Mensagem
publicada em 1 de julho, pelo site AUTRES DIMENSIONS.
Questão: estou ao serviço de meus
pais, ao passo que o pedido não vem deles.
Isso não me propicia alegria.
Antes, eu exprimia minha criatividade
na dança, no canto, nas atividades manuais, agora, nada mais.
O que é que acontece em mim para que
eu aja assim?
Bem, você se põe, você mesma, na
situação da qual se queixa.
Portanto, a resposta está,
obviamente, em você, e unicamente em você, uma vez que esse constrangimento
é-lhe imposto por si mesma e, como você diz, por nenhum elemento exterior.
O quadro do que eu tenho a dizer não
se coloca em uma análise de sua esfera psíquica, porque essa esfera psíquica
concerne apenas à sua vida efêmera e não corresponde, de modo algum, ao
Absoluto.
A questão que você me coloca é,
portanto, encontrar uma saída ou uma explicação a algo que, de qualquer modo, é
efêmero.
Não pode existir resposta, porque
toda resposta – mesmo a mais adequada, mesmo a mais exata, mesmo a mais eficaz
– fará apenas mantê-la em outro efêmero.
E, enquanto encarar sua vida no
efêmero, em uma satisfação (mesmo na criatividade), você continuará limitada e
continuará submissa à alternância do efêmero, ou seja, os momentos de passagem
da alegria à não alegria.
Isso é próprio de tudo o que é
efêmero.
O único modo de estar estável, o
único modo de não estar condicionada por suas ações e suas reações – felizes ou
infelizes – é compreender que você não é esse saco de alimento, que você é,
ainda menos, esse saco de pensamentos, que você é, ainda menos, essa vida que
você vive.
Enquanto você procura uma resposta
para isso, você se coloca, automaticamente, por si mesma, de acordo com o
princípio da ação/reação ou, se prefere, do bem e do mal, do que lhe faz bem ou
do que lhe faz mal.
Qualquer que seja o bem que você
encontre, o efêmero não aportará, jamais, uma satisfação permanente.
O próprio do efêmero será, sempre,
fazê-la oscilar de um extremo a outro.
E o ser humano passa sua vida, no
efêmero, a vagar de dores a alegrias, a procurar a alegria.
O objetivo de nossas conversas não é
propiciar um bem-estar, nem um mal-estar, mas mostrar-lhe a situação tal como
você a vive, tal como você a aceitou e tal como você a identificou.
Enquanto você está identificada a tudo
o que me disse (criatividade, assistência, bem-estar ou mal-estar), você não
pode sair disso porque, tanto em um caso como no outro, você mantém uma
dependência, mantém um confinamento e uma incapacidade para sair disso.
Assim é o próprio de todo ser humano
confrontado a essa vida, a esse efêmero, a essa ação/reação.
Vocês passam seu tempo a procurar
melhorar sua vida comum.
Vocês procuram, permanentemente,
obedecer a contingências sociais, morais, afetivas ou de criatividade ou de
facilidade material ou espiritual.
Mas nenhuma facilidade material,
nenhuma facilidade espiritual permitirá a você sair desse círculo vicioso.
O único modo de proceder é apreender
que você não é nem esse corpo, nem esses pensamentos, nem essa vida.
Enquanto você está identificada ao
que me descreveu, você girará em círculos.
Não existe qualquer meio, qualquer
ferramenta, qualquer técnica que lhe aportará a durabilidade e, ainda menos, o
Absoluto e o Eterno.
Você deve, você também,
distanciar-se.
Distanciar-se não quer dizer capitular
ou abandonar uma obrigação, mas mudar de localização de sua própria consciência
porque, qual é esse «eu» que tem necessidade de criatividade, qual é esse «eu» que
tem necessidade de sair de uma situação na qual ele mesmo colocou-se, se não é
o ego?
O ego passa seu tempo, no efêmero, a
ir do bem ao mal, da ação à reação, a encontrar, no lugar onde ele está
confinado, uma justificação e uma solução.
Nenhuma justificação, nenhuma solução
ser-lhe-á de qualquer ajuda, enquanto você mesma não se coloque fora daquele
que crê agir, daquele que crê ser, daquele que crê ter a exprimir uma
satisfação, uma criatividade ou o que quer que seja mais, porque tudo isso
pertence a algo que é, por essência e por natureza, efêmero.
Ora, sua essência e sua natureza são
o oposto daquilo a que você se submete.
É, portanto, uma mudança radical de
ponto de vista: é a única solução.
Enquanto você encontrar, mesmo no
efêmero, uma fonte de satisfação, uma fonte de insatisfação, você lutará,
permanentemente, você se desgastará, porque nada disso pode ser estável, nada
disso pode ser Eterno e, ainda menos, Absoluto.
Enquanto o ser humano fecha-se em
suas ilusões (e esse mundo é uma ilusão), enquanto você crê que há a resolver
algo, mesmo nessa pessoa, você não deixa esse saco de alimento viver sua vida,
você não deixa esse saco de pensamentos viver sua vida.
Você não é isso.
É preciso adotar uma mudança radical
de ponto de vista.
Isso se chama a refutação, e eu a
remeto a tudo o que eu disse.
A questão que você coloca é totalmente
irrelevante e não pode, em caso algum, aportar-lhe, em minha resposta, uma
solução.
Porque toda solução que corresponda à
sua interrogação e sua pergunta fará apenas remetê-la, ainda mais, ao efêmero.
É você mesma que se instala no
efêmero de sofrimento e de alegria.
Qualquer que seja esse efêmero, você
sabe, pertinentemente, que uma alegria não pode durar, do mesmo modo que uma
tristeza não pode durar.
Porque, mesmo a tristeza ou a alegria
a mais longa encontra-se confrontada à barreira do fim desse saco de alimento e
de pensamentos.
Enquanto você age assim, enquanto
você reage assim, você não pode encontrar a paz.
E é normal.
A questão que você coloca concerne,
unicamente, à sua pessoa e à sua personalidade e, em caso algum, ao Absoluto.
Não há alternativa para o Absoluto.
Se você quer estar em paz, além do
efêmero, você deve ver muito maior, sair dos meandros das ações/reações de sua
vida, de toda busca que requer uma solução para uma problemática.
Enquanto adota isso, você é
prisioneira de si mesma, em sua ilusão, em seu efêmero.
Eu posso, portanto, apenas engajá-la
a ir além da busca de solução concernente a esse efêmero.
Enquanto você passa sua vida a
procurar uma melhoria, enquanto passa sua vida a procurar uma facilidade,
qualquer que seja, um bem-estar, você não pode Ser.
Enquanto existe um mal-estar, você
sabe, pertinentemente, que você não pode Ser.
Mas é exatamente o mesmo para o
bem-estar porque, tanto bem-estar como mal-estar exprime-se apenas no efêmero,
no que se move, o que não é imutável e eterno.
E, enquanto você reflete assim,
submete-se, a si mesma, ao funcionamento do efêmero, ou seja, a esse saco.
Você quer continuar um saco, enquanto
sua natureza e sua essência são Absolutas e bem mais amplas do que o que você
crê, do que o que você vive, do que o que você experimenta?
Você deve superar essa dualidade.
Nenhuma solução aportada à sua
problemática permitirá a você ser completa, porque você continuará incompleta
enquanto você mesma coloca-se na incompletude.
Se você apreende isso, se adere a
isso, sem fugir do que quer que seja, então, tudo lhe aparecerá claramente.
Mas, enquanto não estiver nesse ponto
de vista, você continuará perturbada e no problema.
Não existe qualquer solução no
efêmero, na experiência de sua vida (como de qualquer vida).
O ego vai satisfazer-se em dizer que
ele paga um carma.
Mas o carma não existe, exceto para a
pessoa, não para o que você É.
E você não É uma pessoa.
Você não É, mesmo, um indivíduo.
Saia desse jogo.
Ir além não é, unicamente, superar
uma situação, ainda menos ali aportar uma solução: é ver claramente as coisas.
Enquanto você está identificada ao
que quer que seja do que você vive – desse corpo, desses pensamentos – nenhuma
solução pode ser duradoura e eficaz.
São apenas curativos que a fazem girar
em círculo, como toda vida que não aceita fazer a experiência do Eu Sou.
Mas quem diz Eu?
Quem diz Sou?
Enquanto há uma apropriação, no
efêmero, você não encontrará, jamais, a Paz definitiva.
Cabe a você saber o que você quer.
Responder a um problema é enfrentar,
novamente, outro problema, na mesma esfera ou em outra esfera.
Assim vai a vida do ser humano que se
fecha, ele mesmo, sempre mais, nessa sequência, sem fim, de ações/reações
efêmeras.
Enquanto você se crê efêmera, você
está submissa às leis do efêmero, nas quais é inscrito o sofrimento.
E você adere ao sofrimento, do mesmo
modo que você adere à alegria.
Qual é seu objetivo?
O que você quer?
Se é encontrar uma solução para um
problema, não é preciso dirigir-se a mim.
A única solução que eu posso dar é
dizer-lhe que você não É o que você crê.
Você não É o que você vive, o que
quer que você viva, o que quer que você tenha vivido.
O que foi vivido, o que é vivido não
concerne ao que você É.
É a ilusão que a faz crer nisso, o
ponto de vista, se prefere.
Enquanto você não sai desse ponto de
vista, ninguém pode, estritamente, nada por você.
Você é vítima de suas crenças.
Você é vítima de sua própria vida, de
suas ilusões, e isso é sem fim, no efêmero.
Só a morte ali põe fim (a morte desse
saco).
Vá bem além de tudo isso, sem
renegar, contudo, o que você vive de difícil, mas você não é o que você vive:
toda a problemática está aí, e em nenhum outro lugar.
Questão: eu desejo aplicar três
conselhos: ficar tranquila, mudar de ponto de vista, refutar o conhecido.
Quais são os bloqueios que me impedem
de realizar isso?
Mas por que você considera que há a realizar?
Nada há a realizar.
O único obstáculo é você mesma, no
funcionamento do efêmero no mental e nos pensamentos.
Enquanto você está na pessoa, enquanto
está identificada (aí também), tudo o que você reivindica não pode aparecer,
porque já está aí e já está Realizado.
Enquanto você crê que há um caminho,
uma etapa, um tempo necessário, de provas ou de etapas a escalar, você se
afasta tanto mais do que procura, porque nada há a procurar.
Há apenas a Ser isso, porque você É
isso.
É sempre a pessoa, o mental ou o
corpo que vai desviá-la disso.
Isso não é algo a procurar, não é um
esforço a fornecer.
Isso já está aí.
Isso sempre esteve aí.
É você que saiu disso.
O Amor está por toda a parte.
Você não pode procurar o que você É,
porque você é Amor.
Portanto, o que você propõe (de ficar
tranquila, de encontrar a Paz), mas já está aí.
Você É tranquila.
Você É a Paz.
Mudar de ponto de vista é aceitar
isso.
Enquanto existe o mínimo interstício
para a crença em si mesma, você não pode superar o efêmero.
O Absoluto já está aí, ele não tem
que ser procurado e, ainda menos, que ser encontrado.
É como se você me dissesse: «eu quero
encontrar o ar».
Mas você está no ar.
Você compreende isso?
Você não pode procurar o que você É
e, ainda menos, encontrar o que você É.
Apenas a refutação de tudo o que é
conhecido, de tudo o que lhe concerne é que pode dar um resultado.
Mas esse resultado não é inscrito em
um tempo distante ou em um espaço separado do que você É, nem em um além, nem
em uma crença qualquer, nem em uma religião, nem em uma técnica, nem em um
exercício.
Passe pela fase, primeiro, do
observador.
Quando você responde: «Eu Sou», quem
observa?
Quem olha?
Quem está por trás do que se joga?
Você ainda está jogando na cena de
teatro.
É preciso, portanto, colocar-se, já,
na poltrona que observa a cena e não jogar a cena e, depois, aí também, sair do
teatro.
Isso não parará a cena – ela
continuará a desenrolar-se, esse corpo continuará a viver – mas você não será
mais afetada, nem incomodada, nem alterada pelo que quer que se desenrole na
cena, porque você não olhará mais essa cena.
Você não estará mais sentada a olhar
o espetáculo, você sairá do teatro e constatará, então, por si mesma, que
jamais houve teatro.
Só o lugar onde você se coloca
determina as condições às quais você adere – as leis físicas –, mas, em caso
algum, a física pode seguir a metafísica.
Não há esforço a fornecer porque,
enquanto você considera que há um esforço, você se coloca, aí também, no
interior do teatro, na cena, você atua e adere a algo, mas a cena de teatro
para, sempre, um dia.
O teatro desaparecerá, de qualquer
modo, a partir do instante em que esse saco de alimento não estiver mais.
É o jogo do mental, o jogo do ego (da
própria pessoa), ao qual você adere, que a impede de ver claramente.
É como se houvesse viseiras que lhe
mostram, unicamente, o que há diante de você e que a impedem, portanto, de sair
do que está à frente, não unicamente para ver o que está nos lados e atrás, mas
para, efetivamente, apreender que nada há a ver.
O Ser está além do ver.
O Absoluto não é um ver.
Ele É o que você É, na Essência, na
Eternidade, quaisquer que sejam as circunstâncias vividas por esse corpo.
Como eu disse: você não é nem a cena
de teatro, nem o ator, nem o espectador, nem o teatro.
Enquanto você não tenha respondido a
essa questão, enquanto não tenha tido o ponto de vista exato disso, bem, o que
você procura não pode ser obtido.
O ponto de vista no qual você se
coloca é aquele da pessoa, aquele de sua vida, mas, tanto para você como para
cada um, enquanto você se define em relação à sua vida, isso concerne apenas à
pessoa, ao efêmero, mas não ao que você É.
Enquanto vocês creem que há que escalar, enquanto creem que há uma progressão,
enquanto creem que há uma procura que é sem fim, vocês se enganam a si mesmos:
tudo já está aí.
É seu ponto de vista que colocou a
distância com a Verdade.
A Verdade não conhece qualquer
distância, qualquer tempo, qualquer espaço.
Quando eu digo: «mudem de ponto de
vista», isso não concerne, é claro, unicamente, à visão.
Mas, bem além, mesmo, da perspectiva,
é a própria consciência que deve desmascarar o jogo da ilusão.
E, se eu posso exprimir-me assim,
acima dessa consciência, o que há?
Há o que eu chamei a-consciência.
Enquanto você não está dissolvida,
enquanto não está morta para si mesma, para suas próprias ilusões, você pode
continuar a procurar, longo tempo, a Paz.
Quando nós dizemos para ficar tranquila, é um engajamento para fazê-los mudar
de ponto de vista.
Enquanto você está identificada ao
seu pequeno eu, às suas pequenas necessidades, às suas pequenas satisfações ou
às suas grandes necessidades e suas grandes satisfações, você não pode
encontrar a Paz, não pode estar tranquila.
É por isso que eu disse (e que
repito): vocês não têm alternativa que não a refutação do conhecido, porque o
Desconhecido não pode ser conhecido, uma vez que ele é o que vocês São.
O ponto de vista deve ali
instalar-se, ou seja, sair do teatro.
Enquanto você não fez a experiência
disso, você está persuadida de ser esse corpo.
Olhe, por exemplo, seus Irmãos e
Irmãs, nossos Irmãos e Irmãs que vivem a experiência de saída do corpo ou a
experiência de morte: eles sabem que não são esse corpo, mesmo se entram nele.
Em contrapartida, eles sabem,
pertinentemente, que é um saco de alimento que está morto, mesmo se é chamada a
vida.
O mundo não existe.
Tudo o que é visto não pode existir,
é uma ilusão.
Enquanto você não aceita esse ponto
de vista, não há solução, porque essa solução, mesmo possivelmente existente, inscrever-se-á
apenas no quadro da ação/reação no próprio efêmero da ilusão.
Questão: quando de uma conversa
anterior, você me disse: deixe esse corpo tranquilo, ele não tem necessidade de
você para viver.
O que eu tenho a ouvir, hoje?
Você deixou esse corpo viver?
Vocês estão, permanentemente, na
resistência.
Essas resistências exprimem-se por
sofrimentos, no saco de alimento ou no saco de pensamentos.
Enquanto há sofrimento, qualquer que
seja, vocês estão no interior dessa ilusão.
Aquele que deixa viver seu corpo –
qualquer que seja o alcance desse corpo ou qualquer que seja a Paz desse corpo
– não é, de modo algum, concernido, uma vez que, você admitirá, você não É esse
corpo.
Quando você morre, ou quanto você
dorme, o que resta de você?
Para além do sonho ou do pesadelo,
onde você está, naquele momento?
O que se torna o mundo?
Ele existe ou não?
O que se tornam seus parentes, sua
família, seus filhos, seu trabalho?
Eles estão presentes em sua
consciência, quando você dorme?
Toda a problemática está aí.
Deixar esse corpo tranquilo não quer
dizer negligenciá-lo ou abandoná-lo, mas não mais resistir porque, a partir do
instante em que vocês não resistem mais, em que vocês não se opõem mais, a
ação/reação não pode mais desencadear-se: o ponto de vista muda, a Paz
instala-se, a tranquilidade está aí.
Então, naquele instante, você
descobre outra coisa que não o Eu Sou, você descobre que É Absoluto e que essa
forma, essa vida vive-se, mas não lhe concerne.
Então, é claro, o ego vai
apropriar-se do que eu disse – se você o compreende, nesse nível – para dizer:
«ah, mas eu tenho obrigações».
Mas as obrigações, elas se completam
por si mesmas.
Eu não falo de obrigações, quaisquer que
sejam, mas de sua consciência: onde ela está?
E, além da consciência, há algo, além
do observador, que sempre esteve aí, que jamais se moveu, que sempre esteve
tranquilo, que sempre esteve na Paz.
É esse ponto de vista no qual é
preciso Estar.
Enquanto ele não está, o efêmero
prossegue seu curso, alterando ou melhorando sua vida e fazendo-a crer que você
ali está submissa, de um modo ou de outro.
Então, é claro, o ego vai crer que
será necessário procurar um conhecimento espiritual, psicológico, um conhecimento
de amanhã.
Enquanto você está nisso, você não
está aqui e agora, você está na projeção, e a projeção mantém a ilusão.
Nenhuma satisfação pode ser
duradoura, na projeção, porque, mesmo se você tivesse todas as facilidades
(materiais e espirituais), mesmo se você conhecesse todos os mistérios do
Universo, o que isso mudaria?
Absolutamente nada, a não ser a
satisfação do ego de crer que ele vai controlar o futuro, sua situação
familiar, social, financeira, afetiva.
Enquanto você joga na cena de teatro, você não pode ter o ponto de vista
daquele que É Absoluto, já, e para quem o teatro não tem necessidade dele.
É o jogo das interações nos corpos
ilusórios – mesmo sutis – que mantém, ele mesmo, a ilusão.
Quando nós lhes dizemos que nada há a
fazer, que não há caminho, que não há evolução, é claro que, para o ego, há, e
isso será, sempre, uma involução, porque é sem fim no efêmero.
Mas esse sem fim do efêmero não
desemboca, jamais, no Absoluto, porque a sucessão de causas é infinita.
Nutra esse saco, contente-o, mas você
não é ele.
Contente-se de observá-lo, de olhá-lo
e, depois, desvie seu olhar.
Então, é claro, o ego vai fazê-la
crer que é a morte, o ego vai fazê-la crer que é o fim.
Sim, é o fim dele.
Mas não é seu fim, ao contrário.
A mudança de olhar, de ponto de vista
é uma consciência mais ampla e, mesmo essa consciência mais ampla é efêmera
porque, senão – se fosse Absoluto – você estaria, permanentemente, no mesmo
estado, sem flutuação, sem movimento (o que não é, é claro, jamais, o caso).
Enquanto há procura de Luz e de Amor,
isso significa que você põe uma distância com a Luz e o Amor e é, portanto, uma
projeção.
Você crê que há algo a procurar, a
melhorar, porque o disseram a você, mas será que você pode prová-lo a si mesma?
Onde está a prova?
Não existe nenhuma.
É uma trapaça, é uma fraude.
Aceite isso, não como uma crença, mas
vivendo-o e a expansão da consciência tornar-se-á supraconsciência e, depois,
a-consciência.
É o momento em que você dorme.
É o momento em que você sabe que você
É e, no entanto, no qual não existe qualquer corpo, qualquer pensamento,
qualquer emoção, qualquer interação, no qual você não está inscrita em qualquer
realidade efêmera.
O Absoluto revela-se, naquele
momento.
Mas, se ele se revela, é claro, isso
quer dizer que ele sempre esteve aí, ele não está em outro lugar, ele não está
amanhã.
É preciso sair do teatro, mas o que
deve sair do teatro?
Não esse corpo, não essa vida, mas o
que você É.
Você É Amor, mas, enquanto você
considera que esse Amor está no exterior, você faz dele uma projeção, um
desejo, e põe uma distância e crê que amanhã será melhor e você continua presa
pelo tempo, pelo espaço, pela localização em um corpo.
Enquanto você está localizada, você
está presa.
Enquanto você crê que há procura,
você está presa.
Enquanto você está ávida de
conhecimento, você está presa porque, na realidade, você conhece o que você É,
uma vez que o próprio sentido dessa palavra é nascer com (aliás, você não pode
nascer sem – reflita).
A essência de seu Ser, a Essência do
que você É é Amor, é Absoluto.
Descobrir o Tudo, se você prefere, é
nada mais ser, aqui, não como uma negação da vida, mas, efetivamente, como uma
mudança de ponto de vista: isso se chama, também, a Humildade e a Simplicidade.
É apreender e ver que você nada é
desse mundo, que você não é desse mundo, que você não está sobre esse mundo.
Não há mundo.
Não há pessoa.
Há apenas crenças, há apenas
projeções, apenas ilusões que se persistem e se mantêm por si mesmas, no âmbito
do efêmero, na ação/reação, do bem e do mal.
O que você É não pode nem nascer, nem
morrer.
O que você É não pode ser afetado
pelo que quer que seja desse mundo.
O que é afetado é o efêmero e,
enquanto você é identificada ao efêmero, você é afetada e, portanto, você
sofre, de uma maneira ou de outra.
Não é questão de colocar um curativo
ou um analgésico onde você sofre.
É preciso mudar de ponto de vista,
que vai mostrar-lhe que, quando o Absoluto revela-se, o sofrimento não existe.
É o saco de alimento, é a química do
corpo que cria o sofrimento, é esse mundo.
Quando você dorme, será que você
sofre, mesmo de uma doença, mesmo de um distúrbio afetivo, mesmo o mais
violento, quando você está acordada?
O enigma está aí: o que você É quando
você dorme?
O que você É quando você morre?
O que você Era antes de nascer?
E eu não falo em termos de futuro ou
de passado, mas, efetivamente, da essência do que você É.
Questão: os ensinamentos convidam-nos
a liberar-se do conhecido, viver o instante presente, tal como ele é e não como
se quereria que ele fosse.
Isso basta para tornar-se o Amor da
Luz Eterna nessa vida?
Se você fosse capaz de mudar o ponto de vista (de não mais ser esse corpo, de
não mais ser esse instante que se desenrola, essa sequência lógica de eventos),
ainda que apenas no que você poderia nomear de um bilionésimo de segundo, é
claro que isso bastaria.
Todo o problema é ligado à
localização da consciência, portada nesse corpo, nesses pensamentos, nessa vida
que você vive, mas, como eu disse, você não é essa vida que você vive, de modo
algum.
A vida está aí, independentemente de
você, independentemente do mundo.
Viver isso é ser Absoluto, isso não é
mais uma crença, é a ausência de localização, é a ausência de identificação, é
não mais jogar o jogo da ação/reação, mas fazer tudo – absolutamente tudo – o
que a vida propõe, com a mesma equanimidade, a mesma Simplicidade e a mesma
Humildade porque, no Absoluto que você É, o Absoluto não pode ser afetado, nem
pela doença, nem pela perda, nem pela falta, nem pela plenitude, uma vez que o
Absoluto é Infinito Eterno, o que não é esse corpo, o que não é essa pessoa, o
que não são suas relações, o que não são seus filhos, nem seus pais, nem aquilo
a que você está apegado.
Aquilo a que você está apegado perde-o
e perdê-lo-á.
Enquanto há apego há localização a
esse corpo, a esse marido, a essa mulher, a esse filho, a essa casa.
Enquanto você não é livre, como você
quer reivindicar a Liberdade?
Como você crê poder ser livre,
estando apegado ao que quer que seja?
O que é a Liberdade?
Enquanto você está nesse saco de
alimento, você é Livre?
Você sabe quem você É?
Quem você Era antes de nascer?
Enquanto você não tem essa resposta,
isso para nada lhe serve.
Todas as outras respostas são caducas
e você gira, e nós todos giramos, enquanto o Absoluto não está revelado.
Enquanto nós aderimos ao conhecido
(de uma maneira como de outra), nós estamos presos, confinados e confinando os
outros em nossas certezas, em nossos apegos, em nossos desejos, em nossas
incompletudes, porque tudo isso é efêmero, e dura apenas o tempo desse saco de
alimento.
O que é importante é o que está
dentro – o que você É –, mas você não É o Templo, você É o que está no Templo.
O Sagrado não é o corpo, mesmo se o
corpo seja sagrado.
O Sagrado é o que é invisível, o
Sagrado é o que é Eterno e Absoluto.
Não se importe com o tempo que passa,
não se importe com a vida e a morte, não se importe com seus prazeres, não se
importe com o que você crê possuir porque, nesse mundo, tudo o que você possui
– sem qualquer exceção – possuirá você.
Enquanto você não se deu,
inteiramente, o Absoluto não pode ser sua Verdade porque, naquele momento, você
está preso por si mesmo.
Não procure, no exterior, um culpado
ou uma causa porque, enquanto joga nisso, você não é o que você É e crê
aproximar-se disso, mas você não se aproximará, jamais.
Nenhum elemento desse mundo, nenhuma
pessoa desse mundo, nenhuma localização nesse mundo, nenhum Amor desse mundo
pode aportar-lhe o que você É, porque tudo o que é visto, projetado, toda
posse, é uma ilusão.
Então, não peça a Liberdade, se você
não é livre.
Vocês jogam um jogo que existe apenas
na projeção.
Aquele que sai do corpo sabe que ele
não é esse corpo.
Aquele que sai dos próprios
pensamentos sabe que ele não é seus pensamentos, e aquele que sai da
consciência sabe que ele não é a consciência.
Não são crenças, uma vez que vocês
podem vivê-lo.
Não há qualquer obstáculo desse
mundo, não há qualquer carma.
As únicas restrições são suas
próprias crenças, nada mais.
Mais do que nunca, é preciso estar
lúcido.
Essa lucidez é um ponto de vista que
nada mais tem a ver com o ponto de vista daquele que é localizado em um corpo,
em uma vida, em uma profissão.
O Amor é Livre, o Amor é Absoluto,
porque é o que vocês São.
Mas não o amor humano, projetado em
uma emoção, qualquer que seja, porque todas as suas emoções fazem apenas
traduzir seus próprios vazios e suas próprias incompetências para ser Absoluto,
porque nada há a preencher, exceto para o efêmero.
A essência é Amor: o que vocês São, o
que nós todos Somos.
Se nós somos isso, então, nada há a
procurar, não há ideal, nada há a idealizar, nada há a crer.
Vocês devem, bem ao contrário,
diminuir, aceitar nada ser, aqui, na consciência que vocês vivem e,
instantaneamente, vocês São o Tudo, Absoluto.
Se a mínima parcela de efêmero
permanece – em seus apegos, em suas posses, na necessidade de pressionar o
mundo, de ali opor-se, de ali agir ou reagir – vocês se inscrevem, por si
mesmos, no sofrimento, no efêmero e na falta.
Ora, vocês São a plenitude do amor.
Vocês São Absoluto.
Os limites e as barreiras vêm apenas
de suas projeções, mesmo as mais felizes.
Enquanto vocês projetam, vocês não
podem ser Absoluto.
Enquanto vocês procuram, vocês não
podem encontrar.
Tudo o que vocês creem encontrar faz
apenas afastá-los, porque o que vocês encontram inscreve-os em uma localização
sobre esse mundo, nesse mundo, e tudo isso é efêmero.
O mundo desaparece, assim que vocês
dormem.
Percebam: vocês correm atrás de
quimeras, vocês procuram uma satisfação imediata ou programada, vocês se atribuem
papéis, profissões, funções.
Mas vocês nada são de tudo isso.
Vocês São Absoluto, Amor.
Questão: há certo tempo, em qualquer
circunstância que, em outros tempos, geraria emoções de todo gênero, a ausência
de emoção deixa-me um pouco perplexa.
Não há passo para o Absoluto.
Contudo, quando as emoções somem, em
um primeiro tempo, isso pode dar-lhe a pensar que há um desinteresse ou algo de
bizarro ou de não habitual.
Isso é, efetivamente, um passo para o
Si que, efetivamente, pode parecer aproximá-la do Absoluto, que já está aí.
A eliminação da localização desse
saco de alimento, como dos sacos de pensamentos, efetivamente, traduz-se pela
rarefação e pelo desaparecimento das emoções, porque a emoção é o que põe em
movimento.
Ora, o Absoluto não é o movimento: ele
é a ausência de movimento, dada a não participação nesse mundo em movimento.
O efêmero é movimento.
O Absoluto é não movimento, porque o
que é o Tudo não pode estar em movimento.
As partes do Tudo podem estar em
movimento.
Assim, portanto, quando as emoções
somem, mesmo se isso possa aparecer como bizarro, ótimo, porque é a prova
indiscutível de que você não participa mais dos movimentos do efêmero.
Eu repito: não é um desinteresse ou
um desengajamento, mas, bem mais, um ponto de vista que muda.
É um grande passo do ponto de vista.
O ponto de vista amplia-se, você não
está mais na cena do teatro, você é, ainda, aquele que pode observar, mas que
não vive o que se vive na cena.
Então, isso é não habitual.
Isso pode traduzir-se, em um primeiro
tempo, como um sentimento de estranheza, mas é normal.
Isso traduz o processo de
desengajamento da ilusão do efêmero, do conjunto dos sacos efêmeros.
A partir desse instante, o observador
revela-se, o que lhe dá a apreender que você continua aí, apesar de não haver
mais emoção.
Quem está aí?
Quem olha?
Quem observa, se não é o que você É,
em Verdade, no Absoluto?
Isso não é, portanto, um passo para o
Absoluto, mas, bem mais, um passo do ponto de vista.
Ao invés de estar ao pé da montanha e
ter uma visão limitada pelas árvores, você afastou-se da montanha e vê a altura
e o topo da montanha.
É uma etapa.
Resta, agora, apreender que não há
etapas.
Lembrem-se das cascas de cebola: as
verdades são camadas empilhadas.
A verdade da primeira camada nada
conhece das camadas que estão acima.
Mas camada a mais extrema contém
todas as outras camadas, mesmo se ela não as veja, mesmo se ela não as sinta.
Assim evolui a consciência na
Supraconsciência nomeada Turiya.
E vem, depois, a equivalência do
sono, ou seja, a não consciência – bem além do Samadhi – que dá a viver o Absoluto.
Do ponto de vista limitado é um
passo, mas, do ponto de vista do Absoluto, isso nada muda, uma vez que isso
sempre esteve aí.
Em resumo, quanto mais vocês penetram
a supraconsciência, mais vocês dormem, menos esse mundo tem peso sobre vocês.
E, como eu o dizia, vocês todos sabem
que, se conseguem dormir, qualquer que seja o problema, ele não existe mais.
Ou, então, não há sono: há pesadelo
ou sonho.
Nem a emoção, nem os pensamentos, nem
o saco de alimento, nem o conhecimento, nem a espiritualidade são de qualquer
utilidade para ser Absoluto.
São armadilhas que os mantêm na
ilusão do efêmero.
Nada do que vocês São é efêmero.
Os jogos de papel mudam,
permanentemente.
Vocês mudam de trabalho como de canal
de televisão, como de olhar, como de profissão.
Mas tudo isso é efêmero porque,
justamente, isso muda.
O Absoluto jamais mudou, e não
mudará, jamais, o que vocês São.
Então, é claro, se vocês têm vontade
de jogar, então, joguem.
Lembrem-se: O Absoluto não é uma
busca, ainda menos, uma etapa.
É um Final.
É o momento em que todo o conhecido
apaga-se.
Não é a morte, mesmo se o ego lhes
diga isso, mesmo se o mental vá secretar a química do medo.
Porque o saco de alimento, como as
emoções, como os pensamentos, têm a lamentável tendência a fazê-los crer que
são verdadeiros.
E vocês ali estão identificados, ali
aderiram, de uma maneira ou de outra.
Não é importante conhecer as maneiras
que conduziram a isso, isso não tem qualquer espécie de importância.
Enquanto vocês estão interessados na
ação/reação, a Ação de Graça não pode ser sua Morada, porque vocês colocaram
sua Morada nesse saco, nesses pensamentos, nessa vida.
Então, vocês vão nutrir-se de pitadas
de Luz, vão criar a evolução, vão criar a melhoria, a busca.
Mas é bobagem.
Isso não tem existência alguma, isso
não existe em outro lugar que não nas projeções, que não na ilusão.
A única questão essencial é: «o que
vocês São?».
E o «vocês São» nada tem a ver com o
que vocês creem ser.
O que quer que vocês vivam é efêmero.
Mesmo a coisa a mais perfeita
desaparecerá, totalmente, com esse corpo.
Então, é claro, vocês aderiram ao
carma.
Mas o carma não concerne ao que vocês
São, ele concerne a outro efêmero que não existe mais, ainda menos que o outro:
as vidas passadas.
Vocês devem escolher: Absoluto ou
efêmero.
Mas não esperem encontrar um
contentamento duradouro no efêmero.
Mesmo o Si não é estável.
É fácil descrever a experiência do
Si, da não separação, do Amor Infinito.
Mas será que isso é Absoluto?
Não, seguramente, porque o que vocês
podem exprimir, com palavras, de suas próprias experiências, de suas próprias
memórias, desaparecerá com o desaparecimento desse saco.
É isso que vocês São?
O que vocês procuram e por que o
procuram?
O que vocês procuram preencher,
tranquilizar, se não é o vazio desse corpo e desses pensamentos que são apenas
projeções, conchas vazias?
E, no entanto, vocês estão dentro: portanto,
vocês não podem sair disso.
É, simplesmente, o ponto de vista que
muda.
A partir daquele momento, tudo irá
muito rápido para vocês.
O princípio da refutação do conhecido
leva-os, se se pode dizê-lo, a serem Absoluto.
Mas, eu repito: refutar não é
rejeitar, é estar consciente.
Deixem esse corpo fazer o que há a
fazer, deixem esse corpo criar seus filhos, deixem esse corpo ir trabalhar.
Vocês nada são de tudo isso.
Façam-no, mas, ali, nada invistam,
senão, vocês nutrirão o ego, vocês nutrirão o efêmero.
Vocês chamam a isso a satisfação e o
bem-estar, mas nenhuma satisfação e nenhum bem-estar é Absoluto, porque
inscrito no efêmero.
Questão: a Onda de Vida começou a
subir e parou.
Você pode orientar-me para que eu
emirja desse caos?
É preciso passar pelo caos.
Enquanto você não morreu, você não
pode encontrar o que você É.
Por que recusar o caos?
Ele está aí, você não É isso.
Nada faça, não lute contra: olhe-o.
Será que você É isso?
Isso prova que você está identificada
a esse caos, mas você não É esse caos.
O caos concerne ao efêmero, quaisquer
que sejam as palavras que ali coloquemos.
O caos traduz apenas o caos do ego, o
caos do corpo, o caos dos pensamentos.
Mas agradeça ao caos, observe-o e, se
você está lúcida e o vê, você sabe, muito bem, que você não É isso.
E, se você pensa sê-lo e vivê-lo, é
que você ali está, ainda, em algum lugar, apegada.
Porque o ser humano crê ser apegado à
sua família, aos seus filhos.
Mas vocês são, igualmente, apegados
aos seus sofrimentos, mesmo se dizem (e, sobretudo, se dizem): «eu não quero
sofrer».
Lembre-se: você não tem que lutar
contra o caos.
Não há solução a aportar ali.
Olhe-o, observe-o, e você constatará
que nada É disso.
Naquele momento, o sofrimento soltar-se-á,
o caos dissolver-se-á por si mesmo, não por qualquer ação, não pela aplicação
de um curativo.
Seja lúcida.
Você disse: você está lúcida, mas, em
algum lugar, ainda, há uma adesão a essas projeções.
Então, é claro, poder-se-ia dizer-lhe
que é ligado ao que você viveu no passado, mas isso não tem qualquer espécie de
importância.
Observe, no instante.
Não procure causas, que podem ser
verdadeiras a um nível da cebola, mas não em outros e, sobretudo, não no
Absoluto.
Olhe o caos.
Você É isso?
De maneira definitiva, não.
É impossível.
Observe, lucidamente, e libere-se
disso, não lutando contra, não ali aportando uma solução (porque você o
reforçaria).
Mas, simplesmente, porque você
exprimiu essa lucidez, você tem essa capacidade real.
Será que o caos está aí quando você
dorme?
É claro que não.
E quando você acorda, ele continua
aí.
Onde ele estava enquanto você não
estava aí?
Reflita.
É muito simples.
Não é um enigma ou uma charada.
O que você tem medo de soltar, se não
é sua pobre pequena pessoa efêmera?
Nenhuma perfeição eterna pode ser
obtida no efêmero.
Você pode ter a ilusão disso, do
mesmo modo que você pode transformar um rosto por uma maquiagem, ou dar a ver,
pelo vestuário: atrair a atenção e o olhar a outro lugar que não sobre a
Verdade, a fim de não ver o que nasceu.
É o mesmo princípio: desengage-se,
refute.
Nenhum caos pode atingir o que você
É, qualquer que seja o grau de sofrimento, qualquer que seja o grau de lucidez.
Tudo isso é apenas uma cena de
teatro.
Você já tem a chance de observá-lo,
de estar lúcido dele, como você diz.
Então, vá mais longe.
Basta não inscrever-se nesse caos,
basta não lutar contra, mas, simples e objetivamente, olhá-lo.
Se você faz isso, então – se posso
dizer – está ganho.
Todo problema vem, em definitivo, do
medo: o medo de perder esse corpo, o medo de sofrer, o medo do abandono.
Mas você não pode abandonar o que
você É, de toda a Eternidade.
Você é Absoluto.
O caos é uma lavagem do efêmero.
Fique tranquila. Deixe agir, mas você
nada É disso.
Aceite-o.
Aceite-o.
Veja-o.
É muito simples.
Mas, se sua lucidez leva-a a querer
agir ou querer reagir, então, você se inscreve, por si mesma, em algo que vai
durar no efêmero, enquanto, se você faz a tentativa de aplicar o que eu disse,
com extrema rapidez, sua lucidez tornar-se-á ainda mais clara.
Você não poderá ser alterada por esse
caos que não lhe concerne, de modo algum.
Nesse gênero de questão que você
coloca, aí também, há etapas, não para o Absoluto, mas etapas de lucidez que
devem ser cruzadas, umas após outras, não lutando, não se opondo, mas,
efetivamente, olhando, não, unicamente, a situação, não, unicamente, o caos,
mas, efetivamente, a si mesma, para além desses sofrimentos, para além, mesmo,
desse caos.
Então, naquele instante, haverá um
instante, detectável entre todos, no qual algo báscula.
Você passa do efêmero – se se pode
dizê-lo – ao Absoluto. Embora não haja passagem, nem basculamento, nem
reversão.
Mas isso a consciência percebe,
claramente.
Mas, aí também, você não é o que se
apercebe claramente disso.
Aí também, é preciso ir além.
Fazer isso, observar isso é não mais
dar peso ao caos, não mais dar atenção ao efêmero, às crenças, às suposições,
mas, efetivamente, aproximar-se da Infinita Presença.
E, aí, o Absoluto está quase aí, para
você.
A busca de perfeição, como a culpa
que você exprime são apenas medos.
Mas você não tem que lutar contra
esses medos.
Mas você não tem que lutar contra
esses medos, há apenas que olhá-los (como para o caos), que ver que isso está
ligado, que isso funciona em sinergia no efêmero, mas não pode, em caso algum,
tocar ou alterar o que você É, em Verdade.
Aceite, portanto, sua imortalidade.
Você não é nem esse corpo, nem o que
você tem vivido, nem suas atividades.
Você é o caos, e é nesse caos
pessoal, individual (que é uma morte mítica e mística), que o Absoluto está aí.
Esse momento de temor, que a faz crer
no fim, é, de fato, apenas a abertura para o Verdadeiro, ou seja, ao Absoluto.
É claro, o corpo, é claro, os
pensamentos vão tudo fazer para evitar-lhe de pensar assim.
Questão: estou pronta para aceitar o
ponto de basculamento para o Absoluto?
Sua questão não quer dizer grande coisa.
Quem coloca a questão?
Não é a vidência, ainda menos uma
autoridade exterior que vai dizer-lhe: "está bem" ou "não está
bem".
Não há que estar pronto para algo que
sempre esteve aí.
Você não tem um traje a por para ir
casar-se.
É preciso aceitar estar despojado,
totalmente nu, no caos, no Abandono o mais total.
Ao contrário, sou eu que lhe pergunto:
"você está pronta?"
Porque, só você tem a resposta.
Como você pode projetar uma resposta
a esperar do exterior?
O que a faz pensar ou crer nisso, se
não são suas próprias indecisões, suas próprias dúvidas?
Toda resposta está em você.
Não há melhor momento do que o
instante presente.
Não há distância, não há busca, não
há trajes a colocar, não há que estar pronto.
É a perspectiva do ponto de vista da
personalidade que vai fazê-la crer que é preciso estar pronto ou não.
Ter-se pronto ou não ter-se pronto:
mas isso nada quer dizer.
Aliás, nada há a dizer.
O que você procura dizer-se a si
mesma?
O que você quer mascarar?
Sobretudo, nada crer.
Não há que estar pronto ou não estar
pronto para algo que sempre esteve aí.
É o ponto de vista da personalidade
que, sempre, através das palavras que você emprega, mostra, mesmo, que você
espera algo ou que espera ou teme algo.
Mas é o mesmo princípio: esperar, temer
ou outro, é apenas a projeção de suas próprias incertezas interiores.
E de qual interior você fala?
E de qual interior eu falo?
Aquele do Si.
É preciso Abandonar o Si para ser
Absoluto, porque o Absoluto já está aí, ele engloba o Si, ele é o Não Si, o Não
Eu, o Não Ser, o Não Parecer.
Ele é o Para Brahman, ou seja, o Tudo, além do Tudo, o Absoluto Último,
Amor.
Como você poderia estar pronta para o
que você já É?
A noção de preparação põe uma
distância, uma separação, mesmo.
Nada há a preparar.
Não há que estar pronto ou não estar
pronto, porque adotar isso é remeter-se a certa forma de linearidade, ao
efêmero, à incompletude.
É uma projeção, aí também.
Não é um casamento, você nada tem a
reencontrar mais que não o que você já é.
Só o ego crê nisso e elabora hipóteses
em cima.
Questão: o que é oportuno que eu ouça
de sua parte?
A primeira resposta é: "nada, absolutamente".
A segunda resposta é: "o que
você espera, o que você espera ouvir?"
Nenhum conhecimento que venha do que
eu poderia dizer-lhe, do que você É permitir-lhe-á Sê-lo e, ainda menos,
tornar-se isso.
É preciso fazer o Silêncio.
Esse Silêncio não é uma imposição que
diz: "eu paro de pensar, eu paro de mover-me".
Mas é o Silêncio do observador.
Quem pensa?
Quem fala?
Quem vive?
Quem tem esse nome que você porta?
Se tudo isso para, então, eu posso
dizer-lhe o oportuno que é parar tudo isso.
O Absoluto, eu repito, não é uma
etapa, nem um dizer (qualquer que seja), uma vez que o Absoluto revela-se,
justamente, a partir do instante em que há Abandono do Si ou Abandono do Eu,
sem sofrimento, sem querer fugir do que quer que seja.
Mas, efetiva e verdadeiramente, o
momento em que o Silêncio faz-se, e no qual nada se diz, no qual nada mais é
oportuno, é o momento da Dissolução, chamado, precedentemente, o caos, na
questão anterior.
Viver o caos é ousar, também,
Abandonara-se, não mais depender do Eu e do Si, tornar-se, realmente,
independente e Livre, quaisquer que sejam as circunstâncias de sua vida.
Nenhum filho, nenhuma regra social,
nenhuma espera desse corpo pode alterar isso.
Em definitivo, e aí também, o "ficar
tranquilo" toma todo o sentido.
Como eu disse, em numerosas reprises,
aquele que olha a cena de teatro não pode pôr-se em pé e perturbar os outros
espectadores.
Ele está em uma poltrona, ele
observa.
Ele está cativo, ele também.
Mas o fato de estar cativo do
observador desemboca na não consciência ou a-consciência.
Mas isso já está aí.
Não existe qualquer distância,
qualquer tempo, qualquer apego que possa frear ou restringir o Absoluto, uma
vez que o Absoluto contém tudo isso.
Questão: como fazer para não mais
intervir na vida corrente?
Mas, justamente, nada há a fazer, e tudo se fará.
Vocês têm tendência a considerar, uns
e outros, que, quando se diz para deixar fazer, para ficar tranquilo, que vocês
vão ficar sentados em uma poltrona e esperar.
Vocês nada compreenderam, mas está muito
bem porque, justamente, nada há a compreender.
Refutar não é renegar: é,
simplesmente, o ponto de vista que muda.
A ação desenrolar-se-á, sempre, o
fazer ocorrerá, mas a consciência não fará.
Vocês observarão o que se faz.
É o ponto de vista que muda.
E vocês percebem, e vocês mantêm uma
visão limitada.
Quando eu lhes digo que esse mundo
não existe, será que isso quer dizer que você vai sair desse mundo assim que
fecha os olhos, ou assim que se põe em uma poltrona?
Mas é claro que não.
Não é necessário negar o que vive
esse saco de alimento: é preciso não implicar-se ali.
É isso, ficar tranquilo.
Isso não quer dizer tornar-se um
legume, isso quer dizer fazer e intervir, mas você não é nem o que faz, nem o
que intervém.
É um problema de posicionamento.
Isso é repetido em numerosas
reprises.
Quando se diz a vocês para nada
fazer, isso não quer dizer permanecer sem nada fazer, sentado em algum lugar,
ou na cama.
É claro que não.
Faça o que há a fazer, responda às
suas obrigações, quer elas sejam leves ou pesadas, mas vocês nada são disso.
É o ego que se apropria disso, em sua
questão.
É o ego que se diz: "mas como eu
posso parar de fazer, meus filhos, minhas obrigações, minha família?".
Ninguém lhe pediu para parar o que
quer que fosse.
É uma mudança de ponto de vista.
Você não é o que faz, você não é o
que intervém.
É o ego que, espontaneamente, quer
limitar de acordo com o que ele percebe, é claro, e que a faz crer que isso não
é possível.
Será que aquele que sai do corpo para
de viver?
Não, ele está bem mais vivo do que
quando ele age.
Do mesmo modo (e eu o repito), nada
há a rejeitar.
Refutar não é rejeitar: é mudar de
olhar, mudar de ponto de vista.
É claro, o que eu digo, para o ego, é
incompreensível, porque o ego não vê e ele tem razão.
Como ele poderia fazer, sem nada
fazer?
Se eu tomei o exemplo, em numerosas
reprises, da cena de teatro, não é por acaso.
Vou retomar outro exemplo: aquele da
corda.
Você entra em uma sala mal iluminada,
seus olhos veem uma corda, mas, como está mal iluminado, você é persuadido de
que é uma serpente, e você tem medo e acende a luz, e você se apercebe de que é
uma corda.
É exatamente o mesmo princípio.
Dito em outros termos, em sua
linguagem corrente, vocês se enganam.
Não há serpente e, no entanto, você
acreditou nisso.
Mas o fato de mudar de iluminação o
faz perceber seu mal-entendido.
É o mesmo princípio para sua vida: ninguém, jamais, pediu para intervir, nem
agir.
Ao contrário, esse saco de alimento
deve viver o que ele tem a viver, leve ou pesado.
Mas não se impliquem, porque não é
vocês.
É o ponto de vista que muda, não é a
ação.
Mas a personalidade, é claro, não vai
compreender isso.
O melhor modo de chegar ali, eu
expliquei, é a refutação.
Refutar não quer dizer nada fazer, é
ter-se tranquilo, é deixar fazer-se.
Esse Fazer não tem necessidade do que
você É.
É toda a diferença.
O ponto de vista, a iluminação, o
olhar: não há serpente, é uma corda, é uma crença e, depois, unicamente depois,
não há mais nem serpente nem corda.
Mas não é porque você vai dizer que
não há serpente e corda que isso será verdadeiro.
É como as camadas da cebola, é
similar.
Será que a camada da cebola que é a
mais próxima do centro conhece a vida do envelope da cebola?
Não.
É similar para você.
Será que o fato de ser Absoluto faz
desaparecer o que quer que seja do que está no interior da cebola?
É claro que não.
Mas a lógica do ego é fazê-lo crer
que sim.
Daí essa questão.
O Absoluto não é aquele que fica em
uma caverna.
O Absoluto pode efetuar não importa o
que em uma forma, mas ele sabe que ele não é essa forma e, no entanto, ele faz.
É uma mudança de ponto de vista, não
de ação.
Não é passar da ação à inação, não é
parar todas as interações, não é matar pai e mãe ou filho.
É outro olhar, uma consciência
expandida.
É passar daquele que é ator de sua
vida para aquele que olha.
É o observador: aí está o Eu Sou.
E, depois, o observador desaparece,
ele também: não há mais localização em um corpo, em uma história.
Mas quem disse que a história devia
parar?
Ninguém, exceto seu ego.
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