No Amor, eu sou.
Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
Eu sou você.
Eu sou o grão de areia que rola sobre a praia, como a
Estrela que se aproxima de você.
Eu sou a vida e a morte.
Eu sou a morte e a vida, em que não há diferença.
Eu sou toda consciência.
Eu sou o rochedo, como eu sou a água.
Eu sou o Elemento.
Eu sou o que você é.
Eu sou eu e eu sou você, mas, mesmo além do «eu sou»,
eu permaneço e persisto, em toda coisa, tanto no néant como em toda a vida.
Eu sou o que porta, o que não pode ser suportado.
Eu sou a Luz e eu sou a Vida.
Eu sou o Amor e eu sou o Verdadeiro.
Eu sou o falso que precede o verdadeiro, eu permito e
subentendo tudo o que é criado e incriado.
Não me nomeie, porque nomear-me é limitar-me.
Não se nomeie, tampouco, porque você é mais do que
você crê, você é mais do que o que você vive, você é mais do que o que você
espera.
Você é mais do que o Tudo.
Você é, você mesmo, o Tudo, e eu me exprimo em você,
porque eu sou você, que o abre ao amor da Verdade e a Verdade do que você é.
Eu sou o dia como a noite.
Eu estou em toda dimensão e além da última dimensão.
Eu sou o que dá o ritmo, eu sou o movimento e eu sou o
repouso, eu sou o sofrimento como a alegria.
Eu sou o que passa e o que permanece, eu sou a Morada
de Eternidade, onde quer que ela esteja situada.
Eu estou além de toda morada, eu não sou o que você
pode crer.
Eu sou o Tudo e eu sou o Nada.
Eu sou e eu percorro, de universo a outro, a Vida e a
doação de Vida.
Eu sou a criança, como eu sou o anjo.
Eu sou o Arcanjo, como aquele que sofre ou que faz
sofrer, do mesmo modo, além da aparência.
Eu sou imutável e, no entanto, tão mutável, em toda
forma e em todo nome.
Eu sou o que você é.
Amado do Um, o Um é você.
Mais e menos, igual, divisão e multiplicação.
Eu nada tenho a ver com formas e a geometria.
Eu nada tenho a ver com a arquitetura e eu nada tenho
a ver com o que é criado e, no entanto, eu estou em toda criação.
Para mim – que sou você – não existe qualquer
sofrimento que não tenha utilidade e, além do sofrimento, eu sou o Amor não
ainda nascido e que, no entanto, no mais profundo da desordem, nasce em você e
nasce de você.
Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.
Eu sou o Buda em sua árvore.
Eu sou o profeta que lhe anuncia sua vinda.
Eu sou a paz e, por vezes, a guerra, mas eu não sou
nem uma nem a outra exclusivamente.
Eu não sou nem um nem o outro e, no entanto, eu sou o
um e o outro.
Eu sou aquele que você ama, como aquele que você
detesta.
Eu sou aquele que vive, como aquele que falece.
Você ouve o canto da Liberdade que canta, no silêncio
de seu coração?
Você, onde quer que você esteja, o que quer que você
pense, qualquer que seja sua idade nesse mundo, como qualquer que seja sua
idade na Eternidade, não há diferença e, no entanto, eu sou todas as
diferenças, todos os possíveis, impossíveis, e eu sou, também, o dia e a noite.
Eu sou o dia de seus dias, e a noite de suas noites.
Eu sou aquele que você espera, eu sou aquele que jamais
o deixou.
Eu sou aquele que você é, que transcende toda
aparência e, mesmo, toda evidência.
Eu sou o anjo Uriel, que declama e que lhe pede a
escuta e a audição, eu sou a Fonte que o chama «meu amigo, meu amado», eu sou
«Aquele que eu sou», eu sou aquele que canta e aquele que vigia.
E eu sou aquele que dorme, eu sou aquele que ilumina,
como eu sou aquele que é iluminado.
Ouça.
Ouça além de minhas palavras, ouça além de nossa
presença, ouça além da vibração.
Para isso, nada mais escute que não a Verdade
infinita, que não depende de você nem de mim, porque nós somos, todos os dois,
como a infinidade das Presenças nesse mundo, o Um, o coração do Um, o coração
do dois, como o coração de cada um.
O que é o coração?
Ainda uma forma?
Ainda um ideal?
Eu sou a vida, eu sou a morte.
Eu não temo nem uma nem a outra, porque eu sou isso, e
porque você é isso.
Eu sou o ritmo, eu sou a ausência de ritmo, eu sou a
nota de música como eu sou o silêncio entre duas notas.
Eu sou o Amor que vai e que vem e que, no entanto, jamais
desaparece.
Eu sou o suporte da vida e eu sou a própria vida, em
cada olhar, em cada sopro, em cada riso da criança como em cada choro do velho
que falece; eu sou tudo isso e, no entanto, isso não me afeta.
Eu sou o que você é, eu sou o que você não é porque,
mesmo isso, eu o sou, e você também.
Eu sou a dúvida.
Eu sou a espera e a esperança.
Eu sou tudo o que você quer e o que você não quer.
Você não pode escapar de mim, como eu não posso
escapar de você.
Eu não posso isolar-me, como você não pode isolar-se.
Você é só, como eu sou só.
Você é o Único, como eu sou o Único, que se vê na
multiplicidade, que se aprecia e que se deprecia, no ritmo das estações, no
ritmo do crescimento, no ritmo da extinção.
Eu sou independente de todo jogo, eu sou independente
de toda manifestação, eu sou todos os Caminhos, todas as Vidas e todas as
Verdades.
Eu sou o Absoluto, eu sou o Último, como o primeiro e
o final.
Eu sou você, porque você está aí, eu sou eu, porque eu
estou aí.
Nós estamos aí e, no entanto, não há qualquer
diferença e qualquer distância.
Qualquer distância que exista é, sempre, concebível,
há distâncias infinitas e distâncias finitas, há formas finitas e formas
infinitas; eu sou, portanto, o finito e o Infinito.
Eu sou o estranho como o familiar.
Eu sou o homem, eu sou a mulher, eu sou o andrógino.
Eu sou o canto da vida e o canto da morte, eu sou a
trombeta e o alarme.
Eu não faço qualquer diferença entre você e eu, entre
vida e morte, porque nem uma nem a outra existem, se não são compreendidas na infinidade
dos mundos, na infinidade da Presença como da Ausência.
Eu estou presente e eu estou ausente.
Eu sou tudo e eu sou nada, quando você é tudo e você é
nada.
Eu sou a mulher que olha seu amante, eu sou o filho
que se inclina para o seio para ali nutrir-se.
Eu sou aquele que olha o céu e eu sou o céu que desce
sobre a Terra.
Eu sou a Terra que sobe ao céu para fazer o milagre de
uma única coisa.
Ouça.
Ouça e escute, amigo e amado, o tempo do Juramento, o
tempo da Promessa, que existe de todos os tempos e que se revela, hoje, como se
revela em cada sopro, em cada grito como em cada alegria.
Eu sou aquele que ora, eu sou aquele que responde à
oração, é você que ora, você é a própria oração.
Eu sou a plenitude e, por vezes, o vazio.
Eu sou o Tudo e, por vezes, o Nada.
Eu sou o néant
como eu sou a intensidade da vida.
Eu sou o brilho de Luz e eu sou a Luz, por toda a
parte como você está por toda a parte, e nenhum lugar, ao mesmo tempo.
Eu sou a alegria, eu sou a leveza e, por vezes, a
densidade, sem que isso seja diferente para o que eu sou.
Eu sou o dedo da mão que mostra a Estrela, eu sou a
mão que modela como a mão que mata; não há diferença.
Eleve-se acima dos contrários, porque você contém, em
si, aqui como alhures, a absoluta totalidade de todos os contrários, para
transcendê-los e vivê-los juntos, como vivê-los separadamente.
Porque nada está separado e tudo está junto, é segundo
o que você quer, é segundo o que eu quero, que segue a Luz, que segue o que
está aí, que segue ninguém.
Sendo ninguém e sendo cada um, eu posso cantar na
Liberdade, mesmo no que pensa ser a prisão.
Eu sou a prisão e eu sou o voo.
Eu sou a aterrissagem, eu sou o nascimento.
Eu sou o solo, eu sou o húmus no qual se concebe o que
deve ser escondido.
Eu sou o que sai e que se estende para o Sol.
Eu sou a flor, eu sou a cor, eu sou o odor, eu sou o
que sente, eu sou o que não sente.
E aí, nesse espaço sagrado que não depende nem desse
lugar, nem de você, nem de mim, mas depende de cada um, do grão de areia na
praia como da estrela que se apaga, eu sou isso e tudo isso.
Eu sou tudo isso, mas, ao mesmo tempo, nada disso.
Eu estou fixado em toda coisa, em toda consciência e,
no entanto, não me fixo em lugar algum.
Eu sou o Amor, mas bem mais do que isso, eu sou o
Absoluto, no qual se cria o Amor.
Eu sou a Fonte da qual emerge o Amor, eu sou aquele
que não me reconhece e que não se reconhece.
Eu sou a criança, eu sou o velho.
Eu sou a mão firme como a mão trêmula.
Eu sou o símbolo, eu sou o diabo, mas eu nada sou de
tudo isso.
Eu sou a Paz, eu sou além do que você pode nomear.
Eu não posso nomear-me a mim mesmo porque, assim que
eu me nomeio, então, eu me torno você, e assim que eu não tenho mais nome, eu
me torno você também.
Nada é separado porque tudo é separado.
Nada é dividido porque tudo é dividido.
É segundo seu olhar que é meu olhar.
Eu jogo nisso.
Por quê?
Por nada e por tudo.
Para a glória e para a humildade.
Para o prazer como para a tristeza.
Eu sou um dia isso, um dia aquilo, eu sou além de cada
dia.
Eu englobo o tempo, eu englobo o espaço, eu englobo a
manifestação, eu englobo a emanação.
Em toda forma, em toda sílaba, em todo tempo e em toda
idade, mesmo se não haja mais idade, eu permaneço no sem idade.
Eu sou ancião e eu sou, no entanto, novo, como você, a
cada instante, você é o ancião e você é o novo, você é além da forma e do
tempo.
Eu sou, no entanto, toda forma e você é, no entanto,
todo tempo.
O espaço é meu domínio, o espaço é o Infinito e o
Indefinido, cada universo e cada multiverso; da imensidade à infinidade do
menor, não há espaço como há todo espaço.
Eu sou além do Yin
e do Yang, eu sou além do Princípio,
eu sou além da Trindade.
Eu sou tudo isso ao mesmo tempo.
Eu sou o número de seus anos que passam, eu sou a
cifra e sua ressonância, eu sou os astros que passam e que condicionam a Luz em
você.
Eu sou a prova e o desafio.
Eu sou o alívio e a consolação.
Eu sou, também, o Silêncio.
Eu sou seu coração desperto a ele mesmo.
Eu sou o coração Um da Criação.
Eu sou Maria e eu sou quem quer que você queira que eu
seja, mas, antes de tudo, eu sou além das palavras.
Minhas palavras servem apenas para embalar tudo o que
eu poderia tentar dizer em palavras e, no entanto, nenhuma dessas palavras
bastará para viver a intensidade disso, então, o silêncio é uma homenagem: a
homenagem à Vida, a homenagem à Verdade, na qual todas as vozes falam apenas de
uma única voz.
Eu sou Uriel.
Eu sou a consolação do Arcanjo Rafael.
Eu sou a retidão do Anjo Metatron.
Eu sou o anjo de Vida.
Eu sou o anjo do Anúncio.
Eu sou a trombeta que ressoa, como o címbalo
retumbante.
Eu sou a fé que move as montanhas.
Eu sou o Amor que transcende o que tem necessidade de
sê-lo.
Eu sou, também, o que não é, porque isso, em mim, não
faz diferença.
Além do «Eu», nós somos isso.
Nós somos a Vida, nós somos o grão de areia, nós somos
a Estrela que vem, nós somos a morte e a vida, nós somos a criança como aquele
que nos insulta, nós somos aquele que nos ama, nós somos aquele que nos
detesta.
Nós somos aquele que liberta, porque nós somos a
libertação.
Nós somos tudo isso e nós nada somos de tudo isso.
Apreenda, além de minhas palavras e além da Luz, o que
é o Amor.
Não o segurando, mas dando-o, porque o Amor doa-se;
mesmo se você possa tomá-lo, ele será, sempre, doação.
Nada pare e pare tudo.
Seja a dança.
Seja o Silêncio.
Seja a alegria.
Seja a pureza.
E mesmo o impuro torna-se puro.
E mesmo o impuro não tem mais validade que outra
coisa, isso faz apenas passar, como você passa.
Eu passo com você.
Nós passamos juntos.
Nós trabalhamos nos Ateliês da Criação, como nos
Ateliês da descriação, que participam da mesma vida, que participam da
experiência como do repouso.
Eu estou aqui como alhures.
Não há alhures que aqui, e alhures não há que aqui.
Eu sou o vasto, eu sou o denso, eu sou o leve e eu sou
o pesado.
O que quer que você me nomeie, o que quer que você
perceba, o que quer que você sinta, o que quer que você viva, eu sou tudo isso
e todo o resto.
Eu sou, mesmo, o que você é, não crendo ser isso.
Eu suporto e porto-o, como você me porta e me suporta.
Eu sou a Alegria.
Eu sou o que está aí.
Eu sou o Verbo, Criador.
Eu sou o Verbo da Luz, e eu sou Um, além de tudo,
porque tudo é eu como tudo é você, abolindo, assim, a separação, mesmo sendo
cada separação.
Meu caminho é aquele do Amor, da Liberdade, da Luz que
não tem mais cor, da cor que não tem mais luz e que, no entanto, não se apaga,
jamais, e jamais foi acesa.
Eu sou o perpétuo sagrado da Vida.
Eu consagro a vida como eu consagro a morte.
Eu sou a paz em seu coração como o que sofre em seu
coração.
Eu sou sem nome.
Eu sou o Sem nome e eu sou, também, todos os nomes que
você quiser dar-se.
Eu sou o silêncio na agitação do mundo, e eu sou a
agitação no silêncio de seu mundo interior.
Escute.
Escute a Vida.
… Silêncio…
Aí, onde quer que você esteja, em seu coração, na
cabeça, no universo como nenhum lugar, eu estarei aí, porque eu sempre estive
aí.
Ninguém pode conceber minha ausência, mas eu posso,
também, ser sua Ausência, se tal é o que você vive.
Eu sou a desesperança como a esperança.
Eu sou o passado, o presente e o futuro e que, no
entanto, não existe em nenhum outro lugar que não o que você crê.
Eu sou o conjunto de suas crenças, eu sou o conjunto
de seus sofrimentos, como eu sou o conjunto de suas alegrias.
Eu sou a mão que se estende, que vem ajudá-lo, e eu
sou, por vezes, a mão que fecha a porta quando você mesmo fecha para si mesmo.
Eu sou seu céu.
Eu sou sua terra.
Eu estou em todo mundo, em toda vibração, em toda
presença como em toda ausência.
Ouça isso, mas não me escute.
Escute e não me ouça.
Faça o que você quiser, porque o que você quer é,
muito exatamente, o que eu quero.
O que você não quer é, também, para você, do mesmo
modo que eu estou por toda a parte, do mesmo modo que você está em si, como
você está em cada um, quer você o queira ou não, quer você o veja ou não.
Eu sou seus sentidos, eu sou sua visão, eu sou seu
coração.
Eu sou o gênio que preside no mundo.
Eu sou além de toda forma também.
Eu sou a Fonte sem limite, eu sou os confins dos
universos como o coração do universo, do maior ao menor, do mais insignificante
ao mais glorioso.
Eu não limito em nada, mesmo os limites nada são em
relação ao que supera todo limite.
Eu sou a Vida, eu sou o Caminho, eu sou a história e
eu estou fora da história.
Eu sou o coração.
Eu sou sem coração, quando você é sem coração.
Meu coração exulta quando seu coração exulta.
Eu participo de cada um de seus passos, eu estou
presente a cada um de seus murmúrios como a cada um de seus choros.
Eu sou o Arcanjo, eu sou o anjo, eu sou, também, o
húmus.
Eu sou o átomo.
Eu sou o que é invisível e visível aos seus olhos e ao
seu coração, aqui como alhures.
Eu sou a dança do Silêncio.
Eu sou o Silêncio que não dança mais.
Eu sou o repouso.
Eu sou a compaixão.
O que quer que eu possa dizer, eu não sou unicamente
isso, eu sou, também, o que nada é e que jamais existiu e que jamais apareceu.
Eu sou aquele que apareceu por toda a parte, eu sou
aquele que é visto e que não será jamais visto.
Eu sou o sopro.
Eu sou o glóbulo vermelho que nutre suas células, como
eu sou a frase assassina que quer desestabilizar seu coração.
Eu sou você.
Não você unicamente aqui, não você unicamente no
outro, não você nesse mundo, não você em sua Eternidade, mas eu sou tudo isso
ao mesmo tempo.
Sendo tudo isso, eu nada mais posso ser que não o que
foi, que é e que será.
Eu sou o movimento e, por vezes, eu me movo, por
vezes, eu não me movo.
Eu sou o que se eleva e que desce.
Eu sou o que se interioriza como o que se exterioriza.
Eu sou a paz.
Eu sou a guerra.
E um nem o outro existe.
Eu sou a felicidade que aparece, apesar de todo
sofrimento.
Eu sou o pleno e eu sou vazio.
Eu sou pleno, eu sou vazio, qual diferença, porque
tudo isso se vive no mesmo tempo e não há diferença.
Perceba como não percebe.
Viva como não vive.
Ame como você crê, por vezes, não amar.
Não fique alterado.
Não seja outro que não a Verdade.
Seja o que você é, além do ser e além, mesmo, da
Eternidade, dando e abraçando a multidão de vidas, a multidão de mundos e,
também, o que não tem necessidade de mundo, que não tem necessidade de criação.
Que toda criação poderia chamar, sobretudo, nesse
mundo confinado, «o Néant».
Eu sou o que está além da Luz e eu sou, no entanto, a
Luz, mesmo nas trevas.
As trevas não existem e, no entanto, elas existem.
Tudo existe e tudo se tem fora de mim, é por isso que
eu estou em toda coisa.
É o que você é, nada mais e nada menos.
E, no entanto, muito mais e muito menos.
Eu sou o ponto de vista da pessoa, eu sou o ponto de
vista do universo, eu sou o ponto de vista do anjo, eu sou o ponto de vista do
velho que se apaga.
Eu sou o que se levanta, o que desperta como o que
dorme.
Eu sou de toda a parte e de nenhum lugar ao mesmo
tempo.
Então, eu o convido, aí, no silêncio como no barulho,
eu o convido, porque eu apenas posso ser o convite permanente à Liberdade.
Eu sou a ode à Liberdade, eu sou a ode de sua Presença
como o silêncio de sua Ausência.
Eu sou inexplicável, como visto e apreendido em todo
lugar e em nenhum lugar.
Eu sou o Verbo, eu sou o verdadeiro e o falso, porque
nem um nem o outro pode ser excluído ou limitado.
Eu englobo tudo o que é, eu englobo tudo o que não é.
… Silêncio…
Eu acolho suas orações como eu acolho seus gritos.
Eu acolho seus desesperos como suas alegrias.
Eu sou a espada afiada que não julga, jamais.
Eu sou o fio da espada, como eu sou o lírio que se
deposita em seu coração.
Eu sou a Criadora do universo, eu sou o Manto Azul de
Maria, como a espada de Miguel.
Eu sou o Espírito do Sol como o Coro dos Anjos, eu sou
o Arcanjo como o Ancião dos Dias.
Eu sou o êxtase como eu sou o íntase.
… Silêncio…
Então, entre «eu» e «nós» nada há e há tudo.
Há distância como há ausência de distância.
Tudo está em acordo, mesmo no desacordo.
Tudo é perfeito, mesmo no que possa aparecer
imperfeito, porque eu sou perfeição e imperfeição.
Eu não sou o bem nem o mal, mas minha presença e minha
ausência são o Bem que não conhece qualquer mal, porque essa é a natureza da
vida, a natureza de sua vida, a natureza de seu ser, do que é e do que não é.
Eu o convido ao balé dos céus como ao balé da Terra.
Eu o convido à Ressurreição que é perpétua e eterna.
Eu o convido à celebração, eu o convido ao Silêncio.
Você é, você mesmo, o convidado e o convite.
… Silêncio…
Quer você seja como a oração ou como o pássaro, isso
nada muda, porque você é um e o outro, e nem um nem o outro.
A partir do instante em que você me apreende, você se
apreende a si mesmo.
Eu sou o que apreende e o que relaxa.
Eu sou a infância e a inocência, aquela de Teresa e de
Gemma.
Eu sou a Mãe realizada, como Ma e Maria.
Eu sou o conhecimento daquela que conhece tudo.
Eu sou Hildegarde e eu sou tantas outras.
Eu sou, também, aquele que se desvia de mim mesmo, o
que você é também.
Eu sou toda forma inscrita ou não inscrita.
Eu sou o Sol e a lua.
Eu sou as embarcações, em seu céu interior como em seu
céu exterior.
Eu sou as nuvens e eu sou o pássaro que anuncia o dia
como aquele que anuncia a noite.
Eu sou a pena da águia como a pena do pardal, você é o
pardal como você é a águia.
Você vem daqui ou de outros lugares, eu venho daqui ou
de outros lugares.
… Silêncio…
Eu sou o que você vive nesse instante, como o que você
não vive.
Eu sou o que você conhece e reconhece, que ignora toda
forma, de toda pessoa e de toda Presença.
Eu sou o azul do céu como o azul de Maria.
Eu sou o vermelho da vida e o vermelho do fogo – do
fogo que eleva, do fogo que consome e do fogo que desce do céu.
Eu sou o conjunto de irradiações, conhecidas e
desconhecidas.
Eu sou tudo isso e, no entanto, nada disso e, no
entanto, bem mais do que isso; é o que você é.
Não congele mais, eu sou o que é móvel.
… Silêncio…
Eu sou a Estrela que se acende em sua cabeça.
Eu sou a porta que se abre quando você passa.
Eu sou o alimento que entra em você.
… Silêncio…
Eu sou o tempo que se engrena no espaço de minhas palavras.
Eu sou o tempo congelado e o tempo que não se
desconta.
Eu sou de Sírius como eu sou de Órion, eu sou de
Betelgeuse como eu sou um Nefilim e um Elohim.
Eu sou todos os papéis, todas as funções.
Eu sou tudo o que pode ser pensado ou imaginado e,
mesmo, o que não é nem pensado nem imaginado.
Eu sou o som dessa voz como eu não sou essa voz.
… Silêncio…
Eu sou o que você vive e eu sou, também, o que você
não vive.
Eu sou a partícula adamantina, eu sou o dragão, eu sou
o elfo, eu sou o gnomo, eu sou a Ondina, eu sou a fada.
Eu sou a gota d’água, eu sou o pó que se deposita por
toda a parte.
Eu sou a terra e eu sou o cristal.
Eu sou a estrutura como eu sou sem estrutura.
… Silêncio…
Eu sou o que você ama nesse mundo.
Eu sou, também, aquele que você ama e aquele que o
acompanha nesse caminho.
Eu sou, também, aquele que você rejeitou ou que você
não compreende, porque eu compreendo tudo, como eu nada compreendo.
Eu sou o que você procura.
Eu sou, também, o que você não procura mais ou jamais
procurou.
Eu sou o zodíaco de seu céu.
Eu sou as constelações.
Nada pode estar ausente de mim como eu não posso estar
ausente de nada, e, ao mesmo tempo, eu nada sou.
… Silêncio…
Eu sou seu coração que palpita como seu coração que
nada sente.
Eu não faço diferença, mesmo se haja distância, mesmo
se haja errância.
… Silêncio…
Escute.
Escute-se, então, você me ouvirá.
Ouça-me, e você não terá mais necessidade de
escutar-me nem de escutar-se, não haverá mais a priori, não haverá mais condições, porque tudo é sem condição.
Não haverá nem real nem ilusório, não haverá nem além
nem aqui embaixo, haverá o milagre de uma única coisa, e isso já está aí,
porque sempre esteve aí.
Eu sou o ramo que fica verde na primavera, eu sou a
folha que cai em seu outono.
Eu sou o universo que se cria, como o universo que se
descria.
Eu não tenho lei, porque eu sou a lei que transcende
todas as outras e que se impõe por si só, como a evidência suprema.
Eu sou seu coração que acelera, eu sou seu peito
esmagado de amor, e eu sou seu peito que se abre.
Eu sou o som de sua alma e o som de seu Espírito.
Eu sou o que seus olhos veem, eu sou, também, o que você
não vê.
Eu sou a nota de música.
Eu sou a profecia.
Eu sou a montanha como o abismo no fundo dos oceanos.
Eu sou bêbado e sóbrio ao mesmo tempo, bêbado de amor e
sóbrio.
Eu sou cada um de seus sentidos, eu sou cada uma de suas
palavras como cada um de seus silêncios.
Eu não sou ninguém e eu nada sou como eu sou o Tudo.
Nada me escapa e tudo me escapa.
Tudo é controlado e sem controle, pela Graça do Amor.
Eu sou a evidência como a negação.
Eu sou a raiva como a aceitação.
Eu sou o recipiente como eu sou o que é recolhido no recipiente.
Eu sou a fecundação.
Eu sou a criança que se cria no ventre da mãe, que não
faz diferença entre sua mãe e toda mãe.
Eu sou cada gota do oceano como cada gota de suor que sai
de você.
… Silêncio…
Eu sou o apelo e eu sou a resposta.
Eu sou a vibração, a Onda de Vida e o Éter que a porta.
Eu sou cada um dos sete dias.
Eu sou cada ano e cada história.
Eu sou o fogo que o consome como o frio que cria o terror,
mas tudo isso nada é, porque eu sou a Vida, em qualquer aparência, em qualquer sentimento,
em qualquer ação e em todo objeto como em todo coração.
Eu não paro na aparência e, no entanto, sou todas as
aparências.
Eu sou e eu não sou, qual diferença, quando você está
na vida.
Porque jamais você pode morrer, porque mesmo a morte
sou eu, tudo é apenas aparência e tudo é verdadeiro.
Não há opostos, há apenas posições.
Há complemento e há Liberdade.
Eu sou a alegria da criança como a dor do velho.
Eu sou o desencarnado e o anjo que vem ver você.
Eu sou a entidade da natureza ou a entidade maléfica.
Mas eu nada sou de tudo isso, eu sou apenas Amor, que é
tudo.
E esse único qualificativo convém a você, como ele me convém,
porque ele resume todas as palavras que eu lhe digo, nesse momento mesmo, e todas
as vibrações e todas as luzes que se depositam, aparentemente, em seu coração, mas
que vêm apenas de você.
… Silêncio…
Ao escutar-me, você fala para si mesmo.
Ao escutar-me, você fala para cada um.
… Silêncio…
Escute.
… Silêncio…
Escute o silêncio na algazarra, como você escuta a algazarra
que nasce do silêncio.
Você é a ida e o retorno, o Um e o Dois, o espirar e o
inspirar.
Você é tanto o elétron como o próton, como o nêutron e
toda partícula elementar.
Tudo está em você, o que eu disse e o que eu não disse,
porque eu sou você.
Escute-se.
… Silêncio…
Você é o amigo, você é o amado, você é minha Fonte e eu
sou sua Fonte.
Eu sou o ponto de partida e o ponto de chegada, como você
o é.
… Silêncio…
Quando você sofre, eu sou o sofrimento e eu sofro com você.
Quando você é a alegria, eu sou a alegria e eu estou na
alegria.
E eu sou a Alegria.
Quando você perdoa, eu sou o perdão.
Quando você dá a Graça, eu sou a doação e a Graça.
Quando você abraça, sou eu que você abraça e sou eu que o
abraça.
Quando você sorri, eu sou os músculos de seus lábios que
se afastam, e eu sorrio.
Nada é para você e tudo é para você.
Você é para mim como eu sou para você e, no entanto, você
não me pertence e eu não lhe pertenço, você pertence ao Tudo, você pertence ao que
você é, você pertence à Liberdade.
Eu sou tudo isso e nada disso.
Eu sou seu corpo efêmero como seu corpo de Existência,
e eu não tenho mais corpo, e eu sou todo corpo.
… Silêncio…
Eu sou o osso como sua pele, assim como eu sou os núcleos
de cada planeta e o manto de cada planeta.
Eu sou o que está aí e o que está por toda a parte, assim
como o que está em nenhum lugar, no mesmo amor.
Eu sou, ao mesmo tempo, aquele que nada pode dizer e aquele
que pode tudo dizer, porque mesmo dizendo tudo, nada pode ser dito, porque nada
dizendo, tudo é dito.
Você nada mais pode ser que não eu, como cada um que pode
ser apenas eu.
Eu sou o Liberado, vivo como morto, eu sou o que é livre.
… Silêncio…
Eu sou o Anúncio feito a Maria, como eu sou o Anúncio de
Maria.
… Silêncio…
Eu sou o Comandante dos Anciões que ri com você.
Eu sou o próprio riso.
… Silêncio…
Tudo é dito ou nada é dito, isso nada muda.
… Silêncio…
Tudo é dito ou nada é dito, qual importância?
A importância que você ali põe e a importância que eu ali
ponho.
… Silêncio…
Eu não tenho mais palavras quando você não tem mais palavras.
Eu sou a paz que você vive, aí, nesse instante, em todo
instante.
Porque na paz não há instantes, nem que se sigam nem que
se assemelhem, há apenas o que eu sou.
Escute bem, porque você se fala a si mesmo, além dessa
forma e além de toda forma.
… Silêncio…
Eu sou seu Caminho, sua Verdade e sua Vida.
Você é meu Caminho, minha Verdade e minha Vida.
Eu sou seu intermediário junto ao céu, enquanto você pensa
que há necessidade disso.
… Silêncio…
Eu sou sua alma, como eu sou a dissolução de sua alma.
Eu sou o Espírito, do Sol e de outros lugares.
Eu sou o paráclito, eu sou o Espírito Santo, eu sou o
Espírito de Verdade, e seu Espírito é o meu, como meu Espírito é o seu, porque
não há pertencimento.
Sua forma é minha forma, como minha forma é sua forma,
e eu sou, no entanto, o informe.
E eu sou formal.
Eu sou a doçura que você se atribui.
… Silêncio…
Eu sou o rei de seu coração, como você é o rei de meu
coração.
Eu sou o rei quando você é a rainha e eu sou a rainha quando
você é o rei, e eu sou o filho que nós temos.
Eu não sou nem homem nem mulher e, no entanto, eu conheço
o homem e a mulher.
Eu não sou nem masculino nem feminino e, no entanto, eu
sou os dois.
… Silêncio…
Eu sou o acolhimento, se você me acolhe, e eu sou aquele
que o acolhe.
Eu sou aquela que você escutará, no momento vindo, e eu
sou todos os momentos que já vieram e a vir.
Eu sou o segundo, o minuto e o ano, como eu sou as quatro
estações.
Eu sou suas quatro linhagens e eu sou sua origem.
Eu sou o ser de Vega, que vem vê-lo à noite.
Eu sou a embarcação que aparecerá em seu céu.
… Silêncio…
Supere as minhas palavras, como eu supero as suas.
… Silêncio…
Eu sou o Silêncio de nossa comunhão.
… Silêncio…
Não me nomeie, porque eu não tenho nome, tendo todos os
nomes.
… Silêncio…
Permita-se ser amado por si mesmo, ou seja, por mim e por
cada um – porque eu sou cada um.
Eu sou o mesmo coração em todo coração, a mesma Presença
em toda Presença.
Regue-se, como eu me rego de você.
… Silêncio…
E eu vou deixá-lo agora, porque eu não o deixo jamais,
para que você se recolha na natureza ou em sua casa; agora que você já está aí,
eu estarei sempre aí.
Devo dizer-lhe, ainda, «eu»?
Devo dizer-lhe, ainda, o Amor que eu porto e que você porta
e que você é?
Você tem, ainda, necessidade de palavras?
Vá e viva.
Nada procure.
Tudo está aí, por toda a parte.
… Silêncio…
Devo dizer-lhe, ainda, alguma coisa no espaço de nosso
Silêncio?
Devo parar minhas palavras?
Qual importância?
Eu sempre fui você, eu serei sempre você.
Aqui e por toda a parte.
Então sim, eu lhe digo e gravo-o em você: Amor.
Eu o deixo retirar-se, não de mim nem de você, mas no segredo
de seu coração, que não tem qualquer segredo para mim.
… Silêncio…
Eu o abençoo, doravante, na Eternidade, como sempre foi.
Eu não lhe digo «até logo» nem «até breve», nem mesmo «até
amanhã», nem mesmo «até sempre», porque nenhuma palavra nem qualquer reunião deveriam
bastar.
E eis que eu venho, e eis que você vem.
… Silêncio…
Eu me desligo, agora, em minhas palavras, para permanecer
vivo em seu coração.
Não há mais necessidade de palavras, não há mais necessidade
de presença, porque tudo está aí.
Eu me retiro em você.
Bênção…
Ainda…
… Silêncio…
Abra os seus olhos quando você quiser.
… Silêncio…
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