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3 de jun. de 2012

BIDI – 1 – 3 de junho de 2012


Mensagem publicada em 19 de maio, pelo site AUTRES DIMENSIONS.



Áudio da Mensagem em Francês

Link para download: clique aqui




Questão: Como soltar a expectativa e a busca do Absoluto?

Foi dito que o Absoluto não pode ser procurado porque, como procurar o que você já É?
Toda procura, todo suposto caminho, praticado ou buscado, toda busca em um passado, no que quer que seja além do que o eu sou, aqui e agora, pode apenas afastá-lo do Absoluto.

O Absoluto não pode ser conhecido.
Ele faz parte do Desconhecido.
Portanto, você deve refutar tudo o que é conhecido.
Passe seu tempo, não a procurar o Absoluto (você não o pode), mas passe seu tempo a refutar o que lhe é conhecido.
A um dado momento (e esse dado momento está muito próximo porque o que eu proponho é muito simples) o cérebro, a personalidade, o ego e, mesmo, a individualidade, não pode manter-se, além de certo tempo, em relação à refutação.

O sentido do eu aparece antes dos três anos.
É o momento em que aparece a distância entre o sujeito e o objeto.
É o momento em que a Consciência toma consciência dela mesma e distancia-se em relação a tudo o que pode ser sentido, ressentido, visto, percebido, que estabelece, de algum modo, um limite e uma barreira entre você e o mundo.
É essa distância e essa barreira que criam a pessoa, que criam o indivíduo.
Se você aceita isso, basta, simplesmente, aceitar que nada há a buscar, nada há a procurar, nada há a esperar, mas, simplesmente, colocar um olhar lúcido sobre tudo o que é efêmero.
Você Era, antes de estar nesse corpo.
Você Era, antes que o mundo existisse.
E você Será, uma vez que o mundo tiver desaparecido.

Mas o que você Será?
Não é uma projeção no futuro, ainda menos no passado, mas, efetivamente, o estabelecimento da consciência além da Consciência.
A consciência é experiência: ela se nutre da experimentação.
Até certo ponto, você crê ser aquele ou aquela que experimenta.
Você se identifica à cena, você se identifica ao teatro, você pensa que há um caminho e você o percorre, porque você o cria.

Eu nada lhes ensinarei dizendo-lhes que o pensamento é criador.
Mas, de onde vem o pensamento?
Será que ele era prévio à existência desse saco de alimento?
Você tem lembrança disso?
O que acontece quando você medita?
O que acontece quando de experiências místicas, mesmo a mais incrível, a mais extraordinária?

Bem, é muito simples: há, sempre, algo que olha.
E esse algo que olha não é afetado pela experiência, nem pela própria Consciência.
Aquele que observa não é uma pessoa, não é você, no sentido de uma individualidade, mas é bem mais vasto e bem mais ilimitado do que o que você poderia imaginar, conceber ou pensar.

A partir do instante em que você observa seus próprios pensamentos, o modo pelo qual eles nascem – é o próprio princípio da meditação – você poderá, num primeiro tempo, sair da linearidade.
Não para escapar do que quer que seja ou de quem quer que seja, porque eu o lembro de que o Absoluto engloba, também, a ilusão.

Tudo o que é efêmero é ilusório.
O que é permanente é infinito e indefinido.
Observe o finito.
O Absoluto observa o efêmero.
O efêmero está contido no Absoluto.
Nada pode estar fora do Absoluto.

O problema é que a consciência coloca-se, sempre, em um relativo, em algo de limitado, de fragmentado, no qual há o sentido de uma posse, o sentido de uma atribuição, de um papel, de uma função, de um pertencimento ao que quer que seja, quer seja o corpo, quer seja a família, quer seja um objeto ou, mesmo, para aqueles que realizam o Si, o sentimento de ser a Terra inteira e as Consciências que ali estão contidas.
Isso não é o Absoluto, mas está contido no Absoluto.

Ora, você é Absoluto.
Nada de limitado pode ser o que você É.
Há, portanto, primeiro, em uma forma de lógica, que estabelecer um «eu sou», porque o Si apenas pode construir-se em oposição ou em confrontação ao não Si.
É o mesmo para o eu que se constrói e elabora-se desde três anos, a partir do não eu: é a distância sujeito/objeto.

O Absoluto diz-lhe: «você não é nem o sujeito nem o objeto; você não é, mesmo, a relação entre o sujeito e o objeto».
E isso é assim, de toda a Eternidade, porque a perfeição não é, jamais, efêmera.
E você é perfeito.
Apenas a visão da construção do eu e, para aqueles que estão no caminho espiritual, a construção do Si são apenas afastamentos da Verdade.

Todas as verdades que você descobre, todas as verdades que você estabelece como válidas em sua vida são, mais cedo ou mais tarde, varridas.
Você está em um corpo.
Esse corpo vai desaparecer, é inevitável.
Essa Terra desaparecerá, o Sol desaparecerá, o Universo desaparecerá.
Seus cientistas dizem-lhes isso.

O que você se tornará, naquele momento?
Então, é claro, enquanto você está no eu, e joga o jogo, isso não tem qualquer importância, porque a escala, dita de tempo, escapa, totalmente, de sua compreensão, como de todo conceito.
O próprio sentido da identidade de uma pessoa, de um indivíduo, do Si é apenas um conceito.

O ser humano tem por hábito definir.
Ele define a partir de uma forma limitada (objeto ou sujeito), mas tudo isso é efêmero.
O mais difícil – e que é, ao mesmo tempo, o mais simples – é aceitar, de uma vez por todas, que nada há a procurar, nada há a buscar, e que o caminho existe apenas se você considera que há um caminho, apenas se você considera que há uma montanha a escalar ou a descer, é a mesma coisa.

O que é que escala a montanha ou que a desce?
A noção de esforço é conhecida nesse mundo.
Tudo é um esforço.
É preciso ganhar sua vida.

O que eu lhe proponho é não mais ganhá-la, mas compreender, a fim de integrar, de superar, de transcender e, de algum modo, de romper as amarras do finito, não se desviando delas (o que seria, ainda uma vez, um erro), mas, efetivamente, posicionar-se em outro lugar que não no que é conhecido.
Para isso, não há outra solução além de aceitar o próprio princípio do que deve ser refutado.
Sair do confinamento é superar todos os limites, não em uma espécie de desordem, mas, bem mais, superar a ordem e a desordem.
É estabelecer-se além da ordem e da desordem, como além do bem e do mal.
Além da dualidade.
Além da Unidade.
É não mais desempenhar qualquer papel, mas aceitar viver o que lhe propõe esse mundo.
Não é questão de desviar-se desse corpo, uma vez que você está dentro dele.

Mas você não é esse corpo.
Isso não é uma negação do corpo, nem uma negação da vida, mas, bem mais, a transcendência, a transfiguração e a ressurreição da verdadeira Vida: aquela que não terminou e que, aliás, jamais começou.

O que atrapalha é o testemunho.
O que atrapalha é o Si.
O que atrapalha é crer que há um caminho, crer que há uma verdade a encontrar.

O mundo é uma projeção.
Uma projeção de quê?
Do pensamento e da consciência.
Você não é nem o pensamento, nem a consciência, nem o agente que projetou a consciência ou o pensamento.
Você é além de tudo isso.

Como eu dizia: isso não é uma procura, não é um tempo porque, a partir do instante em que você considera que há um tempo a consagrar, você continua no finito.
E o Absoluto não pode estar aí para você.

Você se desviou, de algum modo, do Absoluto.
O Absoluto está além da Alegria, porque a Alegria é a contemplação do Si, que põe fim a certa forma de sofrimento, efetivamente, mas que não responde, jamais, à questão de quem você É, porque o próprio Si é apenas uma projeção ao nível de uma densidade diferente daquela que vocês conhecem no eu, mas que continua inscrito no eu.

Onde você quer estar inscrito?
A única angústia do humano é o desaparecimento.
Vocês não podem desaparecer.
Esse saco de alimento desaparece.
Esse mundo desaparece.
O universo desaparecerá.
Os conceitos e os pensamentos desaparecerão.
Mas o que sustentou isso não desaparecerá, jamais, porque jamais apareceu, justamente.

Portanto, olhe, sem procurar.
Mude, simplesmente, o olhar.
O que é que jamais apareceu?
O que é que jamais desapareceu?
O que é que sustenta todas as experiências, sem participar da experiência?
Isso não é nem a testemunha, nem o observador.
É algo que está no montante, se posso exprimir-me assim.
É o que você É, não no eu sou, mas na própria negação do eu sou.

Lembre-se de que minhas palavras não são destinadas a serem ouvidas por todo o mundo, porque eles se enfurecerão.
Eles se enfurecem com o finito, e enfurecer-se com o finito é, por vezes, prejudicial.

Enquanto você considera que não terminou de fazer suas experiências (que não lhe pertencem mais do que seu corpo), então, é claro, o Si vangloria-se do despertar do Kundalini, de suas viagens, de seus sonhos, de sua Paz, de sua Alegria.
Mas, mesmo isso, flutua, porque quem pode dizer, mesmo no Si, que passa à Eternidade no Si?
Reflita: o que se torna o Si, uma vez que esse corpo não está mais aí?
O que se torna a consciência, uma vez que esse corpo não está mais aí?
Onde estava você, antes de estar nesse corpo?
Você estava em outro corpo?
E, mesmo se esse é o caso, se há, aparentemente, uma solução de continuidade entre outro corpo e esse corpo, onde você estava entre os dois?
Você tem a clara visão disso, o claro sentimento?
Você apreende o que há além da Essência?

Enquanto há procura, vocês não estão instalados no bom olhar ou no bom ponto de vista, porque a procura inscreve-se no tempo e, como o disseram muitos instrutores, o tempo não existe.
Esta tudo bem.
Se o tempo não existisse, esse corpo não existiria.
Simplesmente.
Essa consciência não existiria.
Essa presença não existiria.
Só permaneceria Absoluto, esse Final.
Mas esse Final, eu repito, não é uma busca.
É uma Verdade que não depende de qualquer experiência, de qualquer corpo, de qualquer conceito, de qualquer consciência.

A consciência é ligada à experiência e à projeção, qualquer que seja a consciência.
O único momento em que vocês não têm consciência é aquele em que dormem e, no entanto, vocês acordam pela manhã tendo, como eu já disse, o sentimento de serem os mesmos.
Porque, há o quê?
A memória da véspera, a memória de uma história limitada a essa vida ou – para os buscadores espirituais – a todas as suas vidas.
Mas qual importância?
O que era ontem não é o que vocês são hoje.
E o que vocês São, realmente, nada tem a ver com o tempo.

O tempo é uma criação artificial, qualquer que seja o tempo.
Aliás, o tempo é o espaço desprovido de tempo, mas vocês não são, tampouco, qualquer espaço.
Vocês não dependem do espaço/tempo.
O que depende do espaço/tempo é uma pessoa.
Vocês não são uma pessoa.
É um jogo.

Enquanto vocês continuarem uma pessoa, alternarão prazer e desprazer, sofrimento e alegria.
Assim que há emoção, há tempo, há reação.
Enquanto há conceito, enquanto há pensamento, há tempo.
O tempo é a ilusão que os faz crer em um caminho e que os perde em um caminho, que lhes dá satisfações, que nutre a Ilusão e a esperança ou a desesperança, mas vocês não são nem esperança nem desesperança.

Vocês são o que foi chamada a Morada de Paz Suprema, esse Contentamento Absoluto que existe assim que vocês não são mais uma pessoa nem um indivíduo.
Ora, o paradoxo é que a pessoa, como você exprime, ou o indivíduo, se você está no Si, passa seu tempo a reivindicar uma procura do que já está aí.

Quando você tiver apreendido que nada há a buscar, que nada há a procurar, que não há qualquer caminho, o caminho parará por si mesmo, a busca parará por si mesma.
Você sairá da esperança e da desesperança.
Você não será mais afetado pela vida desse corpo, pela vida desses pensamentos, desses conceitos.
E, no entanto, isso não desaparecerá, porque isso tem um prazo, mas o ego vai fazê-lo crer que, se você encara esse ponto de vista, você põe um termo em sua vida, o que é falso.
O ego é muito astuto para evitar-lhe de pensar assim, porque ele sabe que se você percebe esse gênero de pensamento, essa refutação, ele vai desaparecer.

O saco de alimento que você é ocupará, sempre, um espaço e um tempo determinados, mas você não será mais essa pessoa nem essa identidade.
Naquele momento (que não depende de um tempo, mas de um ponto de vista), saiam dessa noção linear de tempo.
Não há espera, já está aí.
Aceitar isso é, já, extrair-se do eu, da pessoa ou do indivíduo.

Eu repito, ainda, para você: a espera corresponde ao tempo, o caminho corresponde ao tempo.
O ego vai encontrar todos os pretextos para dizer-lhe que a vida é eterna, mas você sabe o que é a Vida?
Onde está a Vida?
Será que ela está no efêmero, no que é perecível, ou no que sustenta, absolutamente, tudo?

Se eu insisto tanto sobre o ponto de vista, é que o ponto de vista os faz sair do tempo.
E o único modo de sair do tempo é entrar no espaço, não para ocupar o espaço ou os espaços, não, unicamente, para estabelecer Comunhões ou Fusões ou, mesmo, Dissoluções, mas, bem mais, para extraírem-se, a si mesmos, de sua própria consciência, o que eu nomeei a-consciência.
A consciência tem tanto medo de não mais existir que ela se constrói quimeras no eu, como no Si.
A incompletude do eu ou do Si compraz vocês a procurar essa completude, enquanto ela sempre esteve aí.
Simplesmente, a completude, vocês a instalam no tempo de uma vida ou de várias vidas ou em conceitos e pensamentos que se estendem, também, no tempo.
E vocês mantêm, assim, de modo indefinido, a experiência.

A experiência não é o Absoluto.
Justamente, é a cessação da experiência, de toda ilusão.
A Morada de Paz Suprema é o testemunho do Absoluto, na forma.
A forma não é mais afetada nem pelos conceitos, nem pelos pensamentos, nem pelas experiências.
Ela vai para onde deve ir.
A vida desenrola-se como deve desenrolar-se, na maior das facilidades, mesmo com uma doença muito grave, mesmo sem comer, mesmo sem dinheiro ou mesmo na riqueza e na felicidade.
Isso nada muda.

O que mudou?
O ponto de vista.

Mudar o ponto de vista: não há alternativa.
Agora, é preciso apreender, também, que a culpa para nada serve.
Se você considera que as experiências são boas para você, então, você tem a eternidade de seu tempo para realizá-las.
Não considere, jamais, o Final como um objetivo, porque não é um objetivo.
É uma Realidade Absoluta que já está aí.
É isso que é, de algum modo, o nó do problema.

A consciência está ligada ao linear e ao tempo.
Vocês não são ligados à consciência e, ainda menos, ao tempo.

Prossigamos.

Questão: como viver a paz e a alegria?

Eu lhe responderei: por que viver a paz e a alegria?
Já, na questão, você dá a entender que a paz e a alegria não estão aí.
A Morada de Paz Suprema não se importa com pazes e alegrias efêmeras.
Mesmo a alegria do Si não se mantém.
Ela apenas se mantém pela lembrança da experiência ou pela repetição do Si instalado no Samadhi, como experiência.

Você deve, primeiro, definir o que quer porque, quando você diz: «como viver a paz e a alegria ou estar na paz e na alegria?», quem pergunta isso, se não é a personalidade que quer ser apaziguada, mas, sobretudo, manter-se, continuar a existir?
O que é que faz com que a personalidade tenha necessidade de manter-se e de existir?
É, é claro, o medo.
Mas, enquanto o medo está aí, qualquer que seja, nenhuma paz, nenhuma alegria pode conduzi-la à Morada de Paz Suprema.

O medo é inscrito na memória, na história e nas experiências, porque o saco de alimento existe apenas pelo medo.
Sem medo, ele não teria, mesmo, aparecido.
Ele não teria, portanto, necessidade de desaparecer.

Procurar a paz e a alegria é procurar um medicamento espiritual, não químico, mas um medicamento.
É, já, saber que algo não está bem.
É querer aportar uma solução.
Não há solução.
Não há problema, tampouco.
Tudo depende do olhar.
A paz, a alegria é algo que vocês querem conquistar, porque vocês consideram que é exterior ao que vocês são, porque tudo isso é oriundo do princípio de falta, do princípio de medo.

Justamente, o medo e a falta são a característica do efêmero, de tudo o que é dual.
O equilíbrio da dualidade não poderá, jamais, atingir a Morada de Paz Suprema, porque esse equilíbrio é instável.
Ele oscila, seja no eu, seja no Si.

Só o Absoluto que você É, de toda a eternidade, permitirá a você superar esse «como» ou esse «por que».
Aí também, o ponto de vista é primordial porque, enquanto você reflete, enquanto faz esforços, enquanto crê progredir, você continua e permanece na personalidade e, em caso algum, na Morada de Paz Suprema.
É preciso mudar de Morada.
Esse corpo está aí e, se você o suprime, ele voltará.
Portanto, de nada há a fugir, nada há a rejeitar ou a adotar.
Há apenas que mudar seu olhar, porque todo olhar adotado pela personalidade ou pelo Si é apenas o resultado de uma projeção, de um conceito, de um pensamento, de uma ideia ou do que quer que seja mais.

Se você quer viver a Liberdade ao invés da paz ou da alegria, então, libere-se, porque você já o É.
A consciência, eu lembro a você, é uma projeção ao exterior.

Você constrói o Si, como o eu, através da negação do que não é você, do que não é o Si.
Você define, para isso, certo número de critérios ou de ideais.
E você procura.
Então, é claro, é mais fácil estar no Si do que no eu porque, no Si, a paz e a alegria são, geralmente, frequentes, ou cada vez mais frequentes em intensidade, em tempo, em espaço e em consciência.
Mas isso não será, jamais, a Morada de Paz Suprema, porque você é tributária do que você mesma criou como conceito, como ideia, como pensamento, como objetivo.

A partir do instante em que você aceita que não há nem como, nem por que e, portanto, qualquer objetivo, a verdadeira Paz pode começar a aparecer ao seu olhar, porque a verdadeira Paz não depende de qualquer circunstância exterior, nem mesmo Interior.
Essa paz, chamada Morada de Paz Suprema, é o que é o Absoluto, que não depende de qualquer condição, de qualquer ideia, de qualquer conceito e, sobretudo, de qualquer projeção.

Aceitar isso é vivê-lo.
Mas não ponha ali, por trás, a noção de objetivo.
Não ponha ali, por trás, uma expectativa.
Em resumo, não ponha ali qualquer tempo, porque o ego, como o Si, vão tentar prendê-la no tempo, um tempo mais ou menos amplo, mais ou menos expandido, mas, sempre, um tempo.

Substitua o tempo pelo espaço, ou seja, não procure localizar-se em outro lugar, não mais do que você procura localizar-se nesse corpo, nessas ideias, nesses conceitos ou nesses pensamentos.
Naquele momento, a necessidade de experiência calar-se-á.
O observador será, ele mesmo, visto.
E você é, muito exatamente, o que se tem por trás do observador que, ele, jamais experimentou o que quer que seja.
É o sono, é a Dissolução.
São os momentos que vocês todos conheceram, pela manhã, ao acordar: quem sou eu ou onde eu estou?

Quando vocês acordam assim, ao invés de pensar em suas angústias, em seu marido, em sua mulher, o que acontece?
Vocês estão, muito precisamente, um bilionésimo de segundo, um segundo, na Morada de Paz Suprema.

Lembrem-se de que é sempre a consciência que procura a prova, que procura a experiência, que procura o tempo.
A partir do instante em que você apreende isso, não se põe mais a questão da paz e da alegria.
Mas, para isso, você deve extrair-se de todas as identificações: «eu sou um homem», «eu sou uma mulher», «tenho tal idade», «tenho tal trabalho», «ocupo tal função».
Vocês nada são de tudo isso.

Eu não disse que isso não existia.
Bem ao contrário: isso existe.
Mas, será que é você o que existe ou você É outra coisa?
Se você quer a paz e a alegria, nada seja de tudo isso.
Extraia-se, você mesma.
Para isso, a pessoa deve desaparecer, não desaparecer por um fim de vida que seria, ainda uma vez, apenas um espetáculo irrisório, mas, efetivamente, extrair-se de toda consciência, de toda experiência, de todo folclore, de todo espetáculo.

Se você conseguisse fazer isso, além de alguns bilionésimos de segundo ou segundos, você não teria mais qualquer problema de paz ou de alegria ou de corpo ou de consciência.
A Vida desenrolar-se-ia sem intervenção do ego ou do Si.
Você esperaria calmamente, fazendo o que há a fazer, o que a Vida dá a fazer sobre esse mundo, mas você não seria mais afetada pelo que quer que fosse.
Aí está a Liberdade.

Então, é claro, há, entre vocês, os que fizeram experiências fora desse corpo, fora desse tempo, fora dessa Dimensão, mas isso continua apenas experiências.
O Absoluto está além de toda experiência.
Mas, se você tem sede de experiências, então, você as viverá.
Se você tem sede de encarnação, então, você as viverá até mais sede.
O ser humano sempre tem sede, porque ele é construído sobre o medo e sobre a falta.
Se, um dia, você não tem mais sede, isso quer dizer que não há mais medo e mais falta, que não há mais procura de paz e de alegria, porque você terá se tornado o que você É, de toda a eternidade: a Morada de Paz Suprema.

Mas, enquanto você está apegada a você, ao que você crê ser você (esse corpo, essa pessoa, essas ideias, esses conceitos, essa procura, esse espetáculo), você participa do espetáculo, de uma maneira como de outra, como ator ou aquele que olha, mas você não saiu da ilusão.
E a ironia é que o ego, como o Si, são persuadidos de que eles poderão continuar a ser esse efêmero porque, finalmente, o ego e o Si quereriam que o efêmero durasse.
Mas o efêmero não se tornará, jamais, Absoluto.
É uma Ilusão.
Nesse sentido, procurar o Absoluto nada quer dizer.
Procurar a paz e a alegria é uma projeção da consciência e nada quer dizer para o Absoluto.

O Absoluto é exatamente o momento em que todo ponto torna-se o centro e não há centro a procurar, porque tudo é centro.
E nada há a projetar, quando tudo é centro, porque cada centro produz as características de qualquer outro centro (suposto, projetado ou imaginado).

Você não é o ponto de vista da pessoa, tanto em suas alegrias como em seus sofrimentos.
Aquele que é Absoluto pode manifestar algo nesse saco – e, mesmo, algo de manifestado, de muito doloroso – e, no entanto, ele não é isso.
E, se ele o sabe, então, qualquer que seja o sofrimento, ele não pode ser afetado ou alterado com isso.
Aí está a verdadeira Paz.
Aí está a verdadeira Alegria.
Bem além da contemplação da Luz porque, enquanto vocês contemplam ou olham, vocês põem uma distância.

Quando eu digo: «mudem de olhar» ou, antes, «mudem de ponto de vista», isso os leva a extrair-se de todo olhar e, portanto, a não mais olhar, porque o único modo de tudo ver é estar ao centro.
Ora, o centro não se move, jamais.
Ele está por toda a parte.
A imobilidade, como o sono, participa do estabelecimento do que eu nomeei a-consciência.

Então, quer a busca de um ideal, de um marido, de uma mulher, de um trabalho, de um além, afasta-os.
É o paradoxo.
Vocês creem avançar, mas recuam, enquanto não compreenderam que jamais se moveram.
Vocês passam de um ao outro e seus humores flutuam, no mesmo sentido, e seus pensamentos flutuam, no mesmo sentido.

É como quando vocês dizem: vocês procuram o Amor.
Mas vocês São o Amor.
Vocês não podem procurar o Absoluto, porque vocês o São.
Vocês não podem procurar o Amor, porque vocês o São.
Vocês não podem procurar a Luz, porque vocês o São.

É essa noção, mesmo, de busca que, a um dado momento, em sua busca temporal, deve cessar.
Pode-se dizer que esse mundo existe apenas porque multidões de consciências ali se projetaram.
Quando vocês dormem, como eu disse, o mundo desaparece.
Vocês não se colocam a questão de saber se ele vai reaparecer amanhã.
Aliás, vocês têm a certeza disso?

Não existe, como vocês sabem, qualquer certeza sobre esse mundo, se não é a morte desse saco.
Não se coloquem a questão da evolução desse saco, nem de leis desse saco, mas, verdadeiramente, por que e quem São vocês, sabendo que vocês não encontrarão qualquer resposta no que lhes é dado a perceber, a sentir e a ressentir, porque vocês São além de tudo isso.
Mas, enquanto sua consciência está voltada para uma projeção de um ideal (mesmo o mais elevado, mesmo o mais Amor), isso continua, sempre, e continuará, sempre, uma projeção que os afasta da Morada de Paz Suprema.
Aceitem esse postulado.
Façam dele a Verdade, porque não há outra.

Lembrem-se: o efêmero é construído sobre os medos e as faltas.
Se vocês procuram preencher os medos e as faltas, vocês mantêm o efêmero, nessa vida ou em outras vidas.
Vocês São, verdadeiramente, isso?
Agora, se vocês são, verdadeiramente, isso, então, continuem.
Cabe a vocês decidir: o efêmero ou o Absoluto?
A Morada de Paz Suprema ou a alegria do Si?
Contemplar-se, a si mesmo, no umbigo, ou no coração, ou parar a contemplação, a fim de ser o que vocês São, além de todo tempo?
Cabe a vocês definir.
Cabe a vocês decidir.

Nenhum elemento exterior pode decidir em seu lugar: nenhuma paz projetada, nenhuma alegria projetada, nenhum amor projetado, nenhum efêmero.
A ironia do efêmero é fazê-los crer que podem encontrar o Infinito no efêmero.
É falso.
O melhor modo de encontrar a Paz e a Alegria eternas é esquecer-se de si mesmo.
É o que acontece quando você dorme, normalmente.

Questão: como eu posso refutar o medo de não saber formular e colocar uma questão?

A questão é uma interrogação: toda questão, aquela que você pode colocar-me ou não importa a quem.
Quando você se coloca a questão de saber se chove, você olha na janela ou vai ver o céu.
O problema é que, se você se coloca uma questão do Absoluto, você não pode ter resposta.

O princípio é: «você é o que você procura».
Que quer dizer o medo, ainda uma vez?
O medo é apenas a falta, empurrada ao extremo.
E todos os medos – como eu disse – nascem no mito da morte.

É muito fácil dizer que o ciclo da vida e da morte faz parte da vida.
Caso em que, eu lhe respondo: onde você está quando está morta, uma vez que você não está mais na vida, tal como a definiu?
A consciência desse corpo, do eu, como do Si, desaparece.
Será que você vai desaparecer?
Sim.
O medo está aí.

O medo de fazer uma pergunta – ou de não saber fazê-la é destinado apenas a dar-lhe ainda mais medo.
Enquanto você põe uma identidade – ou uma não identidade – no medo, você considera que o medo é sua vida.
Pouco importa saber se o medo vem disso ou daquilo, uma vez que, em definitivo, todo medo é ligado e justificado apenas pelo efêmero.

Quando você dorme, sem sonho e sem pesadelo, você tem medo?
O que é que tem medo?
Enquanto você nutre o medo (de não saber, de viver o que quer que seja de desagradável), você não pode ser Absoluto (que já está aí).
Pode-se, mesmo, dizer que o ser é sustentado apenas pelo medo.
Porque o ser que é sustentado pelo Amor, pelo que ele É, é Absoluto.
Aí também (e ainda uma vez), o que falha é a falta e o medo.
A falta e o medo inscritos no limitado.

Isso quer dizer o quê?
Que você está identificada ao seu saber, à sua pessoa.
Você está, portanto, apegada ao efêmero.
Aí, vem o medo.
Aí está a origem inicial e final do medo.

Ora, a única coisa à qual você não pode estar apegada é o que você É, em Verdade.
É o apego à pessoa – que não é o que você É – que inicia o medo e o mantém.

O medo é uma secreção do corpo e seus sábios sabem disso: há hormônios do medo, como há hormônios da alegria.
Mas será que você é uma secreção desse corpo?
Não.
Você, simplesmente, a ele está identificada.
Por quê?
Por causa do medo.

O medo engendra o medo.
Não há qualquer meio de sair dele.
Você pode ali colocar o bálsamo (calmante) do Si.
Você pode ali colocar o bálsamo (calmante) do sono ou da química, Para lutar contra o excesso ou a insuficiência nesse corpo.
Mas você não é nem o excesso nem a insuficiência, tanto de um como do outro.

Imagine – porque é a Verdade – que o medo é secretado pelo corpo.
O medo tem um odor, aliás: há química nele.
Mas, será que você é essa química?
Não.
Simplesmente, sua consciência ali se identificou.
E você vai responder-me que, quando vive o medo, você tem medo.
Ou que, quando vive a fadiga, você fica fatigada.
Ou que, quando vive a morte, você vive a morte.
Mas você não pode morrer.
É esse corpo que morre.

Enquanto vocês têm medo da morte, vocês têm medo de viver.
Enquanto vocês têm medo de viver, vocês têm medo da morte, porque vocês não sabem o que há após o efêmero.
Mas vocês não podem sabê-lo, de maneira alguma, em experiência alguma, mesmo de reencontro com a Luz.
Isso apenas pode dar-lhes belas lembranças, bálsamos calmantes no sofrimento e no medo, que substituem a secreção do medo pela secreção da paz ou da alegria.
Mas a Morada de Paz Suprema não é inscrita na química.
É o olhar que muda.

Aquele que tem medo inscreveu sua crença no efêmero, qualquer que seja esse medo, qualquer que seja o efêmero que é vivido.

Vocês não podem encontrar qualquer contentamento definitivo fora do que vocês São, verdadeiramente.
Porque todas as alegrias, todas as dores duram apenas um tempo.
Todos os seres humanos sabem disso.
Mesmo os grandes seres que viveram a Morada de Paz Suprema – e que viveram, portanto, o Absoluto, na forma – passaram por essas etapas, porque isso faz parte da ilusão desse mundo.

Você não pode demonstrar a ilusão desse mundo.
Você não pode demonstrar a ilusão desse corpo porque, se nele se bate, há dor, e a consciência vive-a.
Você pode apenas refutá-lo.
Refutar não é demonstrar.
Refutar não é opor-se E, ainda menos – como eu já disse – negar.

É mudar de olhar, de ponto de vista.
Vocês não são nem o que sofre, nem o que está contente, nem o Si, nem o eu.
Se vocês aceitam isso, vocês o vivem.
Nenhum medo pode emergir.
E, mesmo se ele emerge, ele não tem qualquer tomada.
Mas, enquanto vocês lutam, enquanto se opõem ao que quer que seja, na ilusão, vocês mantêm a ilusão.

Quando vocês dormem, a ilusão não existe mais.
É, efetivamente, aí que está o problema.
O medo é um estímulo que mantém você na ilusão porque, para aquele que está na ilusão, a ilusão dá menos medo do que o Absoluto.
Aliás, para ele, o Absoluto não existe ou, então, ele o vislumbra em um tempo futuro, como um esforço a fornecer, algo que está longe, tanto no tempo como no espaço.
Isso faz apenas assinalar o apego formal ao saco de alimento ou ao saco de pensamentos.
É a mesma coisa, mesmo se você não o veja.

Aquele que disse: «eu penso, portanto, eu sou» não pode penetrar o não ser, não pode abandonar o «eu sou».
Ele pode apenas refiná-lo e construí-lo.
Mas, quanto mais ele refiná-lo e quanto mais construí-lo, mais ele se confinará, a si mesmo, em seu próprio isolamento, em seu próprio medo, em seus próprios corrimões, em seus próprios limites.

Enquanto há limite, enquanto há corrimão não há Liberdade.
E, no entanto, vocês reivindicam, todos, a liberdade.
Mas vocês têm medo da liberdade, porque é o que vocês São.
Só a consciência impede-os de vê-la.
Não é algo a conscientizar-se, mas é algo a fazer cessar.
É exatamente o inverso do que quer fazê-los crer a pessoa que vocês creem ser (esse saco de alimento, esse saco de pensamentos).

Lembrem-se: nenhum saco, mesmo o mais perfeito, é Absoluto.
Porque um saco é um limite entre o que está dentro e o que está fora.
Portanto, enquanto vocês consideram que são um saco, isso quer dizer que consideram que há um fora e um dentro.
E, enquanto vocês consideram isso, o medo está aí.
É uma secreção do saco.

Vocês não são o saco.
Vocês não são, tampouco, o que constitui o saco.
Vocês não são, tampouco, todos os sacos.

O Absoluto não conhece o limite.
Não há, portanto, saco.
Mas deixe tranquilo esse saco, não se ocupe dele, deixe-o viver o que há a viver, seja no trabalho, no amor ou no quer que seja.
E você se aperceberá de que, se você o deixa viver, sozinho, sua vida tornar-se-á maravilhosa e o Absoluto estará aí.
É, justamente, a implicação da própria pessoa – ou do próprio Si – que confina o saco e que torna esse saco medroso.

Tudo o que vocês chamam de controle, de mestria é a ausência de Liberdade.
É uma imposição.

Então, vocês vão defender-se dizendo que estão encarnados e que é preciso estabelecer regras.
Mas as regras são boas para o saco, para os pensamentos, para a moral, mas não para o que vocês São, exceto se você considera que você é algo de moral.

Você não é mais a moral do que o medo.
Você não é mais essa vida que se vive do que essa morte que se vive, do que esse nascimento que é vivido.
É um concurso de circunstâncias.
Quer você a chame cármica ou evolutiva, é falso.

Saia de tudo o que a obstrui e você verá que o medo não existe em outro lugar do que no que a obstruía.
O saco não é culpado (nem o de alimento, nem o de pensamento).
Ele está aí, e é tudo.
Mas você não Está aí.
Descubra onde você Está (fora do tempo), e verá que esse saco de alimento e de pensamentos ficará ótimo, independentemente do que ele viva ou não.
Enquanto você continua tributária de emoções, de medos, de perdas ou de ganhos, é a mesma coisa, é ilusório.

O ser humano, de uma maneira geral, quer colocar a Eternidade no efêmero.
Mas é falso.
É o efêmero que está na Eternidade.
O Absoluto contém o efêmero.
Mas nenhum efêmero pode conter o Absoluto.
É da matemática elementar.

Você não pode ser o centro e a periferia.
Você não pode ser o movimento e imóvel, exceto se você se torna o centro e translada esse centro por toda a parte, uma vez que é o mesmo centro.
Quando eu lhes dizia – ou quando lhes diziam, sobretudo agora – para ficar tranquilos, isso não quer dizer ficar sentado em um canto e nada fazer.
É ficar tranquilo nos pensamentos, não dar peso e tomada nem ao medo, nem às experiências, nem ao que quer que seja.

Vocês querem ser a Morada de Paz Suprema que vocês já São e fazem tudo para afastarem-se dela.
A Morada de Paz Suprema não se importa com o que vocês fazem ou com o que creem ser.
Ela já é o que vocês São.
Vocês São isso.
Vocês São o centro.

Vocês não são o centro do mundo: caso contrário, é o eu.
Vocês não são mais o centro do coração: caso contrário, é o Si.
Mas vocês São todos os centros, não unicamente esses dois.

O que é que os limita?
O saco.
Mas vocês não são esse saco, nem de ideias, nem de pensamentos, nem de alimento.
Aceitem isso, porque é a Verdade.
Isso não é uma crença, é, justamente, o fim de todas as crenças.
Parem de crer.

Quando você me diz: «tenho medo», mostre-me seu medo.
Você é capaz de mostrá-lo a mim?
Quando você diz: «eu sou esse corpo», eu vejo esse corpo, mas prove-me que você é esse corpo.
É uma crença, uma experiência, mas não é a Verdade.

Se você se libera desses pesos, mesmo se isso lhe pareça absurdo (mas, é claro que o ego vai achar que isso é absurdo, e o Si também), mas, se você vai ao que você nomeia absurdo, você se descobrirá Absoluta.
Porque, lembre-se de que, para o conhecido – para a pessoa como para o indivíduo – o Absoluto é absurdo.
Mas, obviamente, desse ponto de vista, sim.
Reverta o ponto de vista e você viverá o que você É.

Questão: de um dia para o outro, a vida que eu levava e que era aquela que eu sempre havia desejado apareceu-me vazia de sentido, como se fosse a vida de outra. Hoje, eu não me reconheço mais, nem nas escolhas que fiz, nem naqueles que se apresentam a mim. Que fazer?

Justamente: nada fazer.
Não há qualquer solução a aportar, uma vez que você encontrou a solução.
Se posso exprimir-me assim, você está a cavalo entre o jogo do Si e o Absoluto.

É claro, como você sabe, não há passa bem, nem do eu, nem do Si para o Absoluto.
Mas ser Absoluto é quando o eu e o Si são absurdos.
É exatamente o que você vive.

Portanto, eu a felicito, e você deve felicitar-se.
Isso prova, simplesmente, que o eu não quer mais jogar.
Isso prova que o Si, que era o objeto de todas as suas atenções, ele também, dissolve-se.
Sobretudo, nada peça.
Nada projete.
Você está no bom caminho, aquele que lhe diz que não há caminho.
Não escute, aliás, qualquer voz, mesmo a minha.
Porque você ali está.
Vá aos limites do que lhe parece, justamente, absurdo.
O Absoluto está aí.

O que acontece – e o que você vive – foi chamado de dissolução da alma – ou a consumação da alma – que não está mais voltada para a ilusão, nem para a experiência, mas que remonta ao Espírito.
Vocês têm aquela que foi uma grande dama, que lhes falou disso – Ma Ananda Moyi – em numerosas reprises.
Não há outro modo de desaparecer e de aniquilar-se.

O desaparecimento não é a morte.
Desaparecer é sair do parecer.
É, enfim, ser claro, nada mais parar, nada mais desejar.
Não é a morte do desejo, não é o desinteresse, mas é a Verdade.
É o lugar fora do tempo – o centro, como todos os centros – no qual se encontram todos os contentamentos.

Então, é claro, do ponto de vista do que é limitado, isso pode parecer-lhe perturbador, desesperador, vazio.
Mas, se você vai ao fim, é pleno, é o Absoluto, é isso.
Há apenas, aí também, a percepção do observador que observa que tudo o que fazia sua vida não existe mais.

Mas como eu disse: você não é sua vida, inscrita entre o nascimento e a morte.
É preciso, efetivamente, pôr fim ao que é conhecido, a tudo o que é conhecido, para, enfim, estar, além do eu sou, na não consciência que eu chamei a-consciência, que não é a inconsciência.

Portanto, sobretudo, nada faça, nada mude.
Fique tranquila porque, à força de observar esse neant (como você o observa), o Absoluto está aí.
Nada há de mais simples.

Assim que isso lhes pareça complicado, é o eu que intervém, a pequena pessoa, o saco.
Fique aí onde você está e deixe desenrolar-se o que se desenrola.

Se você aceita isso, sem implicar-se, sem indiferença, sem desejo do que quer que seja, e se você faz, mesmo, cessar o jogo do observador, você sairá do teatro.
É a única condição possível para viver e Ser a Morada de Paz Suprema, tanto aqui como por toda a parte.
Você terá vivido suas Trevas, que, no entanto, você chamava suas Luzes, que partiram.

Não se esqueça de que você está invertida nesse mundo: que o que vocês chamam o vazio é pleno e que o que vocês chamam a matéria é vazio.
Seus sábios sabem disso.
Você tem a chance de vivê-lo.

Então, não procure saber, porque o saber é uma projeção.
O que você vive porá fim à experiência e, portanto, à consciência limitada.
Nenhuma dúvida é possível aí.
E, se vocês se interrogam, uns aos outros, vocês se aperceberão de que é o caso para muitos de vocês que trabalharam para o Si.

Aí também, cada vez mais, o que há a apreender é não um saber, nem uma compreensão, nem uma experiência, nem o eu, nem o Si, mas, simplesmente: mudem de ponto de vista.
Aceitem a aparente absurdidade da coisa para descobrir o verdadeiro sentido, ou seja, a Essência (e não os sentidos, em duas palavras).
Não há sentido algum.
O sentido engana-os.
Só a Essência – em uma palavra – é a solução.

Enquanto há sentidos não há Essência.
Enquanto vocês querem dar sentido, uma lógica, à sua vida, às suas experiências, ao seu Si, vocês não estão prontos para soltar, vocês se prendem ao efêmero.

Portanto, o que você vive (ou, antes, o que você não vive) é, muito exatamente, isso: o que você É.
Então, é claro, a personalidade, o Si devem fazer o luto, porque é uma morte do efêmero.
E isso pode dar medo ou, em todo caso, interrogar.
Se você supera o medo ou a interrogação constatará, muito rapidamente, que você É a Morada de Paz Suprema.
Está aí.
Você é isso.

Eu repito: não procure compreender, agora.
Você terá todo o tempo para refletir e compreenderá, então, que nada há a refletir.
Há apenas que deixar ceder o que morre, não mais nutri-lo, não procurar saber.

Então, dito de modo poético, dir-lhes-ão: «volte a tornar-se como uma criança».
Mas uma criança é, ainda, um saco.
Vá além da criança, antes do saco.
Você ali É.

Questão: uma fragilidade faz-me passar do riso, da leveza, ao peso, aos pensamentos obsessivos contínuos, sem mesmo conscientizar-me disso. Então, sou incapaz de amar e de ser amada, de centrar-me e, mesmo, de refutar. Como sair desse inferno?

Mas o inferno é você, no que você crê ser.
Não há outro inferno.
Reflita.

Amar ou ser amada é, já, considerar que há uma falta, uma vez que você É Amor.
Projetar o amor é afastar-se de Ser Amor, porque aquele que É Amor, absolutamente, não tem necessidade de decidir amar ou de procurar amar, nem mesmo ser amado, uma vez que é sua Essência.

Há, por trás de sua questão, a culpa.
O efêmero oscila: você não pode encontrar equilíbrio, de maneira alguma, de modo durável, no efêmero.
O problema é o narcisismo porque, fundamentalmente, esse inferno que você descreve é ligado ao seu próprio narcisismo, à necessidade de puxar para si, no eu.
É o centro do umbigo.
É procurar causas para o sofrimento, para as oscilações, para os humores.
Mas, fazendo assim, você mantém a ilusão de não se crer digna de amar ou de ser amada.

Mas você não tem que ser digna (ou indigna), uma vez que você É Amor.

Enquanto você procura o amor no ato de amar, na necessidade de amar – ou na necessidade de ser amada – você faz apenas renegar sua própria natureza.
Todos os seres humanos reivindicam agir, no mínimo uma vez em sua vida, por amor, qualquer que seja a expressão desse amor (sexual, filial, passional, espiritual).

Enquanto você procura, há falta.
Se você não procura, não há mais falta.
Procurar o amor é como pedir a uma maçã para procurar um caroço.
Mas o caroço está dentro.
Você não pode procurar em um exterior uma satisfação interior, se não é para ficar e continuar na Dualidade e na alternância prazer/desprazer, em qualquer amor que seja (sexual, passional, filial).
Tudo isso são amores humanos que apenas refletem a falta de amor do que vocês São, realmente.
Porque seu olhar não é bom.
Tudo isso vem das crenças, de todas as crenças, quaisquer que sejam, de todas as memórias (tanto as suas como aquelas dos outros), quaisquer que sejam.

Mas vocês não são um ser de memória ou de crença.
Vocês São Absoluto.
Vocês São Amor.

Como é que o que é ilusório (Maya) poderia aportar qualquer satisfação que fosse duradoura?
Porque, mesmo a satisfação a mais duradoura apagar-se-á com sua própria morte, desse corpo de alimento.
O ego crê-se, permanentemente, imortal.
Em todos os amores que existem, ele os quer infinitos e eternos, para além da morte.
Mas nenhum amor, vivido aqui, é o Amor.
Todo amor – mesmo o mais desinteressado, mesmo o mais espiritual – é apenas a tradução da falta de reconhecimento do que vocês São: Amor.
Como o medo, como o narcisismo, como o inferno, que são apenas não reconhecimentos de sua natureza, de sua Essência.

Vocês põem peso onde não existe peso algum.
O Amor não é uma responsabilidade.
O Amor não tem que ser justificado e não é justificável.
Ele não tem que ser buscado ou procurado.
Não há, mesmo, que se colocar a questão da manifestação dele ou de sua ausência, ou de sua presença.
Porque é o que vocês São.
É o ego que quereria Ser Amor.
Mas ele não poderá, jamais, Sê-lo, uma vez que o ego é construído sobre a falta de Amor, sobre o medo.

Portanto, você não pode continuar no umbiguismo e reivindicar o Amor.
O único verdadeiro Amor é aquele no qual vocês desaparecem como pessoa, como indivíduo, como consciência, como busca.
Se vocês pudessem parar tudo isso, com um golpe de varinha, e ficar tranquilos, constatariam, instantaneamente (como eu já disse), que vocês não são nem o ator, nem a cena de teatro, nem o espectador, nem o teatro.
Vocês atuam em um desses papéis e creem tanto nisso, enquanto sabem, pertinentemente, que todo papel tem um fim, como esse saco.

Então, pode-se falar da alma, do Espírito.
Mostrem-nos a mim.
A única verdade é o Amor, Morada de Paz Suprema, Absoluta, Eterna, não efêmera, não eu, não Si.

Enquanto há reivindicação sobre a pessoa, isso quer dizer, simplesmente, que vocês estão instalados na pessoa.
Se não há pessoa, a pessoa não pode ter o mínimo problema.
É impossível.

Tomando outro exemplo: é como se você me dissesse: «eu não quero mais estar no andar térreo, mas quero estar no quarto andar do prédio», mas você persiste em continuar no andar térreo, sem querer movimentar-se ao quarto.
A expressão que vocês poderiam empregar é: querer um e o outro.

Vocês não podem querer, ao mesmo tempo, o efêmero e Ser Absoluto.
Lembrem-se: o efêmero não pode conter o Absoluto.
O Absoluto contém o efêmero.
É tão simples, que jamais o ego aceitará, que jamais o Si aceitará, tampouco.
Porque eles se têm a fazer-lhes passar o efêmero por Eterno.

Assim, mesmo se isso seja difícil a entender, para a pessoa: você não é essa pessoa.
Mas, enquanto você continua na pessoa, você continua no narcisismo, que é sofrimento, ou, no máximo, na alternância sofrimento e satisfação.
Ora, toda satisfação requer sua reprodução (em todos os sentidos do termo, reprodução): em você, pelos medos que voltam e que giram, mesmo, pela necessidade de reproduzir-se, para esperar reencontrar-se em uma continuidade efêmera.

Toda pessoa é inscrita nessa necessidade de reprodução.
Todo esse saco de alimento apenas pode existir por esse princípio de reprodução.
É, justamente, disso que é preciso tomar consciência e extrair-se.
E, depois, desembaraçar-se, também, da consciência que o percebeu.
Porque, quanto mais vocês escavam – esperando encontrar a Luz – mais vocês se afundam nas Trevas.
Eu poderia chamar isso de psicologia de saco.
E é a Verdade.

Busquem sem buscar.
Parem, e vocês avançarão.
É preciso desembaraçar-se de tudo o que chega à consciência.

Então, eu posso imaginar que a pessoa confinada vai querer desembaraçar-se do que faz sofrer.
Mas ela não consegue compreender como ela deve, também, desembaraçar-se do que põe na alegria.
Isso não quer dizer sair de uma relação, mas é, aí também, mudar de ponto de vista.

Quando eu me dirijo assim a vocês, a pessoa pode compreender – erroneamente – que é preciso afastar-se de uma profissão, de um marido, de uma mulher, de uma relação.
Mas eu jamais disse isso.
É o que vocês entendem, ao nível da pessoa.
E vocês o entenderão sempre assim, enquanto estão instalados na pessoa.

Aceitem não mais ser pessoa, e vocês verão.
Mas, a partir do instante em que vocês empreendem uma ação para não mais ser pessoa, suprimindo isso ou aquilo, vocês nada apreenderam.
Porque eu não me dirijo, necessariamente, à parte que ouve minhas palavras, num primeiro tempo.
E é por isso que eu lhes digo, a cada vez, para tomar o tempo para compreender.
Se você nada compreende, agora, tanto melhor, porque eu me dirijo ao que está além da compreensão.
Eu não me dirijo à pessoa que escuta, mas àquela que ouve.
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2 comentários:

  1. Algumas premissas básicas, a esta altura, bastando, para tanto, a fala do Bidi (ou suficiente Clareza):

    - A responsabilidade nos recai pelo que expressamos e não pelo que somos compreendido;

    - Considerando que o nada ser e nada negar, em relação ao que esteja acontecendo ou a qualquer existência (impessoal), é algo intrínseco à própria natureza do Absoluto, tem-se que a refutação não diz respeito ao Não-Ser, ao Não-Si e aos Não-Eus; até porque, aí, sequer existiria o refutador (Ciclista, de acordo com Aïvanhov);

    - As datas não fazem alusão à expectativa alguma. É sempre o ponto de vista do sujeito psíquico que vê estas implicações;

    - Para fins de comunicação, quando os pronomes pessoais (eu, mim...) são mencionados, não necessariamente existe implícita a figura de alguém. Na 3DD, sempre se carece de rótulo, independente de que haja ou não conteúdo, ou que estes, rótulo e conteúdo, sejam pertinentes;

    - Sem rótulos, a consciência pessoal perderia quase 100% do seu poder de manobra, e sucumbiria. A rotulagem de objetos, situa-se meio que fora desta regra.

    Quatro dos muitos trechos brindáveis da presente MSG: "O mundo é uma projeção. Uma projeção de quê? Do pensamento e da consciência. Você não é nem o pensamento, nem a consciência, nem o agente que projetou a consciência ou o pensamento <> Ser Absoluto é quando o eu e o Si são absurdos <> Mas o inferno é você, no que você crê ser. Não há outro inferno <> O único verdadeiro Amor é aquele no qual vocês desaparecem como pessoa, como indivíduo, como consciência, como busca".

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  2. “-O que mudou?
    O ponto de vista.
    Mudar o ponto de vista: não há alternativa.
    Há apenas que mudar seu olhar, porque todo olhar adotado pela personalidade ou pelo Si é apenas o resultado de uma projeção, de um conceito, de um pensamento, de uma ideia ou do que quer que seja mais.
    ... mas, efetivamente, extrair-se de toda consciência, de toda experiência, de todo folclore, de todo espetáculo.
    Você esperaria calmamente, fazendo o que há a fazer, o que a Vida dá a fazer sobre esse mundo, mas você não seria mais afetada pelo que quer que fosse.

    Aí está a Liberdade.
    Quando eu lhes dizia – ou quando lhes diziam, sobretudo agora – para ficar tranquilos, isso não quer dizer ficar sentado em um canto e nada fazer.
    Se não há pessoa, a pessoa não pode ter o mínimo problema.

    É impossível.”

    É inacreditável, mas há Beleza e Verdade nisto.
    Noemia

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