os meus
olhos, na realidade, não é criado, da mesma maneira que o é um sonho, no que eu
sou.
Então, o mental pode tentar criar piruetas para nos
tirar dessa constatação, mas todas as piruetas que ele encontrar não terão
qualquer consistência em relação ao fato de que eu sou capaz de criar meu
próprio corpo, o corpo dos outros e um cenário, tudo isso em meu sonho.
Então, pode-se dizer que há, efetivamente, uma
diferença: é que, quando eu acordo, a história recomeça, aproximadamente, no
momento em que ela parou, quando eu adormeci na realidade.
Mas o fato de que a realidade seja mais «longa» não
prova que não seja um sonho, não prova que ela não seja a criação do que eu
sou.
Então, volte, sempre, a esse ponto, se você se deixa arrastar
alhures, a questão que se coloca, aí, a nós, é: será que é possível que eu seja
o criador do conjunto do que se desenrola?
A questão não é: será que eu sou o criador de tudo de
quem se desenrola?
Mas: será que é possível que esse seja o caso?
E aí, pode-se apenas chegar à conclusão de que sim, é
possível, sim, eu sou capaz de criar tudo isso.
Então, isso nos leva à questão: quem é capaz, no
conjunto de meu funcionamento, do funcionamento do que eu creio ser, quem é
capaz de criar os sonhos?
Quem é capaz de desenvolver, assim, formas, atores e
de ali colocar-se?
Alguns cientistas quiseram mostrar que os sonhos
sediavam-se ao nível do mental.
Então, simplesmente, o que se pode tentar observar é
que meu mental, quando estou acordado, quando estou fora do sonho, fora do
estado de sono, será que meu mental cria, assim, um filme, e será que ele é
capaz de ali colocar-se?
Será que eu posso, estando acordado, ver meu mental:
desenvolver o que se desenvolve em um sonho?
Obviamente, não, em momento algum você consegue
recriar o estado de sonho estando acordado.
Seu mental funciona por impulsos de pensamentos.
E aí, chega-se a um ponto importante, crucial da
pesquisa, uma vez que ela nos leva a constatar não tendo encontrado, mas,
simplesmente, vendo que falta algo no edifício, constatar que isso não vem do
mental, isso vem de algo mais, algo que é capaz de projetar-se no que ele cria.
E aí se pode, sem procurar colocar-lhe nome, desenhar,
um pouco, os contornos e o funcionamento dele.
Portanto, esse algo é capaz de criar um mundo, de ali
projetar-se e de ali viver uma experiência, e esse algo, quando eu estou
acordado, não cria mundo suplementar àquele no qual eu me desenvolvo, e esse
algo está, necessariamente, aí.
E, no sonho, esse algo se projetou no interior do
corpo que correspondia ao corpo criado por ele.
Então, esse algo, quando estou acordado sem,
forçosamente, definir, precisamente, o posicionamento, eu posso reconhecer a
presença dele nesse corpo, nessa experiência, uma vez que há, efetivamente,
algo que se deslocou do sonho para esse corpo, e que me dá, agora, a sensação
de que eu sou esse corpo.
A um dado momento, no sonho, eu era outro corpo e,
agora, eu sou esse corpo.
Então, vamos fazer uma pausa, nesse momento da
investigação, para proceder de outra maneira.
Há numerosos testemunhos de pessoas que viveram EQMs,
experiências de morte, muitas pessoas que viveram, igualmente, saídas do corpo.
Todas testemunham o fato de que, a um dado momento,
elas se encontraram no exterior do corpo e que podiam ver o próprio corpo.
Naquele momento, as pessoas sabem que elas não são seu
corpo.
Elas se juntaram a outro corpo, corpo astral, corpo de
Luz, corpo de Existência, pouco importa.
Em todo caso, elas deixaram esse corpo e colocaram-se
alhures.
Isso nos mostra, efetivamente, que há algo que vem
projetar-se no corpo, que faz crer que nós somos esse corpo.
Esse algo, eu lhes proponho que o chamemos, juntos, «consciência»…
Então, vemos, aí, algumas funcionalidades dessa
consciência, essa capacidade para projetar-se em um corpo e para,
instantaneamente, levar à crença de que eu sou esse corpo.
No sonho, quando eu sonho, eu sou o corpo no qual a
consciência projetou-se.
Quando eu faço uma experiência de saída do corpo, eu
não sou mais o corpo físico, mas sou o que flutua no teto, por exemplo, eu
estou nesse corpo diferente que flutua, que se desloca.
Observa-se que é instantâneo, ou seja, assim que a
consciência coloca-se em algum lugar, instantaneamente, aparece com ela a
convicção de que eu sou isso em que a consciência colou.
Não há necessidade de tempo de adaptação, é automático.
Vê-se, através do sonho, que a consciência é capaz de
criar um mundo, e de ali projetar-se a si mesma.
E vocês têm, certamente, vivido outras possibilidades
da consciência, quando, por exemplo, sentem-se completamente conectados a uma
árvore, completamente conectados a outro ser.
Naquele momento, no momento em que vocês comungam com
a árvore, não há mais seu corpo e aquele da árvore, há uma fusão.
E, juntos, eu lhes proponho, agora, experimentar outra
possibilidade da consciência, aquela de expandir-se no conjunto do universo.
Para isso, eu lhes proponho, primeiramente, colocar-se
em seu corpo físico, sentir a ligação à Terra, sentir como que raízes que saem
de seus pés e que os levam a expandir-se na Terra...
Sentir, igualmente, o ar em todo seu redor, acima, e
você expandir-se nesse Ar que forma, assim, uma bolha em torno de você...
E deixe-a crescer, para conectar-se, agora, à pessoa
ou às pessoas que estão ao seu lado...
Em seguida, ao conjunto de pessoas aqui presentes...
Integrando, igualmente, as pessoas presentes em outros
lugares desta casa...
Nessa bolha de Amor, você é capaz de acolher o
conjunto de habitantes do planeta...
E de englobar o próprio planeta...
Você pode englobar o Céu, o Sol...
E você se expande, no conjunto do Universo, espalhando
seu Amor...
Você pode ficar aí, a englobar o conjunto da
Criação...
E você pode, então, observar essa capacidade de sua
consciência para englobar toda a Criação...
Nessa fase, você não reconheceu, ainda, a consciência,
mas pôde ver algumas de suas possibilidades, e pôde, igualmente, constatar que
o observador está colocado ao nível da consciência.
Para reconhecer a consciência, será preciso, então,
deixar o observador.
Então, mantendo a consciência da maneira a mais leve
possível, deixe-a desdobrar-se na Criação, você pode abrir, suavemente, os
olhos, e dar-se conta de que, naquele momento, a consciência reintegra esse
corpo, ao mesmo tempo flutuando alhures.
Mas, talvez, instantaneamente, houve, novamente, o
aparecimento de um «eu sou esse corpo», e você sabe, agora, de onde vem essa
sensação.
Guiado por Air.
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3 – Investigação de 19 de fevereiro de 2014
A memória
Vamos acomodar-nos, confortavelmente, para prosseguir
nossa investigação...
Eu lhes proponho que se vá investigar, agora, ao nível
do funcionamento da memória.
Mas, ao invés de colocar-se nas lembranças, eu lhes
proponho começar agora, Aqui e Agora, tentando gravar, tentando integrar tudo o
que acontece.
Para isso, vocês tenham, talvez, necessidade de ver o
que acontece ao nível interior.
O que é que acontece no corpo?
O que é que acontece no exterior?
Ao nível dos sons?
Talvez, abrir os olhos, ao mesmo tempo permanecendo
atento, tentar tomar todas as informações possíveis...
Voltar a fechá-los, se vocês estão prontos agora,
tentar ver o que resta desse instante que acaba de passar... e ver que, por
exemplo, tudo o que foi sentido no corpo, vocês não têm mais acesso a isso na
lembrança, que vocês puderam ali colocar algumas informações factuais da
organização da sala, mas que vocês não puderam integrar tudo.
Por exemplo, se eu lhes pergunto em qual ordem estão
colocadas as pessoas na sala, ou as fotos na sala... vocês vão tentar
recolocar-se no presente, porque estamos, ainda, ali.
Mas, no passado, vocês não têm mesmo, talvez, o
vestígio disso.
Se eu lhes peço, agora, para dizer-me o que nós comemos,
por exemplo, ontem à noite, vocês vão dar-me o nome dos alimentos, mas não
poderão, em caso algum, trazer a sensação que tiveram, no momento em que comeram,
o aroma que ali havia, se estava calmo, ruidoso, como vocês estavam naquele
momento...
Portanto, pode-se, assim, indo cada vez mais ao
passado, dar-se conta de que as lembranças são cada vez mais superficiais, e
que, eventualmente, aquelas de que se lembra bem são, finalmente, aquelas que
se conta mais.
E esse é um dado importante porque, se você toma uma
lembrança de algo que tenha vivido de um pouco extraordinário, frequentemente,
no momento em que o tenha vivido, você não procurou colocar palavras em cima.
E, em seguida, quando você o contou, você colocou
palavras em cima e, talvez, palavras diferentes a cada vez que você o tenha
contado.
E você pode observar, se encontrar a boa lembrança,
que a lembrança que você tem corresponde, agora, à maneira pela qual você a
conta, ou seja, que a lembrança foi modificada, pelo próprio fato de contá-la e
as palavras que utiliza para contá-la.
Eu vou, igualmente, contar-lhes uma experiência que
foi feita por cientistas, concernente aos sonhos, uma experiência que foi
realizada junto a um grande número de pessoas, uma centena de pessoas ou mais,
quando foram apresentadas fotos às pessoas, fotos de sua infância, todas
verdadeiras, exceto uma, que era uma montagem delas quando crianças, em um
lugar no qual elas jamais estiveram.
E, quando as fotos eram apresentadas às pessoas,
quando do primeiro teste, há certo número de pessoas, muito pouco, que
reconheceu essa pessoa e que disse: «Ah sim, eu me lembro, eu fui a tal lugar
com tal e tal pessoa de minha família», e as outras não se lembravam.
Quinze dias após, o teste foi repetido e, em face
dessa foto, a quase totalidade das pessoas lembrou-se, lembrando-se de ter
estado nesse lugar e as circunstâncias que haviam levado a essa foto.
Isso significa, de fato, que nossa memória continua a
informar-se, em função de elementos que a ela se aporta, em função do que se
conta, em função do que outros nos contam.
Por exemplo, nossos pais podem contar-nos uma
lembrança de infância, e acabamos por integrá-la como, efetivamente, algo de
vivido, enquanto não se lembrava daquilo de início.
Pode-se, também, de maneira muito mais leve, olhar
quantas vezes se esteve certo de colocar um objeto, por exemplo, as chaves do
carro, as chaves da casa sobre tal mesa, em tal lugar...
«Isso é certo, alguém pegou minhas chaves!».
E, de fato, encontram-se as chaves no fundo do bolso,
no fundo da bolsa, sobre outra mesa...
Tudo isso nos mostra que, de fato, a memória não tem
confiabilidade alguma, que não se sabe se as lembranças que se tem são
lembranças reais ou se são lembranças que foram criadas pelas histórias que se
contaram, que transformaram a história.
Como para a história das chaves, pode ser, mesmo, que
se invente alguns passados.
Em todo caso, não se pode constatar o conjunto dessas
disfunções da memória e confiar na memória.
Aliás, é muito interessante, também, olhar, do ponto de
vista da sociedade, como isso acontece.
Se você olha os eventos políticos, o conjunto do que
acontece, há o que é comunicado pelas mídias, há, frequentemente, contradições,
embora não se saiba, exatamente, o porquê e o como.
Vou tomar um exemplo para isso.
Eu me lembro de ter visto uma imagem, quando eu estava
na Bósnia, de uma casa que queimava em Kosovo.
E, no canal de televisão France 2, o comentarista
dizia que os Albaneses fugiram porque os Sérvios queimaram suas casas.
No canal TF1, eles diziam que os Sérvios retiraram-se
e queimaram suas casas ao partir.
E, no canal LCI, foi dito que os Sérvios retiraram-se
e que os Albaneses queimaram as casas.
Tudo isso com a mesma imagem da casa.
Em contrapartida, se olhamos os elementos do passado muito
mais distante, por exemplo, como viviam os Romanos, o que aconteceu durante tal
ou tal guerra, então, aí, a história parece muito, muito simples.
Não há mais do que uma única opinião, uma única
versão, e todo mundo adere a ela.
Vê-se, efetivamente, no presente, que uma situação
compreensível, simples, não existe, verdadeiramente.
Em contrapartida, que possam dizer-nos, exatamente, o
que aconteceu há dois mil anos ou, mesmo, cem anos, de maneira muito clara,
isso nos parece possível.
E essa é a magia da memória, a memória que simplifica
tudo e que retém apenas uma versão, apenas uma parte do que aconteceu ou,
mesmo, nada aconteceu, e uma pessoa começou a contar a história de algo que
teria acontecido.
A história dessa pessoa ganha a adesão e ela se torna uma
história oficial.
Então, se vocês estão no mesmo ponto que eu, naquele
momento, não podem mais confiar na memória.
Vocês podem ver imagens passarem que corresponderiam à
memória, mas não mais a elas dar crédito, porque vocês não sabem, em momento
algum, se isso ou aquilo é verdadeiro.
Isso faz parte de uma história que é transportada,
transformada, progressivamente e à medida do tempo.
Agora, se colocamos a memória de lado, se renunciamos
a utilizar a memória, reconhecendo que a memória não tem confiabilidade alguma,
é-lhes possível identificar o passado?
Obviamente, não...
E, aí, observa-se que a única coisa que nos faz aderir
a uma noção de passado é algo que resulta completamente errôneo, e que se pode
carregar, preencher à vontade, uma vez que basta fazer passar uma foto,
pedindo-nos para lembrar-nos do que aconteceu naquele momento, quando se era
criança, para que, no fim de certo tempo, tenha-se uma lembrança daquilo,
enquanto isso jamais existiu.
Isso quer dizer que, se todas as lembranças tivessem
sido colocadas, da mesma maneira, apenas agora, isso nos permitiria aderir a um
passado que seria completamente fictício...
A não adesão à memória leva-nos, agora, a viver o não
desenvolvimento no passado.
O simples fato de acolher o que vem na memória como
algo sobre o que não se pode apoiar, que não nos concerne, dissolve,
instantaneamente, o passado.
Vamos terminar aí nossa sessão de investigação de
hoje.
Simplesmente, lembrar-se, aí, onde se chegou, se nós
ali chegamos.
Eu não posso confiar em minha memória, e eu não sei,
devido à não validade de minha memória, eu não tenho qualquer meio de verificar
a validade do tempo.
Nós não chegamos ao «o tempo não existe», mas ao «eu
não posso verificar a validade do tempo».
Guiado por Air.
4 – Investigação de 20 de fevereiro de 2014
O mental
Vamos acomodar-nos, confortavelmente, acolher o que
acontece no corpo...
Vamos lembrar-nos de onde estamos em nossa
investigação.
Nós chegamos à certeza de que não éramos esse corpo.
Isso faz parte de coisas sólidas sobre as quais se
pode apoiar agora.
Nós chegamos a reconhecer que não sabíamos se o mundo
era real ou se ele foi criado a partir do zero por nossa consciência, e
chegamos à constatação de que não se pode confiar em nossa memória.
E constatamos, também, que, sem a memória, nós não
tínhamos acesso ao passado.
Portanto, nós não podemos confiar na memória, não
podemos confiar na existência ou não de um passado.
Então, vamos, hoje, investigar o mental, termo que se
utiliza frequentemente.
Mas a primeira questão que se pode colocar é: como
definir o mental?
Então, alguns poderiam dizer: é a atividade que
acontece ao nível do cérebro, e, aí, isso decidiria, diretamente, a questão,
uma vez que, o cérebro, sendo uma parte do corpo, e não sendo, nós mesmos, esse
corpo, o mental não teria existência no que eu sou.
Ele não poderia ser o que eu sou ou uma parte do que
eu sou.
Mas pode-se, também, definir o mental como a sucessão
dos pensamentos.
Então, pode-se observar que há o estado comum, no qual
os pensamentos não param de funcionar, é um fluxo ininterrupto, e há os
momentos nos quais nossa consciência coloca-se no Ser, por exemplo, nos quais o
fluxo de pensamentos pode desacelerar.
Há, mesmo, testemunhos de que os pensamentos podem
parar, a um dado momento.
Mas vamos, de momento, tentar investigar sobre o que
acontece quando os pensamentos são ininterruptos...
Então, como se desenrolam os pensamentos?
Vocês todos puderam observar, em si, que alguns
pensamentos podem encadear-se, automaticamente, uns atrás dos outros, da mesma
maneira, por vezes, acrescentando emoções ao fluxo de pensamentos...
Admitamos que se esteja em um trabalho no qual as
relações possam ser complicadas com os colegas.
Pode-se começar por dizer-se que as relações são complicadas,
que é preciso agarrar-se, porque não se deve perder o trabalho; dizer-se, em
seguida que, se perdemos o trabalho, não poderemos mais pagar o aluguel e que,
por exemplo, ficaremos na rua, que não poderemos mais comer.
Aí está um exemplo grosseiro.
Mas os pensamentos encadeiam-se, uns atrás dos outros
e, geralmente, em todo caso para aqueles que vêm mais frequentemente, eles se
apresentam a nós da mesma maneira, ou seja, no mesmo fluxo.
Então, a primeira questão que se pode colocar é: se os
pensamentos organizam-se, sistematicamente, de maneira automática, então, onde
está a inteligência?
Onde está nossa capacidade de discernimento?
Onde está a capacidade do mental para colocar-se,
corretamente, no que acontece?
Aí se vê, também, que o mental, para analisar a
situação, ou as situações, vai, muito frequentemente, utilizar elementos de
memória, que levam a analisar o que acontece agora, em função do que ele
armazenou anteriormente.
Por exemplo, se eu me encontro em face de um animal,
em função do passado, eu vou ou ficar na posição de proteção, de fuga, ou ir ao
encontro do animal...
O que quer dizer que o que dirige, naquele momento,
meus pensamentos e minha maneira de agir vem, unicamente, do passado, passado
do qual nós não pudemos provar a existência real, apoiando-se em memórias das
quais não temos certeza.
Então, aí, pode-se tomar um tempo e pedir ao nosso
mental para encontrar uma ideia que não viria nem do passado ligado ao que nós
vivemos, nem do passado ligado ao que nos foi inculcado: todas as regras
morais, sociais, familiares nas quais nós estivemos colocados.
Há um único instante no qual o mental seja capaz de
separar elementos de memória vividos ou inculcados?
Pode ser que, ao nível de seus pensamentos, você tenha
pensamentos que cheguem, dizendo: «Ah, talvez isso, talvez aquilo...».
Mas, olhando atentamente, você verá que há,
forçosamente, um vestígio, ligado à educação, ligado às regras sociais, ligado
ao que você reteve na memória de seu «passado».
Esse é um ponto fundamental, sobre o qual eu os
convido a voltar várias vezes para, verdadeiramente, colocarem-se nessa certeza
de que não há qualquer pensamento novo que não venha ou de sua memória, ou que
seja impulsionado pelo exterior, dir-se-ia, uma memória exterior.
Portanto, não há qualquer pensamento que venha do
interior que possa estar fora de seu próprio esquema de pensamento.
O que quer dizer que o novo não pode ser acolhido
pelos pensamentos.
O que significa que, se hoje você não pode responder à
questão «quem sou eu?», a resposta não poderá, em caso algum, vir de seus
pensamentos.
Nenhuma análise o permitirá, porque você pôde
observar, por si mesmo, que seus pensamentos não são capazes de analisar o que
se apresenta a você com outra coisa que não o passado, outra coisa que não as
caixas de memória.
Então, pode haver o pensamento de um desapontamento,
ou um pensamento que venha dizer-lhe: «Mas então, como se pode fazer?».
Mas veja que, mesmo isso, é ligado ao passado, ou
seja, é ligado à maneira pela qual a busca foi conduzida até agora.
Ao inverso, pode ser que, para alguns, o fluxo de
pensamentos pare, o que indica, naquele momento, que o mental compreendeu,
reconheceu, por seu próprio funcionamento, que ele não era capaz de ir para
onde ele queria ir.
Ele não é capaz de levar o que você é ao
reconhecimento do que você é.
E o mental, reconhecendo isso, pode debater-se, ou
capitular.
Eu os deixo alguns instantes, para observarem,
atentamente, o que acontece em seus pensamentos, e não procurem lutar contra.
Tragam, simplesmente, a pura lógica.
Não se luta, quer-se, simplesmente, trazer a
coerência.
O que quer que aconteça, verificamos se há
coerência...
Seja vigilante, igualmente, para jamais permanecer
demasiado tempo...
Uma vez que a demonstração seja feita, não há mais
necessidade de voltar: a demonstração está feita.
Tudo o que nos interessa é chegar a coisas claras,
demonstradas, vividas, sobre as quais se possa continuar a avançar em nossa
investigação.
Portanto, se chegamos ao mesmo ponto, sabemos, agora,
que os pensamentos não são apropriados para encontrar o que eu sou.
Vamos prosseguir, acerca da noção de pensamentos,
simplesmente, voltar onde estávamos, quando observamos o fluxo de pensamentos,
no qual os pensamentos encadeavam-se, uns nos outros, e tentar encontrar se há
um pensamento que venha, sistematicamente, implantar o conjunto do fluxo dos
pensamentos.
Porque, uma vez que se tenha observado que nossos
pensamentos podiam encadear-se de maneira automática, mesmo em quaisquer
pensamentos, pode-se colocar a questão: há um primeiro pensamento que vem
desencadear o conjunto do fluxo de pensamentos?
Esse primeiro pensamento, apenas se pode encontrá-lo
na sequência de uma parada dos pensamentos, ou seja: o que é que, naquele
momento, estimula os pensamentos?
E um dos momentos que todos vivemos, no qual os
pensamentos param, é no momento em que se dorme.
Aliás, quando o fluxo de pensamentos é demasiado
importante em alguns momentos, tem-se apenas uma vontade, é a de dormir, para
que isso pare.
Então, o que acontece quando se sai do sono, que volta
a desencadear os pensamentos?
A primeira coisa, o primeiro pensamento que acontece,
no momento em que se acorda, é o aparecimento consciente, ou não, do pensamento
«eu existo», «eu… sou», seguido de «esse corpo», «nesse mundo».
Aí está o que acontece a cada manhã, a cada despertar:
a noção da existência que reaparece, a noção da existência nesse corpo e a
noção desse corpo nesse mundo.
E todos os outros pensamentos decorrem daí.
Tendo demonstrado que nós não éramos esse corpo, se
estamos suficientemente vigilantes ao acordar, podemos parar, sem lutar, o
fluxo de pensamentos no «eu existo».
Porque, no momento em que aparece a noção de «nesse
corpo», eu posso puxar o que foi vivido, de maneira lógica, junto: o que eu sou
não é ligado a esse corpo, não está nesse corpo.
E, se o que eu sou não é ligado a esse corpo, como o
mundo pode implantar-se?
Nós podemos deixar o corpo agir nesse mundo, sem estar
nesse corpo, sem ser esse corpo nesse mundo.
E isso nos leva, também, a essa noção de pensamentos
permanentes, dos quais se falou no início, que ali havia pensamentos em fluxo
permanente, e que, com alguns posicionamentos no Ser, os pensamentos
desaceleravam ou, mesmo, desapareciam.
E compreende-se, com o que acontece ao acordar que, se
a noção de «eu», de «eu sou esse corpo» desaparece, então, inevitavelmente, o
fluxo de pensamentos desacelera.
Isso permite verificar que o que se constata pela
manhã aplica-se em outros momentos, quando nós nos extraímos da noção do «eu».
Portanto, dado que pudemos constatar, juntos, que nós
não éramos esse corpo, pode-se apenas constatar que o fluxo ininterrupto dos
pensamentos, que emerge após a noção da existência de um «eu» e de «eu sou esse
corpo» é, forçosamente, errônea.
O fluxo de pensamentos vem apoiar-se, implantar-se, na
sequência a um pensamento que nós já verificamos como falso.
Vamos parar aí por hoje.
Tentem sair dessa meditação sem aderir à noção de «eu
sou esse corpo».
Guiado por Air
5 – Investigação de 21 de fevereiro de 2014
As emoções, o medo.
Então, hoje, vamos continuar a investigação que
começamos desde o início da semana, mas vamos mudar um pouco de método, vamos
abrir os olhos.
Não se vai, necessariamente, procurar ver os outros, mas
vamos colocar o olhar não importa onde, no espaço...
Em um primeiro tempo vamos, já, observar se houve,
durante essas primeiras experiências, momentos nos quais eu escapei da
investigação.
Esses momentos nos quais eu escapei da investigação puderam
manifestar-se de muitas maneiras diferentes; primeiro, colocando-se no Ser e
ali se deleitando, e esquecendo-se do objeto da investigação ou, mesmo, não o
ouvindo mais.
Então, naquele momento, vivemos supermomentos durante
a investigação, mas a investigação não avançou.
Há, também, outras maneiras de não entrar na
investigação ou de sair dela, que são, a certo momento, o mental, que reage,
colocando, por exemplo, a raiva, ou colocando um pensamento como «eu não vou
chegar ali, não é para mim agora».
Mas eu os lembro de que não se tem qualquer lugar onde
chegar, que a única coisa que se procura é ver claramente, ver a Verdade.
Portanto, não se procura chegar onde quer que seja,
quer-se apenas saber se se pode evoluir em alguma coisa de coerente.
Então vê-se, efetivamente, que, em função da maneira,
também, pela qual é guiada a investigação, e pela qual se guia, por si mesmo, a
investigação, ter-se-á tendência, efetivamente, para partir no Ser ou partir
nos pensamentos.
Vê-se, também que, de certa maneira, pode-se
compreender, porque se experimentou, a diferença quando se escuta Sri
Nisargadatta.
Ao nível do ritmo, é muito rápido, é cortante; ao
nível da potência vocal, é muito forte, tudo isso para manter uma forma de
tensão que vai deixar-nos na pessoa, aí, onde se efetua a investigação, ou
seja, no mental.
Então, a dificuldade é que, naquele momento, pode-se,
efetivamente, colocar-se na resistência.
Mas vê-se que, se a investigação faz-se em algo de
mais suave, dado que se está eliminando coisas na pessoa, pode-se, rapidamente,
reencontrar-se no Ser e, de repente, perder a investigação.
Portanto, isso nos leva aos dois componentes que vão
permitir-nos colocar, de maneira apropriada, a atenção ao nível da
investigação, esses dois componentes que são os componentes que se começa a
conhecer bem: o Amor e a Sabedoria.
Ser capaz de acolher o que vem no Amor, o que quer que
venha, qualquer que seja o pensamento, e a Sabedoria de permanecer na presença
da investigação.
Então se, a um dado momento, vocês veem, no interior
de si, que há uma maneira de escapar da investigação, a primeira coisa a fazer
é recolocar-se nesse posicionamento interior, nesse equilíbrio, e, se vocês
partiram, completamente, nos pensamentos que os arrastam a um esquema de
resistência, coloquem o Amor.
Se vocês estão nesse banho de Amor tão bem,
banhando-se muito, tão afastados que não podem mais investigar, porque está bom
demais, transfiram a atenção à Sabedoria.
Portanto, esse equilíbrio ao nível da atenção é
primordial para poder continuar a investigação.
E aí, vai-se retomar, rapidamente, porque já se fez a
investigação, e se vocês deixaram passar um pouco da investigação, eu os
convido a refazê-la, por si mesmos, relendo ou reescutando a investigação.
Mas, quando da primeira investigação, nós havíamos
constatado que o que nós somos não podia, de maneira alguma, ser esse corpo.
O que nós somos não é esse corpo.
E, novamente, não se trata, agora, de refazer o
caminho.
Demonstrou-se isso, não há mais que voltar a esse
assunto.
Se vocês o viveram, se o constataram, por si mesmos,
não é mais algo que tenha necessidade de ser comprovado, só seu mental dirá a
vocês que é preciso prová-lo de novo.
Mas não há necessidade de comprovar o que foi provado.
Até o presente, vocês têm vivido sem nada provar, aí,
vocês vêm provar a si mesmos que o que vocês são não é esse corpo.
O que vocês são não é esse corpo, portanto, não há
necessidade de voltar a comprovar: tem-se a demonstração, apoia-se nela para a
sequência.
Fomos explorar o que é a consciência, e viu-se que a
consciência podia colocar-se nesse corpo, colocar-se no universo inteiro,
colocar-se em diferentes lugares, e que a vivência era completamente diferente.
Isso reforça o fato de que nós não somos esse corpo,
se ali havia necessidade de reforçá-lo, mas, como já se demonstrou, não se tem
necessidade de refazê-lo.
Portanto, constatou-se a presença da consciência.
Naquele momento, não se demonstrou que nós éramos a
consciência, constatou-se a presença da consciência.
Em seguida, nós fomos observar a maneira pela qual se
organizava a memória, e constatamos que nós não podíamos confiar na memória.
Basta localizar uma falta, ao nível da memória, para
saber que a memória é falível e que, de repente, não se pode apoiar nela, uma
vez que, como se viu, eventos podem ser criados ao nível da memória.
O próprio fato de contar um evento modifica a memória
e, além disso, na memória, integram-se montes de valores que nos são
transmitidos pelo conjunto da sociedade, pais etc.
Portanto, viu-se que não se podia confiar na memória e
constatou-se que, se não se utilizasse a memória, nós não podíamos observar, não
podíamos dar corpo à noção de tempo.
Portanto, nós não sabemos se podemos aderir à noção de
tempo ou não.
Em todo caso, nós não temos qualquer meio de validar a
existência do tempo nessa fase, não tendo ferramentas para validar sua
existência ou não.
E ontem, nós observamos como funcionavam os
pensamentos, como eles se enredavam uns aos outros, e como todos os pensamentos
apoiam-se apenas no antigo, apenas na memória que não se pode validar, que não
se pode tomar como uma verdade..., e no fato de que eram, sistematicamente, os
mesmos esquemas que se reproduziam, e que todos os esquemas começavam ao
acordar, por essa noção de: «Eu existo, eu sou esse corpo, eu sou esse corpo
nesse mundo».
E que, mesmo se vocês não vejam os pensamentos, em
todo caso, vocês podem, deles, ver o resultado direto, é que, no momento em que
vocês abrem os olhos, vocês estão nesse mundo.
Naquele momento, vocês podem reconduzir-se à primeira
verdade que pudemos ver juntos: «Eu não sou esse corpo».
Constatamos, também, em relação aos pensamentos, que,
em função, justamente, da presença ou não do pensamento «eu existo» e do
pensamento «eu sou esse corpo», os outros pensamentos apareciam ou não.
Como eu pude dizê-lo, é a base de todos os pensamentos
e, quando se coloca no Si, o fluxo de pensamentos desacelera.
Portanto, naquele momento, aí onde estamos colocados
hoje, nós vimos que nossos pensamentos, tal como ele são organizados, não podem
levar-nos para o novo, e que eles são, todos, baseados em um engano: «Eu sou
esse corpo».
A partir daí, não se pode dar crédito aos pensamentos,
uma vez que, se eu não sou esse corpo, não há mais pensamentos.
Então, em função de onde vocês estão colocados na
investigação, cabe a vocês ver se convém fechar os olhos, se convém deixá-los
abertos, se convém colocar o Amor ou colocar a Sabedoria.
Ou se vocês estão perfeitamente colocados na
investigação.
(um acesso de tosse faz-se ouvir...)
Então, gostaria de aproveitar um pouco essa tosse
mágica, antes de retomar o assunto da investigação, apenas para saber se,
quando a tosse aparece, será que é o corpo que vive a tosse ou será que há
pensamentos («caramba, eu incomodo os outros…»).
O que eu quero dizer com isso é que é uma demonstração
de que o corpo pode tossir, e que é o pensamento «eu sou corpo» que vem pôr um
desconforto em relação a essa tosse, ou em relação ao que é vivido, a um dado
momento.
Se não há o pensamento «eu sou esse corpo», esse corpo
pode tossir, o que eu sou continua a não se mover, e eu não estou preocupado
pela razão desse corpo tossir.
Esse corpo tosse porque ele tosse.
É essa noção de, sistematicamente, querer pôr um
conceito, uma compreensão sobre o que acontece que vem, a um dado momento,
colocá-los no passado, uma vez que se viu que os pensamentos são ligados ao
passado, que os conceitos são colocados pelos pensamentos.
E, portanto, tentar pôr conceitos, uma compreensão
sobre o que está acontecendo é puxar o que vocês vivem ao passado, ou seja,
destruir o que é vivido no instante em que vocês o vivem.
No momento em que vocês vivem a Graça, no momento em
que vivem o Amor, vocês não procuram pôr a palavra Amor nisso.
É no momento em que vocês não o vivem mais que vocês
ali colocam a palavra Amor.
No momento em que vocês o vivem, vocês não procuram
defini-lo, vocês se deleitam nele.
Portanto, a cada vez que vocês vejam os pensamentos
vir pôr um conceito, lembrem-se de que isso vem do passado, que vocês não sabem
se o passado é válido.
Vocês não podem confiar nos elementos do passado e, em
todo caso, nada do passado poderá, jamais, levá-los à Liberdade e à noção de
quem vocês são, porque, nesses casos, vocês já o saberiam.
Hoje, eu proponho continuar a investigação ao nível da
noção de medo ou da noção de emoções.
Vamos concentrar-nos, primeiro, na noção de medo, uma
vez que o medo, a um dado momento vem, automaticamente, impedi-los de viver sua
Liberdade.
Quando você está no medo, você está, sistematicamente,
em uma forma de proteção na qual você é levado pelo fluxo emocional.
Então, pode-se distinguir que há dois tipos de medos.
Há o medo ligado, eu diria, a algo de muito mecânico,
o truque clássico: uma pessoa se esconde atrás de um muro, faz «Wou!».
Está-se em um medo mecânico.
É o medo mecânico.
Vamos deixá-lo de lado porque, uma vez que ele se
manifesta, ele se dissolve, imediatamente, ou seja, no momento em que você está
em um medo mecânico, ele aparece e ele desaparece, imediatamente, sem deixar,
necessariamente, um vestígio longo, e ele não o arrebata, indefinidamente.
O medo que se poderia chamar de psicológico, psíquico,
ele o arrebata muito mais longe, ou seja, é o medo que vem nutrir-se, auto-nutrir-se
sem parar.
Por exemplo, o medo de ferir-se, o medo de não ter os
meios de alimentar-se, o medo de não ter os meios de viver, o que nos leva de
volta a essa frase: «é preciso bem viver» ou «é preciso ganhar a vida».
Todos esses medos, se olhamos o ponto de partida de
todos esses medos, sistematicamente vamos encontrar um fluxo de pensamentos.
Um fluxo de pensamentos que o leva a ter medo sozinho,
ou seja, o fluxo de pensamentos coloca-o em um cenário de algo que já foi
vivido ou que jamais foi vivido, e o faz crer que isso pode vir.
E o cenário, dado que se viu, em conjunto, que os
pensamentos encadeiam-se, sempre, da mesma maneira, se seu mental, se seus
pensamentos têm uma tendência a gerar o medo, você a eles é submetido, muito
regularmente, uma vez que, de fato, a cada vez que voltar o cenário, ele conduzirá
ao medo.
E, naquele momento, observe que nada de sólido vem
portar esse medo, vem fazê-lo emergir.
O que vem fazê-lo emergir são elementos automáticos,
pensamentos que se apoiam em elementos de memória, vividos ou não.
Eu repito, a questão não é acreditar em mim, a questão
é de vê-lo em você, ver como o medo emerge e ver, eu diria, o lado meigo, uma
vez que ali põe-se o Amor.
Isso quer dizer que vocês estão habituados a ali
resistirem, vocês estão habituados a deixarem-se levar, naquele momento, pelo que
é da ordem da violência do medo, e vocês não veem o lado meigo do mental, que
lhes repete a mesma cena, enquanto ela faz mover algo em vocês.
Se você vê a maneira pela qual se revela o medo, se
você vê o ponto de partida, ali colocando o Amor, o Amor para esse programa
automático que não tem força alguma por si mesmo...
A força vem do fato de que a consciência vem fazê-lo
crer que tudo isso, você o vive, mas não há força alguma no surgimento desses
pensamentos, que o obrigue a vivê-los.
Se você o olha, apenas como testemunha, testemunha que
não julga, então, você verá que o medo não pode crescer, o medo apaga-se,
instantaneamente.
Para ilustrar isso, eu lhes proponho olhar, não sei se
vocês tiveram a oportunidade de ir ali, mas em um jardim de infância (portanto,
onde todas as crianças estão amontoadas em muito poucos metros quadrados, com
areia, um tobogã para cinquenta... não, eu exagero), mas nesse jardim de
infância, olhem o que se brinca.
A um dado momento, as crianças podem, eventualmente,
chorar, porque elas caíram do tobogã e machucaram um pouco o traseiro; vão
chorar porque receberam um pouco de areia no olho; vão chorar porque o vizinho
tomou o ancinho.
Mas se, como adulto, você não se faz arrastar pela
onda emocional da criança («ah! Meu pobre querido»), mas você olha o que
acontece, você pode apenas constatar que o drama parece, verdadeiramente,
verdadeiramente difícil para a criança que o vive, mas que, ao final, nada há
de sólido, e é exatamente a mesma coisa para os seus dramas.
Se você olha com o mesmo olhar, pleno de Amor, para a
criança, e com o recuo necessário, isso apenas pode ser engraçado, isso pode
apenas ser meigo.
E isso se apoia, eu repito, apenas em pensamentos que
não têm validade alguma.
Aí está porque, sem parar, no curso da refutação,
pode-se dizer: «Eu não sou meus pensamentos», mas, antes de dizê-lo, é preciso
vê-lo.
«Eu não sou meus pensamentos, eu não sou minhas
emoções».
Antes de dizê-lo, veja-o, porque, quando você o diz
sem tê-lo visto, então, você apenas faz um exercício que permite inflar o
mental.
Mas se você o viu uma vez, quando você o diz, você se
lembra de que você o validou e não joga àquele que não é suas emoções, você não
joga àquele que não é esse corpo: você não é esse corpo, você não é suas
emoções.
Não refute o que você não tenha validado por si mesmo.
E vê-se, efetivamente, que não há necessidade de um
esforço considerável para ir validar a não validade do mental, do corpo, das
emoções.
Alguns minutos de investigação bastam, se há
suficiente intensidade.
Então, eu tomei a noção do medo, mas é exatamente a
mesma coisa para o prazer, por exemplo.
Você se encontra em face de uma flor magnífica, em
face da montanha, magnífica, e, naquele momento, acontece algo fora do tempo,
em você, no Presente, magnífico, de reconhecimento.
O que é que vem, imediatamente depois?
«É preciso que eu me impregne disso, para poder
nutrir-me disso na sequência ou para poder levá-lo comigo».
Como se pudéssemos captar o que foi vivido no presente
para poder levá-lo conosco ao futuro.
Eu tento colocar, levar, não sei como, em mim, tudo o
que é vivido, guardá-lo em pequenas caixas que se chamam memória (então, eu sei
que isso não se mantém, mas nunca se sabe, forçando um pouco...), e eu quero
poder trazê-lo no futuro.
E, obviamente, no futuro, eu não reencontro o que foi
vivido.
O que eu reencontro é a frustração de não reviver o
que foi vivido e o que eu reencontro é o sofrimento.
Há a separação e, com essa defasagem dessa lembrança
que não existe, da noção de prazer.
Aí onde há prazer – não confunda alegria profunda,
êxtase e prazer – aí onde, a um dado momento, eu tento captar o prazer, estou
certo de que nascerá o sofrimento, uma vez que eu tento colocar o prazer, contê-lo,
para poder levá-lo comigo, coisa que eu não posso fazer, e eu acabarei, então,
por reconhecer que eu não posso fazê-lo e viver, dele, a frustração, o
sofrimento.
O que leva, por exemplo, na noção de casal, à noção de
prazer, a um dado momento, seguido da noção de ciúmes e de sofrimento, e de
raiva.
Portanto, se no momento em que eu vivo algo de
magnífico, eu o deixo viver, aparecer e desaparecer, sem tentar puxá-lo ao
interior, sem tentar levá-lo comigo, então, eu não estou sujeito ao sofrimento.
Se eu não sou submisso aos pensamentos, se não sou
submisso às emoções, portanto, se não sou submisso ao corpo, aparece a
possibilidade da Presença, agora, da Liberdade e, se se continua a ser lógico,
se há Liberdade, se há Liberação possível, é que, na verdade, a Liberdade já
deve estar aí agora.
E acabamos, em algumas etapas, de ver o que vem
esconder a Liberdade, fazendo-nos crer em um mito que, até hoje, nós nem sempre
pudemos demonstrar.
O que se pôde demonstrar é que nós não éramos nem esse
corpo, nem esses pensamentos que são ligados à crença da existência do corpo,
nem as emoções que são ligadas à existência dos pensamentos.
É um edifício, um mil folhas e, assim que se retira
uma parte, tudo desmorona por si só.
Resta-nos, ainda, saber se existimos por outro lado,
mas, em todo caso, nessa fase, abre-se, já, um espaço de Liberdade, abre-se,
já, a Liberdade, uma vez que não há dependência alguma ao corpo, porque nós não
somos nosso mental, nós não somos nossos pensamentos, porque nós não somos
nossas emoções e, nessa fase, pode-se apenas colocar-se no presente, uma vez
que nós não pudemos verificar a existência do passado, como não podemos
verificar a existência de um futuro.
Obrigado.
Guiado por Air.
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6 – Investigação de 22 de fevereiro de 2014
O que resta da pessoa? Ninguém…
Então, eu refaço um rápido giro de onde estamos nisso.
Vimos que nós não éramos esse corpo; vimos que o
mental funcionava, unicamente, com bases do antigo, com a memória; que era um
programa automático; que funcionava, sistematicamente, da mesma maneira; que os
pensamentos que lançam o programa automático são: «eu existo», «eu sou esse
corpo», «eu sou esse corpo nesse mundo».
E tudo isso, dado que é um encadeamento que se
controla muito bem, tudo isso aconteceu, frequentemente, antes que se abrisse o
primeiro olho.
Vimos que os medos e as emoções eram lançados pelos
pensamentos, exceto, poder-se-ia dizer, os medos instintivos que se colocou de
lado, de momento, para ir visitar.
E viu-se o que era a consciência.
Não se reconheceu, mas viu-se que nossa consciência
podia não mais estar colada ao corpo (colocar-se no Ser, por exemplo) e,
naquele momento, não há mais o pensamento «eu sou esse corpo» e, naquele
momento, vimos, igualmente, que os pensamentos desaceleravam, que a noção de «eu
sou esse corpo, eu existo», a noção de «eu existo» e, em seguida, de «eu sou
esse corpo» lança um fluxo de pensamentos (uma vez que é o fluxo, digamos,
inicial).
E, quando esse pensamento inicial desaparece, então, o
fluxo de pensamentos desacelera ou, mesmo, desaparece.
Então, tem-se, de qualquer forma, necessidade de saber
se o que somos é nosso mental (uma vez que não se abordou essa questão), o que
significaria, naquele momento, que o que somos é um programa informático.
Mas vê-se, efetivamente, que, se a consciência é
deslocada ao Ser, naquele momento, nós não estamos mais no mental e, no
entanto, quando você se coloca no Ser, não há a impressão de ter perdido o que
quer que seja, ao contrário.
O que você é não é, portanto, dependente do mental, e
não está, portanto, colocado no mental.
Mas eu os lembro de que o fluxo de pensamentos começa
por «eu existo» e «eu sou esse corpo», e que se demonstrou que não se era esse
corpo, vê-se, efetivamente, que, no próprio mental, nos pensamentos, tudo
começa por uma contradição com o que se pôde constatar.
Então, se nós não somos esse corpo, se não somos esse
mental, não se pode ser as emoções que são lançadas pelo mental.
Então, pode-se dizer: «eu sou a consciência», e isso
pode dar-nos essa impressão, uma vez que é a consciência que nos coloca em
diferentes lugares.
Mas será que a consciência age?
Não, a consciência observa.
Será que é a consciência que pensa e que fala?
Não, é a consciência que observa o fluxo de
pensamentos e que observa as palavras.
Portanto, após todos os nossos esforços, esta semana,
observou-se o corpo, observou-se os pensamentos, o mental, observou-se as
emoções, observou-se a consciência, e aparece que nós não somos nada disso.
Então, será que você vê outro lugar no qual você pode
ser colocado?
Será que você vê outro lugar no qual uma pessoa possa
existir?
Será que você vê a existência do ego?
Até o presente, dizia-se: o ego é o mental, o corpo,
as emoções, a consciência, misturados.
Quando se olha tudo isso separadamente, vê-se o ego?
Então, aí, gostaria de voltar à primeira descoberta
que fizemos esta semana: «eu não sou esse corpo».
Será que a noção de «eu não sou esse corpo» retirou
algo no desenvolvimento desse corpo?
Será que suprimiu algo?
Absolutamente nada, a não ser a adesão ao «eu sou esse
corpo», mas esse corpo continuou a funcionar, enquanto nós sabíamos, muito bem,
que não éramos esse corpo.
Será que o fato de ver que nós não somos esse mental
impede os pensamentos de funcionarem?
É claro que não.
Não é o fato de descobrir que nós não somos esse
mental que muda a natureza do mental e dos pensamentos.
A natureza do mental era a mesma, antes que se
observasse a natureza do mental.
E, como você não vê ninguém no corpo, no mental, nas
emoções, mesmo na consciência, como você vê os funcionamentos separados de
diferentes aspectos, o fato de vê-lo, será que isso retira algo?
A natureza da consciência estava aí, igualmente, antes
que a observássemos.
Nada se vê no interior, ninguém se vê no interior,
exceto o pensamento que poderia gerar um medo ligado ao desaparecimento.
Será que o fato de que não haja ninguém no interior
retirou algo?
Será que, ao contrário, isso não liberou um espaço, um
espaço no qual se havia colocado a pessoa, no qual não se via claramente e no
qual, agora, vê-se que nada há?
Será que, se você chega, efetivamente, a essa
conclusão, se você o vê, por si mesmo (que nada há, ninguém no interior), será
que você pode ver a beleza da construção, a beleza dessa máscara que você tem
usado?
Eu os lembro de que a raiz etimológica da «pessoa», é
a máscara, e eu os lembro de que, mesmo na linguagem, desde o início,
dizem-lhes, em francês, que você é uma pessoa, e que não há ninguém [ndt: em francês, é a mesma palavra, “personne”,
que é usada tanto para significar pessoa, como para significar ninguém,
dependendo do contexto].
É a mesma palavra, para significar duas noções que
vocês acreditaram opostas.
Mesmo nas palavras, isso sempre esteve aí...
E, portanto, ao nível dessa máscara composta do corpo,
do mental, das emoções, vê-se que, quando a consciência vem colar-se em cima,
quando a consciência vem colar-se no mental, quando a consciência vem colar-se
no corpo, ela dá a impressão da existência de uma pessoa.
Aí, onde não havia ninguém, há uma persona-lidade: uma
pessoa doente [ndt: foi feito um jogo de
palavras que, no francês, dá mais sentido: “personne malade”].
Portanto, se você está aí, quem procura a Liberação?
E, se não há mais ninguém para procurar a Liberação, o
que é que acontece?
Não há mais ninguém prisioneiro.
Não há mais ninguém no interior de você que você possa
avaliar, não há mais ninguém no interior de você que você possa acusar.
Não há mais ninguém para jogar de vítima, mais ninguém
para jogar de juiz.
Progressivamente, vocês colocam todas as máscaras que
usaram em circulação, porque vocês pensavam que havia alguém que era
proprietário da máscara, e não há ninguém para reivindicar-lhes a propriedade.
E, se vocês puderam percorrer tudo isso, o que é que resta?
A Paz, a Tranquilidade, a Simplicidade.
Não há mais alguém que procura compreender.
O próprio fato de alguém que procurava compreender
criava a complexidade.
Então, obviamente, apesar de termos visto tudo isso,
pode haver tentativas de volta de uma pessoa, que se diz: «Sim, mas eu sinto
muitas coisas em meu corpo…».
O fato de que coisas sejam sentidas no corpo prova que
há sensações nesse corpo, prova que há um movimento nesse corpo, unicamente
isso.
Então, agora, se você viu que não havia ninguém em
você, se o mito dissolveu-se, será que você pode ver alguém no outro?
Vamos ficar aí por hoje...
Uma última coisa...
Se, a um dado momento, as resistências do programa
automático aparecem, não há mais alguém para julgar por isso.
O programa automático não pode ser julgado por isso.
Portanto, pode-se, simplesmente, ali colocar o Amor e
reconhecer que isso faz parte do movimento normal do programa automático que
trabalha para a sobrevivência, no automático.
Portanto, magnífico, muito belo programa, que continua,
talvez, a funcionar para tentar salvaguardar o que ele vê, o que se abre e que
isso pode ser doloroso.
De qualquer forma, é normal, uma vez que isso se chama
a morte da pessoa, o desaparecimento da pessoa.
Não há necessidade de derramar-se em cima: deixa-se o
programa automático rodar onde ele está, e permanece-se centrado no que se viu,
não no que eu disse, mas no que vocês viram por si mesmos.
É nisso que vocês se apoiam.
Guiado por Air.
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7 – Investigação de 24 de fevereiro de 2014
Prosseguir a investigação.
Então, vamos começar, no silêncio, a recolocar-nos
onde havíamos parado...
Hoje eu não vou recapitular os diferentes aspectos da
investigação da semana.
Vamos, hoje, simplesmente, tentar refletir em relação
à investigação, em relação a onde vocês estão nisso, e tentar ver, juntos, como
a investigação prossegue, e como isso acontece.
Porque a investigação que foi proposta esta semana
está aí para mostrar-lhes como podia acontecer a investigação e, sobretudo,
para mostrar-lhes que era extremamente fácil.
Porque, vocês viram, à razão de meia hora por dia,
onde nós chegamos...
Então, em seguida, cabe a vocês investigar e, cada vez
que a noção de alguém aparece, investigar, para ver quem é esse alguém.
E, ao invés de jogar com isso de maneira permanente –
vocês podem fazê-lo se conseguem ter uma capacidade de atenção suficiente – mas
para nada serve jogar com isso o dia todo, se é, simplesmente, para permitir ao
mental afiar suas armas para perdê-los, novamente, nas incoerências.
Vale mais cinco verdadeiros minutos de investigação
pela manhã e cinco verdadeiros minutos de investigação à noite, no momento em
que você está, ainda, na cama e está tranquilo, ao invés de realizar falsas
investigações, ou seja, realizar um esporte durante o dia todo.
Porque você viu que não há necessidade de uma prática
longa para ver que não havia ninguém.
Então, se você chegou ao ponto que não há mais
ninguém, a partir de agora, é muito mais simples porque, mesmo se alguém
aparece, basta-lhe perguntar quem é esse alguém e procurá-lo, mas procurá-lo na
suavidade, ou seja, sem se ater ao buscador, que deve dissolver-se, também, uma
vez que a resposta tenha sido encontrada.
Porque buscar o alguém, se isso provoca outros papéis
a desenvolverem-se...
Voltar à questão «quem sou eu?», uma vez que tenha
podido fazer a limpeza, suficientemente, pôde levar suficiente coerência à sua
visão do que é a Vida.
A investigação não procura dissolver o que quer que
seja, a investigação procura apenas instalá-lo na coerência, na Verdade.
A Dissolução e a Liberação não preocupam ninguém.
Portanto, cabe a você, simplesmente, realizar a
investigação e, em seguida, deixar o espaço.
E, se o espaço é deixado, o que é levado a revelar-se
ou não, não preocupa mais ninguém.
Então é fácil, naquele momento, deixar-se tomar, uma
vez que não há ninguém que deva abandonar-se, não há ninguém que se ofereça.
Na realidade, a oferenda é muito natural, normal, uma
vez que não há ninguém.
Eu gostaria, porque é algo que resume bem onde se pode
estar nisso e, sobretudo, que pode ser uma Graça, de ler para vocês uma oração
de Mooji: «Bem Amado, permita-me jamais imaginar que eu sou alguma coisa.
Permita-me jamais esquecer de que eu nada sou. Quanta Graça você preencheu em
meu ser: ter preenchido esse espaço com você.».
Então, eu diria que a última parte não está, talvez,
ainda, no lugar, porque a Graça do Bem Amado que vem preencher o espaço
acontece quando o espaço está vazio.
Aí está porque tudo começa por «Bem Amado, permita-me
jamais imaginar que eu sou alguma coisa. Permita-me jamais esquecer de que nada
sou.».
E isso leva a viver o fato de que não há ninguém.
Isso os leva ao que é chamado o Absoluto ou a
a-consciência e, naquele momento, vocês não procuram o Bem amado; há ninguém
que procura nada...
E, uma vez que o espaço tenha sido esvaziado (mas isso
não acontece no mesmo instante), uma vez que você tenha vivido nesse espaço no
qual nada há, no qual há apenas a Felicidade, o Êxtase, mas no qual você não vê
ninguém, a um momento, desembarca nesse corpo o Bem Amado, o que, nas conversas
que eu coloquei no site, eu chamei de Retorno do Rei.
O que quer dizer que, aí, onde não havia ninguém, você
vê aparecer alguém...
Você vê aparecer não alguém, você vê aparecer o Um.
E, naquele momento, não unicamente você é Liberado,
porque a Liberação foi bem antes, a partir do momento em que não havia ninguém,
a partir do momento em que você foi liberado da pessoa, mas você vive,
igualmente, o que pode ser chamada a Iluminação, ou seja, a instalação no Um, o
reconhecimento de que, nessa Criação, você está aí, mesmo se o que você é
esteja para além da Criação.
Eu diria que é o momento em que se juntam o que você é,
em Verdade, e o que você é, na Criação.
A Verdade total revela-se.
Então, se você vive momentos nos quais não há mais
ninguém e, algum tempo depois, há, novamente, alguém, sempre a mesma coisa:
Amor, Sabedoria; acolhe-se o fato de que haja alguém, no Amor, e demonstra-se
Sabedoria: coloca-se a questão «quem sou eu?», «quem é esse alguém?».
Não se deixe tomar em um cenário que é «ah, isso volta
sem parar», sem ter verificado que algo voltou, que alguém voltou.
Sim, a consciência volta a colar; sim, o mental está
no caminho.
E então?
Aceitar a ideia de que você ali não chegará é uma
incoerência, porque, dado que não há ninguém, como alguém poderia ali chegar, e
como alguém poderia ali não chegar?
Encontrar aquele que quer ali chegar, encontrar aquele
que crê ali não chegar...
Não se coloque na incoerência, não aceite, novamente,
a incoerência.
Aceitar a incoerência é aceitar não verificar a
validade do que é percebido.
Porque, a um dado momento, se há alguém, é que há o
conceito de alguém.
Portanto, é preciso ver se algo corresponde ao
conceito de alguém.
E, eu diria, por toda parte em que há conceito, há a
possibilidade de realizar a investigação, e você ficará surpreso, por toda a
parte em que há conceito, de ver a incoerência.
Mas, em relação ao que já se observou, o funcionamento
do mental, como poderia ser de outro modo?
Portanto, a questão, hoje, é saber se você se sente
pronto a continuar a investigação, a continuar essa busca da Verdade, por si
mesmo, sabendo que, eu repito, ninguém poderá dizer-lhe onde está a Verdade.
Você deve seguir-se a si mesmo...
Seria preciso saber quem você deve seguir porque, assim
que você segue a vida de outro, você já aderiu ao fato de que você era alguém,
que havia outro alguém e que esse outro alguém conhecia a Verdade.
Será que você verificou que esse outro alguém conhecia
a Verdade?
A única solução que você tem de verificar que alguém
conhece a Verdade é verificar, por si mesmo, o que é a Verdade...
E você verá, por si mesmo, naquele momento, uma vez
que a Verdade for desvendada, que aquele que conhecer a verdade quer,
efetivamente, partilhá-la, mas, em caso algum, procura impô-la a você.
Porque a Verdade não pode impor-se, caso contrário,
bastaria descrever o que é a Verdade...
Para terminar, se há questões concernentes à
investigação... como prosseguir a investigação, se há necessidade de
prosseguir, porque, a um dado momento, mesmo a investigação deve
dissolver-se...
Q.: Quando tivemos a mensagem de URIEL, que nos disse
para ficar tranquilo, foi na sequência de sua intervenção de investigação sobre
o mental, e você disse: «URIEL disse-nos, pela manhã, justamente, para prestar
atenção no corpo» e, aí, você disse: «para não dizer eu sou esse corpo», é
preciso dizer: «eu existo»...
Não, é o que acontece pela manhã.
O primeiro pensamento da manhã é: «eu existo».
O segundo pensamento é: «eu sou esse corpo», e o
terceiro é: «eu sou esse corpo nesse mundo».
Portanto, se você já pôde observar, se pôde observar
que você não era esse corpo, quando o pensamento «eu sou esse corpo» aparece,
você pode dar uma boa risada e dizer: «ah, ah! Você o refaz ainda esta manhã!».
Mas, juntos, esta manhã, nós vimos que não éramos esse
corpo, que o que eu sou não é esse corpo.
E o pensamento seguinte: «eu sou esse corpo nesse
mundo» não pode mais aparecer.
E, aliás, gostaria apenas de esclarecer, sobre a noção
de ficar tranquilo que é, aí também, uma questão de Amor Sabedoria.
Ficar tranquilo traduziu-se por: «nada fazer, esperar
que isso aconteça».
Será que você está tranquilo nos pensamentos?
Se você está afogado nos pensamentos, mesmo se você
está, tranquilamente, sentado em uma poltrona, será que você está tranquilo?
Estar tranquilo é acolher no Amor, na Sabedoria, puxar
o que tem necessidade de Amor no Amor, puxar o que tem necessidade de ser
iluminado na Sabedoria, sem violência, uma vez que se permanece no Amor e na
Sabedoria.
Q.: Eu tenho outro problema: eu não consigo desmontar
o conceito de Alma.
Eu continuo refugiada na Alma.
Eu observei, eu me dei conta de que havia uma angústia,
porque é um pouco o último refúgio, uma última ancoragem, que havia uma
angústia: não soltar a coisa.
Eu tento trabalhar, dizendo-me que é um conceito, mas
não consigo, não consigo sair disso...
Então, se há o medo, sabe-se que o medo vem dos pensamentos.
Portanto, há o pensamento, antes disso, de que há um
perigo.
Portanto, quem está em perigo?
Q.: eu não sei se é o mental ou a consciência, eu não
sei.
Mas será que o mental ou a consciência é a pessoa?
Q.: Eles estão na pessoa.
Nesse caso, onde está a pessoa?
Não pode haver o pensamento de que há alguém a
proteger se não há, preliminarmente, a noção de: «há alguém» e, aí, quando você
põe a consciência e os pensamentos na pessoa, é que você coloca a pessoa em
algum lugar.
Portanto, há, sempre, a presença da pessoa, que tenta
esconder-se, mas onde?
Onde ela pode esconder-se?
Ela não é esse corpo, ela não é esse mental, ela não é
a consciência, então, ela se esconde por trás de outro conceito, que é a Alma,
mas ela não sabe, mesmo, o que é a Alma.
Amanhã, uma vez que for desmontado o conceito da Alma,
a pessoa dirá: «eu estou colocada no Espírito», mas ela estará colocada no
conceito de Espírito.
Aquele que está colocado no Espírito não tem, mesmo,
mais pensamento.
Ele reside na Morada de Paz Suprema.
Portanto, se há pensamentos, não é que a pessoa esteja
escondida na Alma ou no Espírito, é que a pessoa continua no mesmo lugar, ou
seja, na crença da existência nesse corpo, da existência da capacidade do
mental para saber discernir o que é verdadeiro ou não.
Portanto, não há necessidade de ir procurar longe:
assim que há pensamentos, assim que há medos, você sabe onde você está.
Quaisquer que sejam as palavras que se vá colocar
nisso, você sabe onde você está.
Se há necessidade de proteger alguém, não há dúvida
alguma.
É a única informação a tomar porque, efetivamente,
assim que se vai procurar saber (proteger de quê, em qual lugar...), então, o
mental vai contar-nos uma história.
E como a história: «há alguém no corpo», isso parece
funcionar muito bem; o mental conta-lhe que há alguém na Alma, mas eu a lembro
de que Ma Ananda Moyi veio dizer-nos, na terça-feira, que a Alma, para alguns
e, portanto, em breve, para todos, seria levada a dissolver-se no Espírito, ou
seja, desaparecer e, naquele momento, a pessoa vai passar onde?
Você não tem necessidade de tranquilizar-se, porque
você sabe que os medos são uma montagem.
Você deixa o medo revelar-se, sem prender-se ao medo,
dizendo: «ah, ah! Eu conheço seu mecanismo».
O que nos interessa não é o medo, não é saber porque
há medo.
O que nos interessa é: hei! O medo está aí, ele
decorre de uma projeção do mental que se coloca para o futuro, portanto, tudo
isso, eu conheço muito bem, mas, obrigado por voltar a mostrar-me, de novo,
porque há, talvez, algo que eu não tenha apreendido, completamente, na maneira
pela qual o mental vem nutrir o medo.
O assunto do medo não me interessa, eu observo.
Eu observo o mecanismo.
Q.: Ao final dessa semana de investigação, eu descubro
que não realizei a investigação, que minha vigilância ficou na descrição da
investigação, e eu não encontro o acesso a essa profundidade, a essa
intensidade que permite passar da retórica da investigação à investigação
verdadeira.
Então, isso leva a qual é o ponto de partida da
investigação...
Porque, efetivamente, em qual momento a investigação
começa, verdadeiramente?
E a investigação começa, verdadeiramente, quando há a
sede de encontrar a Verdade, não a sede de compreender um mecanismo ou de
adquirir mais conhecimento, mas a sede de conhecer a Verdade, porque se
reconhece que a acumulação de conhecimentos, que tudo o que se pôde viver,
igualmente, ao nível vibratório, ao nível das efusões de Amor, nem sempre
levou-nos à Verdade.
Portanto, a um dado momento, há essa tomada de
responsabilidade que é: OK, finalmente, o que é que eu sei?
De que eu tenho certeza?
Eu acumulei tantos conhecimentos, vivi diferentes
estados, mas o que é que eu sei?
Qual pode ser a base sobre a qual eu construo o resto?
Então, há respostas rápidas, que poderiam dizer: «Ah, mas
eu conheço, perfeitamente, o Advaïta,
ou eu vivi estados vibratórios nos quais eu era o Universo inteiro...».
E daí?
Você é o Universo?
A investigação começa no momento em que se abandona a
ilusão de saber algo, a ilusão de dominar algo.
A investigação começa no momento em que se reconhece
ignorante total.
Se você sabe alguma coisa, então, a investigação nada
pode fazer por você.
A investigação começa reconhecendo-se a ignorância.
Se você não reconheceu a ignorância, então, a
investigação será, sempre, uma atração.
A investigação vai desenrolar-se para vir nutrir o
conhecimento que eu creio dominar.
Mas, se você o domina, verdadeiramente, o conhecimento
que você crê dominar, ele seria coerente e sua vida seria coerente em relação
aos seus conhecimentos.
Você não viveria de switch da Consciência: de repente eu sou o Ser, de repente eu sou a
pessoa porque: você é o Ser ou a pessoa?
Então, se eu não tenho demasiado trabalho, eu sou o
Ser, e se tenho muitas coisas a fazer, documentos a fazer, eu sou a pessoa?
Ah! Será que se pode chamar isso de conhecimento?
Eu o chamo de pirueta, sim, «pirueta, amendoim» [um nada] porque, efetivamente, é um
jogo.
A um dado momento, é preciso parar de enganar-se, é
preciso parar a complacência, não com os outros porque, enquanto se está na
complacência consigo mesmo, você observará, em geral, raramente, é-se
complacente com o outro... sistema de vasos comunicantes..., dado que eu sei
das coisas, vou divulgá-las aos outros e, se os outros não estão de acordo,
então, são os outros que estão, verdadeiramente, perdidos, por exemplo...
Ou a complacência de acolher, de ter lido montes de
livros espirituais, de dominar, perfeitamente, os conceitos e nada viver
porque, efetivamente, a espiritualidade pode ser um terreno de jogo para o
conhecimento mental, para os conceitos.
É um terreno de jogo fabuloso.
Isso me lembra, há alguns anos, eu encontrei uma
pessoa.
Quando eu a escutava, eu me dizia uau! Tudo o que ele
sabe! «Somos todos Um»: parecia-me tanto dizê-lo com convicção que, para mim,
estava claro, ele o vivia.
E depois, todos os conceitos… durante dias ele
falou-me...
Eu me dizia uau, uau!
Depois, a um dado momento, eu lhe digo: «Você vive ao
nível do Coração?».
«Ah! Mas nada!» (ndr: respondeu ele).
Ele tinha apenas um truque que ele não vivia, era a
mínima manifestação de tudo o que ele exprimia.
Naquele momento, eu agradeci a ele, em meu foro
íntimo, por ter-me mostrado que aqueles que manipulam bem os conceitos não são,
necessariamente, aqueles que viveram o que quer que seja.
Um mental muito forte manipula muito, muito bem os
conceitos e, se ele registrou suficientemente o que devia dizer e em qual
momento, o que parecia coerente, ele se cria o universo em relação a isso e
você embarca em longas descrições de coisas que não são vividas.
Portanto, tanto faz dizer que aí, onde há esse
conhecimento, ou seja, o conhecimento mental, que esse conhecimento mental é
valorizado, esse conhecimento mental é colocado à frente, naquele momento, não
pode haver reconhecimento de seu estado natural, que é a ignorância.
É preciso que o motor esteja aí.
É preciso saber quem você é, saber sobre o que basear
sua vida.
É preciso que isso esteja aí.
Se você decidiu viver no compromisso, se consegue
viver, tranquilamente, no compromisso, muito bem, não se lance na investigação.
Não há a essência para ali ir.
Se você está desesperado, se você está cansado e não
sabe mais, de modo algum, onde você está, se você está na raiva, então, aí, há,
talvez, a essência.
Se você tem uma tristeza infinita que vem
regularmente, OK, você está cansado e não sabe como fazer para sair disso, você
reconhece a ignorância.
O ponto de partida está aí.
Então, não há necessidade de ficar desesperado para
reconhecer a ignorância, mas, aí, quando você pensa estar perdido, então, você
chega ao ponto de partida e você sabe que, com a Luz, quando você tenha
encontrado o ponto de partida, você já está na chegada.
Q.: É a fase dos trabalhos práticos, ou seja, há
pouco, eu devia tomar meu banho rapidamente, e o tempo que a água quente chega,
eu teria chegado com muito mais atraso.
Então, eu tomei minha ducha fria e é aí que, a um dado
momento, ela estava gelada e, depois, o fato de não ser ninguém, ela não estava
mais gelada.
Mas havia esse vai-e-vem permanente – um pouco gelada,
não gelada – havia esse ir e vir.
E depois, a um dado momento, ela não estava mais
gelada, absolutamente, enfim, ela estava normal, ou seja, eu não a sentia mais,
e isso continuou assim, até eu colocar os pés nas botas e, aí, houve uma
sensação de suavidade infinita, porque não havia ninguém.
O corpo estava molhado, mas, justamente, será que o
fato de fazer esses exercícios práticos, esses trabalhos prático, como eu os
chamo, não é, de algum modo, também... não, é perfeito.... é bom.
Obrigado pelo exercício prático, porque havia, no
início da intervenção, uma pessoa que tinha uma questão, que desaparece e...
não há mais questão.
Efetivamente, há vai-e-vem.
Deixe fazer, olhe quando isso volta.
Pergunte quem está aí, ou nada pergunte, deixe fazer.
É naquele momento que é preciso ficar tranquilo.
Guiado por Air.
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Muuuuito obrigado por estas traduções!!!
ResponderExcluirno meu viver ja tenho uma pequena clareza de vivencia a vida no Planeta Terra e encontrei essas alerta, ou como queria resumo de esclarecimentos .
ResponderExcluirAchei fantástico, pois não encontraria coisa melhor. Bem compacto que bem vivido nos leva direto "ao Caminho a Verdade e a Vida" no leva de volta a Unidade e Verdade.
Somos todos Um, Somos simplesmente Luz Divina.
Obrigada